O dia que me tornei aquilo que eu mais temia: Um bebedor de cervejas sem álcool

Na semana passada, resolvi experimentar as chamadas cervejas sem álcool. Este mercado, que já existe há algum tempo na Europa e nos Estados Unidos, vem ganhando corpo recentemente no Brasil. Na prática, a questão da nomenclatura “sem álcool”, “não alcoólica” ou “álcool zero” faz pouca diferença em nosso país, uma vez que a legislação vigente estabelece que cervejas com teor alcoólico de até 0,5% podem ser consideradas sem álcool. A primeira cerveja sem álcool produzida no Brasil foi a Kronenbier, em 1991, pela cervejaria Antártica. Em 2006 foi lançado o segundo rótulo em território nacional, a Liber,  pela Ambev. Outras marcas seguiram esta tendência, como a Itaipava,  Nova Schin, Heineken, Budweiser, etc.

Se antes este mercado ficava restrito às grandes cervejarias, nos últimos anos as cervejarias artesanais brasileiras começaram a olhar com mais carinho para o segmento das cervejas sem álcool. Em 2019, a Cervejaria Wals (MG), que foi adquirida pelo grupo AmBev, lançou a Session Citra sem álcool; a Roleta Russa, marca da Cervejaria Invicta (SP), apresentou a sua Easy IPA, com 0,4% de álcool; a Cervejaria Dádiva (SP) lançou a Golden Ale Sem Álcool.  O cervejeiro, Igor Veras (Na Tora/PE), destaca um obstáculo para a produção de cervejas sem álcool pelas microcervejarias. “Basicamente, são dois processos bem trabalhosos que podemos realizar na brassagem: um consiste na remoção do álcool, depois de produzido pela levedura, e outro que trabalha com interrupção da fermentação. Existe também um processo de filtração, que retira o sólido sobrando água e álcool; depois aquece para remover o álcool e mistura novamente com o que foi filtrado. Dá bastante trabalho, exige mais pessoal, equipamento e espaço; acaba sendo difícil para realizar este procedimento nas pequenas cervejarias e também no homebrew, que muitas vezes sofrem com estas limitações”, explicou Igor.

 

A ascensão do Sober Curious

Em janeiro deste ano, a revista Forbes publicou alguns dados sobre o crescimento do mercado de cervejas sem álcool; só nos Estados Unidos, o consumo registrou aumento de 38% em 2020. A Forbes apontou que esta deve ser também uma tendência das cervejarias artesanais, em 2021, nos EUA. O investimento no mercado de cervejas não-alcoólicas vem aumentando porque as questões sobre a saúde das pessoas ganharam o centro do debate no período da pandemia da COVID-19. Além disto, a cerveja sem álcool também pode se ajustar melhor ao nosso dia a dia, sobretudo nestes tempos de horários indefinidos por conta do home office.

A Jornalista Rubi Warrington, autora de Sober Curious – Fonte: www.rubywarrington.com

A matéria também faz referência a um estilo de vida, fundamentado no consumo de bebidas não alcoólicas, chamado “Sober Curious” (curioso sóbrio, em português). Este conceito foi proposto pela jornalista britânica Ruby Warrington em seu livro Sober Curious: The Blissful Sleep, Greater Focus, Limitless Presence, and Deep Connection Awaiting Us All on the Other Side of Alcohol. O  trabalho levanta algumas questões relativas ao consumo de bebidas não alcoólicas, por exemplo, como ser social e fazer conexões sem consumir álcool? Quando curtimos o prazer proporcionado por uma bebida, diz Ruby em seu livro, nós restauramos a nossa integridade e a paz interior sempre antes de beber. “Sober curious significa pensar em mim como uma pessoa sóbria, mas que não tem regras estabelecidas para não beber, pois justamente são essas regras que são feitas para serem quebradas”, argumenta a jornalista, ao longo do livro. “Sempre presumimos que uma pessoa teve problemas com álcool quando sabemos que ela parou de beber, o que nem sempre é verdade”, complementou.

Tá certo… e sobre a degustação?

Antes de começar a descrição das cervejas não alcoólicas que provei, gostaria de que esclarecer que ainda não pretendo me transformar na figura que dá título a este post: Um bebedor de cerveja sem álcool. Entretanto, considero importante experimentar os rótulos que este mercado pode nos entregar. O primeiro da minha linha de cervejas não alcoólicas foi a Heineken 0,0. A visual amarelo-palha e a espuma remetem à da Heineken tradicional. O aroma também é muito parecido, trazendo notas de pães típicas das lager. O sabor estabeleceu talvez a mais importante conexão entre a Heineken tradicional e a zero: Manteve a característica causada pelo efeito do lightstruck, provocado pela incidência de luz sobre a garrafa verde da cerveja, que causa aquele sabor “mofadinho” clássico da Heineken.

A segunda cerveja da degustação foi Golden Ale da Dádiva, que apresenta a graduação de 0,5% e assim pode ser classificada como não alcoólica, segundo a explicação feita no início deste post. Trata-se de uma cerveja bem maltada, com notas intensas de floral tanto no aroma quanto no sabor e baixo amargor (N/A IBU). Por fim, provei a Easy IPA da série Roleta Russa (cervejaria Imigração), que carrega em si várias características típicas do estilo India Pale, como a cor, espuma e aroma. Além disso, o sabor mais cítrico, com leve dulçor e medio amargor (30 IBU). Minha ordem de preferência ficou: Heineken 0,0, Easy IPA e Golden Ale. Estas cervejas podem ser encontradas facilmente em Salvador; a primeira eu comprei no mercado da pracinha, no meu bairro; as outras estão disponíveis nas lojas de cerveja artesanal da cidade, como Cerveja Salvador, Kombita e Vitrine da Cerveja.

ZAPPA NA BAHIA: CONHEÇA O PRIMEIRO RÓTULO BAIANO COM O LUPULO QUE FAZ REFERÊNCIA AO ÍCONE DO ROCK

Nas últimas semanas, ocorreram Brasil afora lançamentos de cervejas feitas com um novo tipo de lúpulo: o Zappa. Este insumo é original do estado do Novo México, nos Estados Unidos. Seu nome é uma homenagem a Frank Zappa, um ícone mundial do Rock, morto em 1993, que deixou extenso e variado legado (Nota: coincidentemente, escrevo este post no dia mundial do Rock :)). Este lúpulo apresenta um perfil sensorial peculiar, chamado por muitos no meio cervejeiro de “selvagem” (daí a conexão com o estilo de Frank Zappa), que traz notas picantes, resinosas e mentoladas; se for usado no dry-hopping, pode imprimir um perfil mais cítrico e tropical, remetendo ao melão, manga, maracujá e côco.

Na Bahia, a primeira cervejaria a fazer uso do Zappa foi a Mindu Bier. No dia 09/07, a Mindu lançou o seu rótulo Brewing Love Project, que integra um projeto idealizado pela Cervejaria Octopus para a promoção do debate sobre os desafios, injustiças e agressões sofridas pelas pessoas LGBTQIA+. Ao lado do Zappa, o blend utilizado nesta cerveja da Mindu contou com os lúpulos Centennial de Moxee e Comet.

“Esta receita surgiu a partir de testes que eu vinha fazendo, no sentido de melhorar outros atributos além do aroma e sabor do lúpulo, como sensação de boca, persistência do aroma e amargor mais fino. A Brewing Love da Mindu é um dos resultados deste meu estudo”, disse o cervejeiro da Mindu, Gustavo Martins. “Quando diminuímos o teor alcóolico, automaticamente, fica mais difícil de solubilizar o lúpulo a ponto de garantir um amargor mais redondo e aroma mais proeminente. Foi aí que entrou o Zappa, com seu perfil de aroma que fugiu um pouco daquele tropical doce; este lúpulo deu um toque tropical que apresenta traços mais cítricos, além de trazer um pouco de menta e umas notas mais picantes”, complementou.

Hora da prova

A cerveja Brewing Love Project da Mindu Bier é uma New England American Pale Ale, que apresenta visual de cor amarelo-palha e certa turbidez. Seu teor alcoólico, conforme Gustavo expôs acima, é relativamente baixo (ABV 5,5%). Seu aroma traz notas proeminentes de melão e côco, com frutas cítricas em segundo plano. Bem cremosa, tem um corpo macio e fácil de beber. No paladar, traz o protagonismo do melão, combinado à notas de menta e picantes, com amargor moderado (30 IBU). “Outro resultado que gostei foi a sensação de boca, combinando este corpo bem macio com alta drinkabilidade”, argumentou Gustavo. Em comparação ao Strata, outra variedade nova de lúpulo americano e que já foi tópico aqui no Blog, notamos a seguinte diferença: Enquanto o Strata proporciona o já conhecido dank, o Zappa traz um perfil mais resinoso.

“Trata- se de uma nova variedade, que é subespécie de um lúpulo selvagem proveniente da região do Novo México, nos Estados Unidos. O Zappa foi desenvolvido pela CLS Farms, que é nossa parceira comercial, junto de uma Fazenda no Novo México e da família do próprio Frank Zappa”, disse Thiago Galbeno, sócio da Hops Company, empresa responsável pela distribuição do Zappa, no Brasil, além de outros lúpulos como o Strata e do Centennial de Moxee. “Ele se diferencia dos demais tipos de lúpulos em alguns aspectos, como sua adaptação às temperaturas mais altas, além do fato de crescer de forma rasteira, e não como uma trepadeira. A partir de um processo de “domesticação”, o Zappa passou a ser cultivado no Vale do Yakima, no Colorado”, finalizou.

Este lançamento da MinduBier está disponível para todo Brasil. Em Salvador, pode ser encontrado em em lojas como Vitrine da Cerveja, Cerveja Salvador, Kombita, além da própria loja da Mindu. Esta cerveja faz parte o evento que acontece até o final deste mês no Empório Alto dos Pinheiros, em São Paulo.

 

 

Desce fácil! Lançamento marca parceria entre cervejaria e loja em Salvador

 MinduBier e Cerveja Salvador lançaram a Easy Going, uma Session IPA que é o primeiro rótulo colaborativo entre a cervejaria e loja de cervejas artesanais, localizada no Rio Vermelho. “A proposta foi criar uma cerveja leve, para ter sempre em nossas torneiras. Aí procurei o Gustavo Martins, da MinduBier, para verificar se os custos faziam sentido e ele me apresentou uma proposta. A ideia era fazer aqui mesmo na Bahia, aí apareceu a opção de parceria com a Cervejaria Potus”, disse Alex Pires, proprietário da loja Cerveja Salvador. “Pensando nos estilos com maior procura nesses primeiros meses que estamos fornecendo Chopp, verifiquei uma preferência por cervejas mais leves; eu sempre comentava com o Gustavo que queria trazer de volta para a loja a Mindu Summer, da MinduBier…. com a evolução das nossas conversas, chegamos a esta Session IPA”, complementou.

Alex (Cerveja Salvador) e Gustavo (MindiBier) na brassagem da Easy Going (Fonte: Cerveja Salvador).

A Easy Going, como sugere o nome, é uma cerveja ideal para beber em cidades de clima quente tipo Salvador! Tem um visual límpido, amarelo claro, boa carbonatação. O aroma traz notas críticas bem presentes; na boca, apresenta corpo baixo, amargor (20 IBU) e álcool (4,5% ABV) bastante moderados, que garantem alta drinkabilidade. “O Gustavo me apresentou duas receitas para fazermos nossa session IPA. Daí escolhi esta, por levar lúpulos que eu gosto mais – Citra, Mosaic, Galaxy e Ekuanot”, revelou Alex. Outro aspecto que chama atenção na Easy Going são as marcantes notas de limão e maracujá no retrogosto.

Este lançamento pode ser encontrado à preços promocionais na loja Cerveja Salvador, tanto em chopp quanto em garrafas. “A Easy Going está sendo bem aceita pelo público. Vendemos mais de 150 Litros só na primeira semana. Com certeza faremos novos rótulos, em um futuro breve”, finalizou Alex.

Do HomeBrew para Ciganagem: Conheça o lançamento da HopDevils

A cervejaria baiana HopDevils lançou neste mês de abril seu primeiro rótulo feito de maneira cigana: a Cali Sunset. A cerveja é uma West Coast IPA, feita na cervejaria Piemonte, que fica em Jacobina-BA, mesma cidade da HopDevils. “A Piemonte já existe há algum tempo, mas produziam basicamente chopp. Aí a fábrica passou a envasar em latas e surgiu a oportunidade de fazer esta ciganagem”, disse o cervejeiro da HopDevils, Pedro Varjão. “Fazer este salto do HomeBrew para cigana aumentou minha preferência pelo envase em latas, uma vez que em casa eu só tenho como envasar em garrafas; pretendo continuar seguindo esta linha de envase nas próximas brassagens”, complementou.

Cali Sunset: Lançamento da cervejaria HopDevils (Jacobina-BA)

“No início da brassagem fiquei um pouco apreensivo, porque no HomeBrew, que já faço há vários anos, eu tenho um controle maior sobre o processo. Na fábrica surgiram algumas dúvidas. Por exemplo, no momento do envase, que é uma etapa crítica, foi preciso adotar alguns protocolos novos, sobretudo para lidar com entrada de oxigênio na lata”, comentou Pedro, a respeito das principais diferenças que percebeu entre Home Brew e ciganagem.

Pedro Varjão: Cervejeiro da HopDevils

A Cali Sunset possui o visual clássico do estilo: acobreado, transparente e límpido. Com espuma cremosa e baixa carbonatação, apresenta aroma com notas cítricas típicas das West Coast. “Eu não sou muito fã de carbonatação alta. Porém, acho que no Brasil, de modo geral, ainda impera aquela cultura de beber cervejas mais carbonatadas, como ocorre com as cervejarias industriais. Eu não aprecio.

Na hora do gole, percebe-se uma combinação interessante entre cítrico e seco, aliada ao amargor moderado (IBU N/A) que escamoteia o seu teor alcoólico relativamente alto (ABV 7.1%), tornando esta cerveja bem relaxante. O blend de lúpulos  foi feito com Cascade, Centennial, Columbus, Ekuanot, além muito Citra e Mosaic (Duplo Dry Hopping com total de 20G/L). “A Cali Sunset é uma forma que eu encontrei de homenagear a costa oeste dos Estados Unidos. O estado da Califórnia é uma referência para mim em termos gerais de American IPA; a Stone (San Diego), a Anchor Brewing (São Franscisco) e a Russian River (Santa Rosa) são exemplos de cervejarias californianas que começaram a aumentar o nível de lupulagem e reduzir o nível de caramelo, ajudando a caracterizar e consolidar o estilo American IPA”, finalizou Pedro.

A Hora do Strata: Saiba mais sobre o lúpulo que se tornou um dos mais apreciados no Brasil

#diáriodaquarentena

Faz um certo tempo que venho trabalhando na análise do lúpulo que mais me impressionou nos últimos meses: o Strata. Este insumo foi desenvolvido no estado americano de Oregon pela Indie Hops, em parceria com a Universidade do Estado de Oregon (Oregon State University – OSU). De modo geral, Strata é uma terminologia em inglês que faz referência às múltiplas camadas que podemos perceber em alguma coisa; na Geologia, por exemplo, refere-se à camada ou séries de camadas encontradas em uma rocha no solo; na Sociologia, serve para definir as castas ou níveis sociais (social strata). Na cultura cervejeira, o nome Strata foi introduzido para vislumbrar as camadas de aroma e sabor que a complexibilidade deste lúpulo pode criar.

Single Hop com Strata da cervejaria 4 Árvores.

Para escrever este post, em meio ao isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19, passei cerca de 9 meses provando e estudando cervejas feitas com Strata. Em março de 2021, realizei uma entrevista com um dos fundadores da Indie Hops, Jim Sollberg, que me revelou outras particularidades deste lúpulo, além de algumas novidades para o Brasil. Foi impossível listar todos os rótulos com Strata que experimentei até o momento; a seguir, destaco algumas destas cervejas, intercaladas com depoimentos dados com exclusividade por Jim Solberg ao Blog Lupulado.

Da esquerda para direita: Jim Solberg, Roger Worthington e Matt Sage, da IndieHops. Criadores do lúpulo Strata. Fonte: IndieHops

Da origem ao lançamento: um hiato de quase dez anos

O surgimento do Strata remonta a 2009. Porém, este lúpulo só chegou ao mercado no final de 2018. No Brasil, a primeira cerveja que provei com Strata foi a Dank Therapy, da cervejaria Bold Brewing, em junho de 2020. Por que tanto tempo se passou entre a primeira safra do lúpulo e seu lançamento oficial?

Dank Therapy, da Bold Brewing: Juicy IPA com blend de Strata, Simcoe, Chinook e Columbus.

“A primeira safra do Strata foi de fato em 2009. Por causa de muitas temporadas que um lúpulo leva para se estabelecer, não tivemos outra colheita até 2012, quando começamos a avaliar o perfil da cerveja e o potencial de mercado do Strata. O resultado positivo foi imediato. Então avançamos para estágios que foram realizados nos viveiros em duas das nossas principais fazendas; isto significa que efetivamente plantamos nestes viveiros em 2013. Como em Oregon não temos colheita no mesmo ano do plantio, então só podemos colher nestes viveiros em 2014. Porém, esta colheita  nos deu lúpulos suficientes para fazer ‘brassagens piloto´ com alguns clientes, durante a primavera e o verão de 2014/15, que causaram novamente uma boa impressão sobre o potencial do Strata. Então decidimos ir logo para o último teste comercial: Plantamos em pequenos campos, que produziram a quantidade necessária de lúpulo para ser processada por nossas maquinas de colheita e secagem em larga escala, além do nosso próprio pellet mill. Plantamos em 2015 para colher em 2016. Isto foi suficiente para vendermos no mercado como uma espécie de ‘teste comercial’; novamente, o feedback foi altamente positivo, então nós decidimos plantar em campos comerciais com cerca de 80 acres, em 2017, e a nossa primeira colheita comercial foi em 2018”, explicou Jim. “O lançamento oficial do Strata foi durante o outono de 2018. O processo leva muito tempo, com certeza, mas é importante avaliar minuciosamente os lúpulos novos para entender suas características sensoriais e peculiaridades do seu cultivo ”, complementou.

Fragments of Time, da cervejaria Dogma: Juicy Double IPA com blend de Citra, Mosaic e Strata

A origem do Strata é bem inusitada. Jim revelou que tudo começou acidentalmente em um pequeno campo de plantação na Universidade do Estado de Oregon. “O Strata é fruto da combinação do lúpulo alemão Perle (mãe) e um pai que ainda desconhecemos. Nós costumamos trabalhar em parceria com Universidade do Estado de Oregon para realizar parte dos processos de criação e reprodução de plantas em nosso programa de desenvolvimento de lúpulo. Em 2009, havia um pequeno campo na OSU, que era usado para pesquisas com o lúpulo Perle. O nosso profissional responsável pela parte de melhoramento de plantas, Shaun Townsend, resolveu colher sementes de Perle abertas naquele campo, que haviam sido polinizadas, para cultiva-las e ver o que poderia ser obtido (neste caso, eles conseguiram obter o Strata). Naquele campo na OSU, existem muitas plantas “macho” experimentais e atualmente nós estamos realizando testes genéticos para saber qual delas polinizou o Strata; por enquanto, dizemos apenas que “foi o cara que chegou primeiro”, explicou o bem-humorado Jim.

Stratify, Juicy IPA Single Hop da cervejaria Croma.

Características sensoriais

Depois da primeira prova, percebi que outras cervejarias do Brasil começaram a utilizar o Strata nas suas brassagens, seja em um blend com outros lúpulos, a exemplo da já citada Dank Therapy e da Fragments of Time (cervejaria Dogma), ou em cervejas single hop, como a Stratify, da Croma, e a Strata, da cervejaria 4 Árvores. Dentre as principais características sensoriais do Strata, na minha experiência sobressaiu o aroma proeminente de frutas cítricas, especialmente maracujá, e o intenso perfil dank; evidentemente, a depender do estilo e de adjuntos utilizados na produção da cerveja, estes aspectos podem variar em maior ou menor grau. Para Jim Solberg, os principais aspectos sensoriais do Strata são “ uma deliciosa combinação de aromas e sabores frutados, que resultam nestas notas de maracujá que você percebeu, mas também inserem algo interessante de morango, combinados ao aroma doce e frutado de cannabis. Um de nossos clientes chama isto de rock concert cannabis, nós achamos uma ótima descrição! Serve bem para combinar o perfil frutado ao final limpo proporcionado no paladar. Isto é tão importante quanto o aspecto suave desses aromas e sabores do lúpulo. Eu acho que este é um fator um pouco oculto, mas quando você tem sabores e aromas que são mais suaves, em vez de intensos, você consegue algo que as pessoas definitivamente amam”.

Ostara da 4 Árvores: Uma American Pale Ale com os lúpulos Bravo e Strata.

Disponibilidade no Brasil e próximos lançamentos

Durante a nossa conversa, Jim falou também sobre a aceitação e distribuição do lúpulo Strata no Brasil. “Estamos muito felizes em saber que Strata foi bem recebido no Brasil, não somente porque isto expande nossos negócios, mas porque mostra que a cultura da cerveja artesanal está viva e funcionando no Brasil, e também se espalhando pelo mundo. Para atingir estes mercados em crescimento, nós da Indie Hops trabalhamos com distribuidores locais, que conhecem cada contexto e assim tornam-se aptos a representar da melhor maneira a qualidade dos nossos lúpulos, como o Strata”.

Double Vulture #1 da Cervejaria Abutres: Double NE IPA com blend de Strata, Bravo Gem e Amarillo

A empresa responsável pela distribuição do Strata no Brasil é HopsCompanyEu conversei com um dos sócios, Thiago Galbeno, que me explicou um pouco mais sobre a disponibilidade do Strata por aqui. “Selecionamos os lotes de Strata em conjunto com a Indie Hops, buscando sempre os lotes de maior destaque sensorial. O lúpulo viaja dos EUA até o Brasil em cadeia refrigerada. Por aqui, comercializamos o Strata nas embalagens originais de 5kg da Indie Hops. Enviamos para todo o  Brasil. Temos uma opção de frete aéreo que o cliente pode receber o produto em cerca de 2 horas, a depender do estado”, disse Galbeno.

Thiago Galbeno (esq.) e Eugênio Pretto da HopsCompany. Fonte: Thiago Galbeno

Para saber sobre como adquirir o lúpulo Srata, interessados/as podem contactar Thiago através do email vendas@hopscompany.com ou pelo WhatsApp 51 92000-9247. “No dia 18/03 chegou um lote novinho de Strata direto da IndieHops. Não vendemos apenas os lúpulos, o nosso serviço inclui também assistência para nossa clientela, explicando coisas, dirimindo dúvidas etc.”, complemento Galbeno, que foi cervejeiro na Cervejaria Perro Libre.

Abusto, NE IPA da Cervejaria Tábuas com os lúpulos Strata, Citra, Mosaic e Centennial.

Entretanto, ao acessar a lista de clientes de Strata no site da Hops Company, percebi que não constam cervejarias baianas na relação, isto é, ainda não existem rótulos da Bahia feitos com lúpulo Strata. Porém, o Blog lupulado apurou que cervejaria MinduBier assinou contrato com a HopsCompany para aquisição do Strata. “É verdade. Fechamos contrato com eles para fornecimento do Strata e outros lúpulos bem bacanas da fazenda dos EUA. Acredito que ainda neste ano lançaremos alguma novidade”, confirmou o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins.

Crystal Sequence, da Infected Brewing: blend de Strata, Comet e Columbus.

Para finalizar, Jim Solberg revelou informações sobre o próximos lançamentos da IndieHops. “O Strata estará disponível para as cervejarias por muitos anos. Desenvolver lúpulos de forma profissional é caro e leva tempo, então nós somente lançamos novos lúpulos no mercado quando estamos certos de que eles terão boa aceitação e longa vida comercial. Nós temos lúpulos novos em nossa linha de desenvolvimento atualmente. Lançaremos em breve um lúpulo que estamos chamando de IH033. Este lupulo foi criado especialmente para alimentar o mercado de cervejas lager. Trata-se um de lúpulo genuíno para o estilo, com baixo alfa-acido, bem “clean” para deixar sobressair aromas e sabores da fermentação e do malte, para então finalizar a cerveja com características frutadas e florais do lúpulo, como lascas de limão, grama seca e flores silvestres. O IH033 traz ainda um toque sutil de canela picante no final, que limpa o paladar e convida para mais um gole. Muitas cervejas interessantes utilizam este lúpulo, que deixa o amargor próximo do 20 IBUs e a lupulagem pode ocorrer no whirlpool e no dry hopping. Continua nobre e clássico como os Bavarian lager hops, mas a caraterística spicy/grassy é reduzida e realocada com mais frutado e floral. Nosso parceiro HopsCompany terá este lúpulo em breve para introduzi-lo no Brasil”, concluiu Jim. Algumas cervejas brasileiras feitas com Strata podem ser encontradas nas lojas especializadas de Salvador, como Vitrine da Cerveja, Kombita, Cerveja Salvador, Chopp Shopp, dentre outras.

EverDank, da Cervejaria Everbrew.

 

 

 

 

 

Cervejaria Baiana realiza experiência sensorial com terpenos


#diáriodaquarentena

Um dos meus passatempos preferidos durante o árduo período de isolamento social provocado pela Covid19 consiste na busca por novas experiências sensoriais ligadas à cerveja artesanal. Na última semana, a cervejaria MinduBier promoveu a MinduBier Terpene Experience, uma degustação ajustada para ser feita em casa. A proposta foi combinar Terpenos específicos à uma cerveja escolhida como “base” para a experiência, que foi realizada da seguinte maneira: A MinduBier ofereceu três rótulos para base – MinduStart (lager), MinduIPA (IPA) e CocoBerry (sour) – e disponibilizou um conjunto de 11 Terpenos; uma vez definidos a base e seu respectivo Terpeno, a mistura era preparada e envasada em garrafas de 500ml, que eram entregues em domicílio.

 

Mas…o que são Terpenos?

Terpenos são óleos que produzem os aromas nas plantas – sim, todas as plantam possuem seus Terpenos! Estes aromas possuem funções importantes para as plantas, servindo tanto para afugentar pragas quanto para atrair insetos, que ajudam nos processos de polinização. Neste escopo, podemos afirmar que os Terpenos figuram como uma das características pelas quais concebemos as plantas como seres vivos.

A degustação proporcionada  pela Mindu utilizou Terpenos com perfil canábico; muita gente que acredita que a cannabis é próxima dos lúpulos utilizados nas brassagens, embora do ponto de vista biológico não sejam tão semelhantes assim. Porém, tanto lúpulo quanto cannabis  possuem características similares em termos físicos e químicos, que se tornam mais percepitiveis quando são combinadas , proporcionando experiências sensoriais bem agradáveis (confira uma explicação mais detalhada aqui).

Gustavo Martins, cervejeiro da MinduBier e idealizador do projeto da Terpene Experience, com Terpeno OG Kush e a MinduIPA. (Fonte: Arquivo MinduBier)

“No Brasil, por conta da legislação vigente, esses Terpenos não podem ser obtidos diretamente da cannabis; eles são extraídos de outras plantas, depois isolados para serem combinados em um blend (o chamado “perfil terpênico”), que emula as variedades canábicas existentes no mundo. Basicamente, um Terpeno pode alterar o aroma da cerveja; porém, em algumas vezes, eles modificam também o sabor, a depender do Terpeno utilizado”, disse o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins. “Inclusive, é importante destacar que os aromas da cerveja vindos do lúpulo são resultados dos Terpenos do lúpulo; daí, quando adicionamos esses blends de perfil canábico, eles se misturam aos terpenos dos lúpulos da cerveja. Já o amargor vem de outros óleos, que são os iso-alfa-ácidos e outros compostos, como beta-ácidos e humolinonas”, explicou.

Como foi minha experiência terpênica

Recebi em casa três garrafas de 500ml, cada uma contendo a cerveja MinduBier combinada a um tipo dos três Terpenos que escolhi: Jack Herrer, OG Kush e Lemon Skunk. É importante destacar que a degustação destas misturas foi intercalada com provas da MinduIPA sem adição dos Terpenos – procedimento que chamamos de “controle”. Isto permite que as alterações provocadas pela adição dos Terpenos sejam percebidas e identificadas com mais facilidade. De modo geral, a experiência foi interessante para interagir com as características sensoriais destes óleos e saber como reconhece-las em outras cervejas, que foram feitas originalmente com a adição desses Terpenos.

A MinduIPA é uma American IPA bem lupulada (dry-hop de Amarillo, Cascade, Citra, Mosaic e Galaxy), aroma floral e levemente frutado, com médio amargor (50 IBU). O primeiro dos Terpenos que provei, o Jack Herrer, aumentou o perfil cítrico da cerveja, além de adicionar notas de pinho mais perceptiveis ao lado das florais; o amargor foi mantido, porém apresentou inusitadas notas terrosas.

O segundo Terpeno foi o Lemon Skank, que apresentou perfil menos cítrico que o anterior, porém realçou as notas herbais da cerveja. Já o terceiro Terpeno, OG Kush, potencializou os traços florais e cíticos, deixando a cerveja também mais resinosa. “Sim. Este resinoso que você percebeu veio deste Terpeno”, afirmou Gustavo, que aproveitou para revelar o próximo lançamento da MinduBier: a West Kush “É uma West Coast IPA com adição do Terpeno OG Kush feita diretamente no tanque. Estará disponível agora no final de fevereiro”, finalizou Gustavo.

A Hora do Home Brew: Uma visão da produção caseira na Bahia em 2020 e perspectivas Pós-Pandemia

No último post de 2020, compartilhei aqui no blog minha lista com os 10 melhores rótulos que provei no ano passado. Dentre os critérios que estabeleci para escolha, um deles consistia na obrigatoriedade do registro MAPA, no intuito de estimular a profissionalização das cervejarias. O ano virou e, curiosamente, amigos cervejeiros de panela da Bahia me procuraram logo na primeira semana de 2021, mas não para questionar essa lista dos Top-10 de 2020, e sim para oferecer suas novas produções. Nestes tempos em que os números de casos de Covid19 voltam a subir, muitas pessoas (eu, inclusive) decidiram retomar o isolamento social, enquanto aguardam a liberação da vacina. O Home Brew, portanto, surge como alternativa interessante para atividade nos dias de pandemia, especialmente para quem possui conhecimento, habilidades e o equipamento necessários para fazer cerveja em casa.

Na primeira semana de janeiro, recebi as seguintes cervejas caseiras: Double IPA da Carranca Chapada (Juazeiro-BA/Petrolina-PE); “Apollo” e “Dionysius”, respectivamente uma West Coast IPA e uma Red Double IPA, da Cervejaria HopDevils (Jacobina- BA); a Double IPA “VHS”, a IPA “Flor do Desejo” e a FarmHouse Ale “Christimas Farm”, da Biônica HomeBrew (Salvador-BA), além da Sour IPA com Morango, que celebra o aniversário de três anos desta cervejaria. Todas essas cervejas são baianas, exceto a da Carranca Chapada, que é produzida no Vale do São Francisco; esta região, que abarca os municípios co-irmãos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), apresenta grande conexão com a Bahia especialmente pela maior parte do seu território estar situada no estado. Enquanto provava esses rótulos em casa, aproveitei para conversar com os cervejeiros pela internet. Na pauta, além de passar para eles meu feedback sobre as cervejas, perguntei também sobre a produção e os dilemas que os caseiros vêm enfrentando durante a Pandemia, além das perspectivas para o futuro pós-pandemia. O foco da conversa, portanto, não foi exatamente na degustação dos rótulos em si, mas na produção destas cervejas na quarentena provocada pela Covid19.

HomeBrew na Quarentena

“A maior parte dos colegas que faz cerveja reduziu a produção neste período de quarentena, sobretudo aqueles que objetivam a venda. No meu caso, a pandemia não alterou significativamente minha rotina de produção, pois sempre reservo o sábado para brassagem”, disse o cervejeiro da Carranca Chapada, Diógenes Batista. “A disponibilidade de insumos não foi fator limitante na minha produção. Também não senti falta de produtos quando realizei as compras; no caso de lúpulo nobres, principalmente, Galaxy e Mosaic, percebi sim um aumento significativo nos preços, possivelmente por conta do dólar”, destacou. “Na quarentena, acabei me aventurando em receitas diferentes, como uma Scottish 80 Export e uma Sour com groselhas, estilos que nunca tinha produzido antes. Também fiz meu primeiro hidromel (12,5% ABV) com Manga Preta (Mangifera similis), uma fruta selvagem da Indonésia”, revelou Diógenes.

Provando mais cerveja criada por Diógenes Batista na Carranca Chapada.

O cervejeiro da HopDevils, Pedro Dourado, disse que sua produção durante quarentena está sendo “absolutamente normal, sem nenhuma adversidade em termos de criação; o ponto negativo é a falta de interação com pessoas para troca de experiências e ideias”, o que acontece muito nos eventos, que foram suspensos desde o início da pandemia. “O preço dos insumos inevitavelmente subiu, como quase tudo, mas isto não parou o Home Brew, no entanto. Em termos de escassez, não senti nenhuma diferença”, complementou.

Pedro Dourado, da HopDevils.

Para o cervejeiro da Biônica Home Brew, Tiago Lima, a produção caseira se intensificou durante a quarentena. “No meu caso, também aproveitei para focar bastante na pesquisa e no estudo, inclusive investi em cursos online de cerveja, de design dos rótulos e arte do Home Brew. Fiz também uma transição do meu equipamento, para tentar fazer brassagem maiores ou duplas de uma única vez”. Tiago não relatou dificuldades com relação a escassez de matéria prima e a alta de preços durante a Pandemia. “Pelo contrário, houve até uma pequena baixa no momento de entressafra, como no caso do lúpulo. A alta do malte esta chegando agora”, destacou. O cervejeiro enfatizou que seu foco sempre é naquela receita que está em curso. “Eu gosto de fazer a cerveja, de cozinhar, de testar insumos e técnicas de brassagem, que só desenvolvi por investir num equipamento caseiro próprio. Mas os custos são altos e a produção do Home Brew é bem menor frente as outras cervejarias artesanais. No início, eu fazia para consumo próprio; depois comecei a vender cerveja para os amigos. Aconteceu de me fazerem encomendas também para aniversário, festa particular, casamento … teve até chá de fraldas com lote todo exclusivo, sempre para os amigos”.

Tiago Lima, da Biônica HomeBrew

Perspectivas pós-pandemia 

Desses três cervejeiros caseiros que conversei, apenas Pedro Dourado revelou ter objetivo de sair das panelas em curto prazo e profissionalizar a HopDevils; porém, ele teve que adiar seus planos por causa da pandemia. De outro lado, Diógenes revelou que não tem este tipo de meta com a Carranca Chapada. “Eu nunca vendo minha produção e no momento não tenho pretensão neste sentido. Faço cerveja para meu consumo pessoal e, na maior parte, sempre focando em aprimorar aspectos sensoriais, como aroma e sabor. Também faço cerveja para consumir com meus amigos; neste caso, procuro ajustar principalmente o amargor, considerando a preferência do grupo que irá provar a cerveja”, disse Diógenes. Tiago, por sua vez, admitiu que deseja um dia profissionalizar a Biônica, mas, por ora, não vê esta possibilidade como algo real. “Não consigo parar de fazer cerveja em casa, é uma mistura de vício com prazer.  Faço tudo absolutamente sozinho tudo e não resta tempo para planejar melhor, pois meu outro trabalho (professor) me absorve muito. Mas quero um dia arrumar tempo para essa nova etapa”, ressaltou cervejeiro da Biônica, que já está no Home Brew há seis anos, contando desde sua cervejaria anterior, a Moringa.

“Isto (fazer cerveja em casa) é sempre um movimento crescente, acho que surge cada dia mais gente interessada em aprender; daí fazem uma ou outra brassagem, mas por algum motivo desistem … mas esta experimentação não deixa de ser uma marca clássica do Home Brew, que vai continuar existindo sempre. O Home brew deveria ter mais apoio, precisamos de uma política forte que regulamente e legitime o processo de produção caseira (lembrando que esta política existe, por exemplo, em Minas Gerais, como noticiamos no há dois anos no Blog Lupulado).

Na minha opinião, se nós continuarmos fazendo cerveja em casa, com mais tempo e planejamento, em algum momento a gente poderá criar pequenos núcleos para estimular a produção em conjunto. O cervejeiro caseiro, que pretende botar a mão na massa de verdade, se vê diante de um processo um pouco difícil, que precisa de algum incentivo pois o Home Brew é uma prática cansativa, penosa, daí  você precisa insistir um pouco se quiser continuar”, defendeu Tiago. “Não acredito que fazer cerveja em casa e dividir com amigos próximos seja prejudicial ao mercado local. E também não vejo a indústria e as artesanais como concorrente do home brew. Eu gosto de fazer minha cerveja e gosto também de beber as demais. O lance de profissionalizar ainda me assusta um pouco, acho que tenho menos controle do processo como um todo, então a resistência da panela foi a única opção pra mim. Ou parar, que não é uma opção para mim”, finalizou.

A Prova dos 10: Os melhores rótulos de 2020

#diariodaquarentena

O Blog Lupulado apresenta sua lista das melhores cervejas experimentadas em 2020, um ano difícil para muitas pessoas do meio cervejeiro; eventos foram cancelados, bares e restaurantes fechados, estabelecimentos comerciais operando por delivery ou retirada. Particularmente, a necessidade de me manter por meses em casa fez aumentar meu consumo de cerveja e acabei provando muitos rótulos interessantes; foi difícil escolher (apenas) os 10 melhores rótulos. Neste ano, infelizmente, tive que deixar de fora da minha lista final as cervejas feitas em HomeBrew (quero ressaltar que provei muita coisa boa de amigos e amigas que fazem cervejeira caseira);. porém,  optei por contemplar na minha lista apenas cervejas com registro, buscando estimular a profissionalização do meio e também por reconhecimento às cervejarias que correram atrás do MAPA.

É importante destacar mais critérios que foram adotados para eleger os melhores rótulos de 2020. Primeiro, considerei apenas cervejas efetivamente provadas neste ano; ela pode até ter sido concebida em 2019, 2018, ou outro ano, porém a minha primeira degustação deve ter ocorrido obrigatoriamente em 2020. Outros critérios observados são a “inovação”, isto é, os aspectos acrescentados pelo rótulo às características típicas do estilo, e “originalidade”, aquilo que pode ser considerado o diferencial da cerveja. O último aspecto considerado nesta análise é mais subjetivo, partindo do meu gosto pessoal, que envolve experiências prévias e minha preferência por determinados estilos. Cabe destacar também que lista abaixo não traduz uma espécie de ranking, ou seja, elencando da melhor à pior cerveja; meu intuito é apenas apontar os dez melhores rótulos que provei em 2020, sem qualquer tipo de ordenação entre eles.

As 10 melhores cervejas experimentadas em 2020:

Entomology (Dádiva e Quatro graus). American Oat Strong Ale com 9,5% de álcool. Espuma fina, coloração dourada e turva, por causa da adição de aveia. Notas herbais e coco no aroma; na boca um corpo alto com certa viscosidade licorosidade. Uma cerva de alta complexidade, que se destacou entre as outras que provei em 2020!

Comfort Triple Cream IPA (Quatro Graus): Experimentei logo no início do ano, em Janeiro, aqui em Salvador. Pude degustar outras vezes em minhas férias de verão e no carnaval no Rio. Confira a resenha no Blog.

Mindu Klooster (MinduBier): Belgian Tripel da cervejaria baiana MinduBier, que arrebentou no critério “inovação” ao acrescentar aromas e sabores incríveis de amendoim e paçoca. Confira a resenha no Blog.

Rainha da Cevada Preta com Hortelã (Calundu): Outra cerveja feita na Bahia, trata-se de uma Dry-Stout com alta drinkabilidade, que apresenta uma nota de menta muito bem inserida ao final do gole, tornando-a especial entre outras do estilo. Confira a resenha no Blog.

Dank Therapy, da cervejaria Bold.

Dank Theraphy (Bold): No auge do isolamento social, em meio ao fechamento de 14 dias do comércio no meu bairro em Salvador, encontrei esta cerveja maravilhosa para celebrar meu aniversário em 24 de junho; foram 5 litros degustados sozinho em casa. É uma double NE IPA com perfil Dank e notas de frutas amarelas, características proporcionadas pela inserção de um lúpulo novo, que se tornaria um dos “queridinhos” de 2020: o Strata.

Oxford, double IPA da cervejaria Proa

Moon Waves (Moondri): O IPA Day da Kombita de 2020 foi online, mas trouxe esta IPA maravilhosa do Paraná. American com amargor na medida, aromas e sabores cítricos, com notas bem originais, que remetem à casa de limão.

Oxford (Proa): Me interessei quando vi esta cerveja da Proa em um app para delivery. Ao buscar informações sobre este rótulo no Untappd, vi que era edição limitada e não estava mais em produção. Garanti logo minha prova e fui feliz: Double IPA muito fácil de beber, cremosa, seca, com notas de pinho e caramelo!

IPA Bahia da Cervejaria NordHaus, em Juazeiro-BA.

IPA Bahia (Nordhaus): Nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia, funciona o brewpub desta cervejaria, que já foi pauta aqui no Blog. A IPA Bahia tem como protagonista o cacau, seguido com notas de caramelo que fazem certa referência à escola inglesa.

Yellow Cab (Croma): Juicy IPA com aroma  de frutas amarelas, especialmente maracujá e melão, com um toque de aveia. Corpo sedoso, amargor no ponto e levemente licorosa.

EverBlend (EverBrew): Esta NEIPA traz aromas e sabores compilados de três outras cervejas do mesmo estilo lançadas pela cervejaria: EverMaine, EverMass e Evermont. O resultado é um cerveja de corpo aveludado, alto amargor e aroma intenso de frutas amarelas.

 

PROSPERANDO NA PANDEMIA: REFERÊNCIA EM E-COMMERCE NA CAPITAL, CERVEJA SALVADOR INAUGURA SUA LOJA FÍSICA

#diáriodaquarentena

Uma tendência durante a pandemia da Covid19 foi o crescimento do e-commerce, visto que estabelecimentos comerciais ficaram impedidos de receber clientes para evitar aglomerações e, consequente, a transmissão do novo coronavírus. Para seguir determinações de autoridades sanitárias, bares, lojas, restaurantes etc. se viram forçados a realizar vendas online e por retirada (take way), além de implementar e/ou ampliar serviços de delivery. Curiosamente, a loja virtual de cervejas artesanais, Cerveja Salvador, seguiu sentido oposto e inaugurou nesta semana sua loja física, que fica na Av. Juracy Marques Júnior (conhecida como Rua do Canal), 504, no Rio Vermelho, na capital da Bahia.

A loja fisica Cerveja Salvador abre as portas para o público.

“Meu principal motivador para montar a loja física foi a falta de espaço que eu tinha em casa. Desde antes da pandemia eu já estava procurando um local que se encaixasse no meu orçamento para montar um centro de distribuição, mas sem ainda pensar exatamente em ser uma loja física. Eu já alimentava há algum tempo a ideia de ter um centro de distribuição, pois sempre usei o espaço de casa para meu negócio. Eu considerava que em algum momento ia precisar sair de lá para um local onde pudesse armazenar as cervejas, além de embalar e despachar as entregas, sem esquecer a atualização do site”, disse o diretor comercial da Cerveja Salvador, Alex Pires. “Muita gente também me perguntava pelo WhatsApp se eu tinha uma loja física da Cerveja Salvador; apesar de fazermos entregas grátis e às vezes até no mesmo dia, temos clientes que já disseram gostar de visitar a loja para escolher pessoalmente a cerveja, conversar e tirar duvidas sobre rótulos etc.”, complementou.

Alex Pires, gerente comercial da Loja Cerveja Salvador

“Com a Pandemia, aumentou em quase 200% o fluxo no site Cerveja Salvador, o que consequentemente fez crescer a necessidade de ter um estoque maior, tornando impraticável continuar usando meu espaço em casa. Eu já estava atrás de um local para usar como centro de distribuição e nas minhas buscas eu acabei achando este ponto, que é bem grande e com um custo menor do que outros locais com dimensões mais reduzidas. Além de instalar uma câmara fria, aqui eu poso também ter mais geladeiras e prateleiras, colocar um balcão com cadeira para clientes degustarem cervejas… isto me me motivou para criar a loja física Cerveja Salvador”, explicou Alex, que aproveitou para lembrar que os descontos e vantagens dos sócios do Clube Cerveja Salvador também valem na loja física.

Parafraseando a linguagem do futebol, podemos dizer que Alex “joga nas 11” no time da Cerveja Salvador: Ele quem seleciona e encomenda os rótulos, cuida do estoque, faz o atendimento aos clientes e até as entregas em domicílio, além de ter programado a primeira versão do site da loja. “O negócio online te da uma flexibilidade que na loja física você não tem. Eu tenho três anos de loja virtual e nunca deixei de viajar, de curtir o final de semana. O site trabalha 24 horas por dia para mim fazendo o serviço de vendas, o que me dá flexibilidade de cuidar de outras coisas da minha rotina. A minha ideia era continuar fazendo na loja o que eu fazia online, de casa,. Transferi toda minha estação de trabalho para cá, além de contratar um colaborador para me ajudar com as entregas e embalagens”, explicou Alex, que é formado em “Sistemas para Internet” e “Ciência e Tecnologia” pela UFBA.

Alex mostra a câmera fria da Loja Cerveja Salvador.

Cerveja Salvador completa três anos de funcionamento em 07 de janeiro do ano que vem. Neste mês de novembro, a loja atinge a marca de 5 mil entregas realizadas; no começo, atendendo apenas Salvador e região metropolitana; hoje, enviando para todo o Brasil. A loja física Cerveja Salvador funciona no endereço supra citado de segunda a sexta, das 9h às 18h. Na loja, clientes podem encontrar até 140 rótulos de cerca de 30 cervejarias diferentes. “No momento, estamos trabalhando apenas com garrafas e latas em horário comercial; quem sabe, no futuro, instalamos alguma torneira para servir chope também”, finalizou.

 

DOSE DUPLA DE CALUNDU: CERVEJARIA CIGANA LANÇA RAINHA DA CEVADA PRETA

A cervejaria baiana Calundu lançou dois rótulos para celebrar seu primeiro aniversário, comemorado no último dia 14 de setembro. Partindo de uma mesma base para o estilo Dry Stout, os cervejeiros utilizaram dois adjuntos, café e hortelã, para conceber duas cervejas distintas com o nome Rainha da Cevada Preta. “A nossa ideia original era fazer uma Dry Stout com menta. Entretanto, como eu adoro café, acabei sugerindo usar esta mesma base para fazer dois rótulos do mesmo estilo: Rainha da Cevada Preta com hortelã e a Rainha da Cevada Preta com café”, revelou o cervejeiro da Calundu, Danilo Dias.

“A escolha pelo estilo Dry Stout se deu em função do conceito que traçamos para o início dos trabalhos com a Calundu: Produzir cervejas que são conhecidas como ‘cervejas de entrada’ ou ‘cervejas de passagem’, isto é, cervejas mais leves para auxiliar pessoas que desejam migrar dos rótulos industriais para os artesanais e estilos mais extremos, proporcionando uma transição mais agradável para o paladar”, explicou Danilo. “Pensamos também em oferecer o prazer típico das cervejas artesanais pretas, para quem não está acostumado”, complementou Danilo. O processo de brassagem da Rainha da Cevada Preta foi feito de forma cigana na cervejaria Feyh Bier, em Lauro de Freitas-BA. Além dela, a Calundu possui em seu portfólio as cervejas Xêro-Mole (Summer Ale) e Largudoce (American IPA).

A primeira da prova foi a Rainha da Cevada Preta com café. Via de regra, apresentou a cor preta típica do estilo Dry Stout, com espuma baixa e cremosa. Aroma de malte torrado com notas marcantes de café. Na boca, além da forte presença do café, que permaneceu no retrogosto, entregou um corpo baixo e amargor moderado (38 IBU e 4,5% ABV).

Logo em seguida foi a vez da a Rainha da Cevada Preta com hortelã. No aroma, o café perdeu um pouco do protagonismo ao se misturar com as notas de cacau. Na sensação de boca, o mesmo corpo leve , porém desta vez o sabor de café se misturou às notas de chocolate amargo, tudo combinando muito bem com a menta, comprovando a boa inserção da hortelã feita pelos cervejeiros da Calundu (38 IBU e 4,5% ABV). Como impressão final, ficou a sensação de que a Rainha da Cevada Preta com hortelã trouxe algo diferente do que se vê normalmente em cervejas no estilo Dry Stout.