Cervejaria Baiana realiza experiência sensorial com terpenos


#diáriodaquarentena

Um dos meus passatempos preferidos durante o árduo período de isolamento social provocado pela Covid19 consiste na busca por novas experiências sensoriais ligadas à cerveja artesanal. Na última semana, a cervejaria MinduBier promoveu a MinduBier Terpene Experience, uma degustação ajustada para ser feita em casa. A proposta foi combinar Terpenos específicos à uma cerveja escolhida como “base” para a experiência, que foi realizada da seguinte maneira: A MinduBier ofereceu três rótulos para base – MinduStart (lager), MinduIPA (IPA) e CocoBerry (sour) – e disponibilizou um conjunto de 11 Terpenos; uma vez definidos a base e seu respectivo Terpeno, a mistura era preparada e envasada em garrafas de 500ml, que eram entregues em domicílio.

 

Mas…o que são Terpenos?

Terpenos são óleos que produzem os aromas nas plantas – sim, todas as plantam possuem seus Terpenos! Estes aromas possuem funções importantes para as plantas, servindo tanto para afugentar pragas quanto para atrair insetos, que ajudam nos processos de polinização. Neste escopo, podemos afirmar que os Terpenos figuram como uma das características pelas quais concebemos as plantas como seres vivos.

A degustação proporcionada  pela Mindu utilizou Terpenos com perfil canábico; muita gente que acredita que a cannabis é próxima dos lúpulos utilizados nas brassagens, embora do ponto de vista biológico não sejam tão semelhantes assim. Porém, tanto lúpulo quanto cannabis  possuem características similares em termos físicos e químicos, que se tornam mais percepitiveis quando são combinadas , proporcionando experiências sensoriais bem agradáveis (confira uma explicação mais detalhada aqui).

Gustavo Martins, cervejeiro da MinduBier e idealizador do projeto da Terpene Experience, com Terpeno OG Kush e a MinduIPA. (Fonte: Arquivo MinduBier)

“No Brasil, por conta da legislação vigente, esses Terpenos não podem ser obtidos diretamente da cannabis; eles são extraídos de outras plantas, depois isolados para serem combinados em um blend (o chamado “perfil terpênico”), que emula as variedades canábicas existentes no mundo. Basicamente, um Terpeno pode alterar o aroma da cerveja; porém, em algumas vezes, eles modificam também o sabor, a depender do Terpeno utilizado”, disse o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins. “Inclusive, é importante destacar que os aromas da cerveja vindos do lúpulo são resultados dos Terpenos do lúpulo; daí, quando adicionamos esses blends de perfil canábico, eles se misturam aos terpenos dos lúpulos da cerveja. Já o amargor vem de outros óleos, que são os iso-alfa-ácidos e outros compostos, como beta-ácidos e humolinonas”, explicou.

Como foi minha experiência terpênica

Recebi em casa três garrafas de 500ml, cada uma contendo a cerveja MinduBier combinada a um tipo dos três Terpenos que escolhi: Jack Herrer, OG Kush e Lemon Skunk. É importante destacar que a degustação destas misturas foi intercalada com provas da MinduIPA sem adição dos Terpenos – procedimento que chamamos de “controle”. Isto permite que as alterações provocadas pela adição dos Terpenos sejam percebidas e identificadas com mais facilidade. De modo geral, a experiência foi interessante para interagir com as características sensoriais destes óleos e saber como reconhece-las em outras cervejas, que foram feitas originalmente com a adição desses Terpenos.

A MinduIPA é uma American IPA bem lupulada (dry-hop de Amarillo, Cascade, Citra, Mosaic e Galaxy), aroma floral e levemente frutado, com médio amargor (50 IBU). O primeiro dos Terpenos que provei, o Jack Herrer, aumentou o perfil cítrico da cerveja, além de adicionar notas de pinho mais perceptiveis ao lado das florais; o amargor foi mantido, porém apresentou inusitadas notas terrosas.

O segundo Terpeno foi o Lemon Skank, que apresentou perfil menos cítrico que o anterior, porém realçou as notas herbais da cerveja. Já o terceiro Terpeno, OG Kush, potencializou os traços florais e cíticos, deixando a cerveja também mais resinosa. “Sim. Este resinoso que você percebeu veio deste Terpeno”, afirmou Gustavo, que aproveitou para revelar o próximo lançamento da MinduBier: a West Kush “É uma West Coast IPA com adição do Terpeno OG Kush feita diretamente no tanque. Estará disponível agora no final de fevereiro”, finalizou Gustavo.

A Prova dos 10: Os melhores rótulos de 2020

#diariodaquarentena

O Blog Lupulado apresenta sua lista das melhores cervejas experimentadas em 2020, um ano difícil para muitas pessoas do meio cervejeiro; eventos foram cancelados, bares e restaurantes fechados, estabelecimentos comerciais operando por delivery ou retirada. Particularmente, a necessidade de me manter por meses em casa fez aumentar meu consumo de cerveja e acabei provando muitos rótulos interessantes; foi difícil escolher (apenas) os 10 melhores rótulos. Neste ano, infelizmente, tive que deixar de fora da minha lista final as cervejas feitas em HomeBrew (quero ressaltar que provei muita coisa boa de amigos e amigas que fazem cervejeira caseira);. porém,  optei por contemplar na minha lista apenas cervejas com registro, buscando estimular a profissionalização do meio e também por reconhecimento às cervejarias que correram atrás do MAPA.

É importante destacar mais critérios que foram adotados para eleger os melhores rótulos de 2020. Primeiro, considerei apenas cervejas efetivamente provadas neste ano; ela pode até ter sido concebida em 2019, 2018, ou outro ano, porém a minha primeira degustação deve ter ocorrido obrigatoriamente em 2020. Outros critérios observados são a “inovação”, isto é, os aspectos acrescentados pelo rótulo às características típicas do estilo, e “originalidade”, aquilo que pode ser considerado o diferencial da cerveja. O último aspecto considerado nesta análise é mais subjetivo, partindo do meu gosto pessoal, que envolve experiências prévias e minha preferência por determinados estilos. Cabe destacar também que lista abaixo não traduz uma espécie de ranking, ou seja, elencando da melhor à pior cerveja; meu intuito é apenas apontar os dez melhores rótulos que provei em 2020, sem qualquer tipo de ordenação entre eles.

As 10 melhores cervejas experimentadas em 2020:

Entomology (Dádiva e Quatro graus). American Oat Strong Ale com 9,5% de álcool. Espuma fina, coloração dourada e turva, por causa da adição de aveia. Notas herbais e coco no aroma; na boca um corpo alto com certa viscosidade licorosidade. Uma cerva de alta complexidade, que se destacou entre as outras que provei em 2020!

Comfort Triple Cream IPA (Quatro Graus): Experimentei logo no início do ano, em Janeiro, aqui em Salvador. Pude degustar outras vezes em minhas férias de verão e no carnaval no Rio. Confira a resenha no Blog.

Mindu Klooster (MinduBier): Belgian Tripel da cervejaria baiana MinduBier, que arrebentou no critério “inovação” ao acrescentar aromas e sabores incríveis de amendoim e paçoca. Confira a resenha no Blog.

Rainha da Cevada Preta com Hortelã (Calundu): Outra cerveja feita na Bahia, trata-se de uma Dry-Stout com alta drinkabilidade, que apresenta uma nota de menta muito bem inserida ao final do gole, tornando-a especial entre outras do estilo. Confira a resenha no Blog.

Dank Therapy, da cervejaria Bold.

Dank Theraphy (Bold): No auge do isolamento social, em meio ao fechamento de 14 dias do comércio no meu bairro em Salvador, encontrei esta cerveja maravilhosa para celebrar meu aniversário em 24 de junho; foram 5 litros degustados sozinho em casa. É uma double NE IPA com perfil Dank e notas de frutas amarelas, características proporcionadas pela inserção de um lúpulo novo, que se tornaria um dos “queridinhos” de 2020: o Strata.

Oxford, double IPA da cervejaria Proa

Moon Waves (Moondri): O IPA Day da Kombita de 2020 foi online, mas trouxe esta IPA maravilhosa do Paraná. American com amargor na medida, aromas e sabores cítricos, com notas bem originais, que remetem à casa de limão.

Oxford (Proa): Me interessei quando vi esta cerveja da Proa em um app para delivery. Ao buscar informações sobre este rótulo no Untappd, vi que era edição limitada e não estava mais em produção. Garanti logo minha prova e fui feliz: Double IPA muito fácil de beber, cremosa, seca, com notas de pinho e caramelo!

IPA Bahia da Cervejaria NordHaus, em Juazeiro-BA.

IPA Bahia (Nordhaus): Nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia, funciona o brewpub desta cervejaria, que já foi pauta aqui no Blog. A IPA Bahia tem como protagonista o cacau, seguido com notas de caramelo que fazem certa referência à escola inglesa.

Yellow Cab (Croma): Juicy IPA com aroma  de frutas amarelas, especialmente maracujá e melão, com um toque de aveia. Corpo sedoso, amargor no ponto e levemente licorosa.

EverBlend (EverBrew): Esta NEIPA traz aromas e sabores compilados de três outras cervejas do mesmo estilo lançadas pela cervejaria: EverMaine, EverMass e Evermont. O resultado é um cerveja de corpo aveludado, alto amargor e aroma intenso de frutas amarelas.

 

DOSE DUPLA DE CALUNDU: CERVEJARIA CIGANA LANÇA RAINHA DA CEVADA PRETA

A cervejaria baiana Calundu lançou dois rótulos para celebrar seu primeiro aniversário, comemorado no último dia 14 de setembro. Partindo de uma mesma base para o estilo Dry Stout, os cervejeiros utilizaram dois adjuntos, café e hortelã, para conceber duas cervejas distintas com o nome Rainha da Cevada Preta. “A nossa ideia original era fazer uma Dry Stout com menta. Entretanto, como eu adoro café, acabei sugerindo usar esta mesma base para fazer dois rótulos do mesmo estilo: Rainha da Cevada Preta com hortelã e a Rainha da Cevada Preta com café”, revelou o cervejeiro da Calundu, Danilo Dias.

“A escolha pelo estilo Dry Stout se deu em função do conceito que traçamos para o início dos trabalhos com a Calundu: Produzir cervejas que são conhecidas como ‘cervejas de entrada’ ou ‘cervejas de passagem’, isto é, cervejas mais leves para auxiliar pessoas que desejam migrar dos rótulos industriais para os artesanais e estilos mais extremos, proporcionando uma transição mais agradável para o paladar”, explicou Danilo. “Pensamos também em oferecer o prazer típico das cervejas artesanais pretas, para quem não está acostumado”, complementou Danilo. O processo de brassagem da Rainha da Cevada Preta foi feito de forma cigana na cervejaria Feyh Bier, em Lauro de Freitas-BA. Além dela, a Calundu possui em seu portfólio as cervejas Xêro-Mole (Summer Ale) e Largudoce (American IPA).

A primeira da prova foi a Rainha da Cevada Preta com café. Via de regra, apresentou a cor preta típica do estilo Dry Stout, com espuma baixa e cremosa. Aroma de malte torrado com notas marcantes de café. Na boca, além da forte presença do café, que permaneceu no retrogosto, entregou um corpo baixo e amargor moderado (38 IBU e 4,5% ABV).

Logo em seguida foi a vez da a Rainha da Cevada Preta com hortelã. No aroma, o café perdeu um pouco do protagonismo ao se misturar com as notas de cacau. Na sensação de boca, o mesmo corpo leve , porém desta vez o sabor de café se misturou às notas de chocolate amargo, tudo combinando muito bem com a menta, comprovando a boa inserção da hortelã feita pelos cervejeiros da Calundu (38 IBU e 4,5% ABV). Como impressão final, ficou a sensação de que a Rainha da Cevada Preta com hortelã trouxe algo diferente do que se vê normalmente em cervejas no estilo Dry Stout.

UM MANIFESTO EM FORMA DE CERVEJA

#diáriodaquarentena

A Cervejaria Heilige, de Santa Cruz do Sul – RS, lançou o kit de cervejas SadoMasoQuista para celebrar 10 anos de sua criação. Este projeto apresenta uma face inusitada com nuances de um manifesto, um estilo textual que busca relatar/alertar para problemas e situações correntes (veja o texto completo do manifesto da Heilige no final do post).

De forma criativa, a Heilige procurou elencar nos textos que compõem o manifesto parte dos problemas típicos do processo de fazer cerveja no país, como a incidência de impostos e taxas praticados no meio cervejeiro, que causam aumento de até 60% no preço final do produto, além do alto custo logístico e da burocracia; tudo isto causa desconforto em quem produz cerveja no Brasil, que passa ser concebido de forma irônica como Sadomasoquista. O kit é formado por três cervejas, que são embrulhadas em papel de seda com parte do texto do manifesto da Heilige. Cada rótulo segue um estilo diferente: a SADO é uma Brut Ipa, a MASO é Russian Imperial Stout e a QUISTA é uma Berliner Weiss. Na Bahia, este kit está disponível para Salvador e todo o estado no site Cerveja Salvador.

“Este projeto nasceu em uma manhã de domingo, em novembro de 2019, quando eu participava de um curso de Off-Flavor, em Porto Alegre, junto com um dos fundadores da Heilige, Rodrigo Yung, o cervejeiro Paulo Sarvacinski e a Aline Viecinski, que responde pelo laboratório da fábrica. Comentávamos, na ocasião, que existe muito romantismo quando se pensa em fazer cerveja, mas que por trás também existe um universo de trabalho meio que desconhecido do público. Foi quando surgiu a ideia de comemorar os 10 anos da Cervejaria Heilige para além do lançamento de uma cerveja, mas lançar um manifesto ao mercado cervejeiro. Passamos muita coisa pra chegar até aqui e sabemos que tem mais gente que passa por isto também. Foi nossa maneira de levantar a bandeira e falar ‘estamos juntos’, mesmo nestes tempos de pandemia”, explicou a Sommelière da cervejaria Heilige e uma das idealizadoras do projeto, Juliane Rosa.”A ideia é justamente causar um desafio sensorial que proporcione certa inquietação, fazendo referência aos prazeres e aos incômodos de produzir cerveja no Brasil”, complementou Juliane.

A prova das cervejas começou com um desafio: escolher a ordem dos rótulos para degustação. Normalmente, inicia-se pelo estilo mais leve, seguindo para os mais extremos; porém, a opção feita foi provar seguindo a ordem criada pelos nomes Sado+Maso+Quista. “Esta é a nossa primeira provocação: decidir a ordem para degustação.  A lógica que costumamos seguir é escolher primeiro o estilo mais leve, mas aí propomos uma ordem pelo nome do kit, que não segue esta sequencia ”, disse Juliane. “Nosso cervejeiro Paulo Sarvacinski teve total liberdade de escolha para os estilos. Como se trata de cervejas comemorativas, com edição limitada, a pessoa pode escolher à vontade a sequencia que sentiu mais vontade de fazer”, destacou a Sommelière.

SADO apresentou visual límpido, cor acobreada, espuma cremosa e carbonatação com bolhas finas que fazem referência aos espumantes, como sugere este estilo uma Brut IPA . O aroma entregou em primeiro plano a uva verde, seguidas de notas herbais e de frutas tropicais como abacaxi e maracujá  Muito refrescante, na boca apresentou baixo amargor (28 IBU), corpo médio e teor alcoólico moderado (5,3 ABV).

A MASO apresentou o tradicional visual escuro, fosco, típico do estilo Russian Imperial Stout; baixa formação de espuma e aroma com notas de coco e café torrado. Mesmo licorosa (ABV 11%), com corpo alto e moderadamente amarga (40 IBU), trata-se de uma cerveja bem fácil de beber, que trouxe para a boca notas de madeira, coco e castanha, além de retrogosto adocicado.

Por fim, a Berliner Weiss QUISTA apresentou aromas cítricos, especialmente limão, coloração amarela, espuma cremosa e alta carbonatação. Na boca, proporcionou uma experiência de corpo baixo e muita acidez, com pouco álcool (ABV 3,3%) e amargor (4 IBU).

“Em vez de 4-pack ou 6-pack, pensamos em um kit composto por três cervejas, pois a ideia era ter uma ácida, uma picante e uma extremamente carbonatada. Separadas elas são ótimas e lembram a parte boa do processo, da pessoa faz o que gosta (produzir cerveja) com dedicação e capricho. Juntas, elas impõem um desafio sensorial ao paladar, pois a soma das sensações provocadas por elas causa desconforto, isto é, o cérebro entende o resultado desta operação como uma sensação de incômodo. A proposta é realmente essa – incomodar”, finalizou Juliane.

Confira o texto do manifesto na integra, que vem escrito nas embalagens das cervejas do kit SadoMasoQuista: 

Criar uma marca do zero em qualquer seguimento no Brasil é uma tarefa árdua. As oscilações da economia no mercado brasileiro tornam a tarefa de empreender um desafio enorme.

Em 2015, por meio da pesquisa de Demografia das Empresas o IBGE apresentou que 60% das empresas com pouco mais de 5 anos fecham suas portas. Segundo o instituto das 733,6 mil empresas abertas em 2010, somente 277,2 mil – 37,8% do total sobreviveram até 2015.

Em Janeiro de 2019, o Boa Vista divulgou uma pesquisa apontando que em 2018, 96,5% das empresas do país que entraram em processo de falência eram Pequenas Empresas. Pequenas Empresas que nunca poderão ser grandes, pois acabaram antes.

O cenário da produção de cerveja no Brasil é ainda mais dramático no que concerne os desafios de crescimento. A carga tributária é responsável por até 60% do preço final do produto.
Impostos que incidem sobre a cerveja:

PIS – tabelado por litro/garrafa
Cofins – tabelado por litro/garrafa
IPI – tabelado por litro/garrafa
ICMS – percentual que varia de estado para estado
ICMS-ST (Substituição Tributária) – percentual que varia de estado para estado
Ampara – Fundo de Proteção e Amparo social do RS
IPRJ – imposto de renda para pessoas jurídicas
CSSL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

O ICMS-ST, a chamada Substituição Tributária, no preço de venda, faz com que o mesmo produto tenha tabelas diferentes para cada um dos estados aonde a empresa comercializa a cerveja. Misturando isso a um universo competitivo, em que as grandes redes tem lojas e centros de entregas em vários estados diferentes torna-se uma engenharia e tanto fazer a conta fechar positiva, e ainda permitir a venda para o consumidor.

Seja por Pauta ou Margem de Valor Agregado (MVA) o empresario tem como o maior corrente de mercado as taxas de impostos. Isso acontece pois o produtor é forçado a pagar a tributação pela cadeia inteira, muitos desses impostos são pagos antes mesmo do produto sair da fábrica, ou seja, bem antes da empresa receber pela venda.

Além do vergonhoso custo tributário, não podemos menosprezar o alto custo logístico, intensificado pelas estradas em más condições; além das inúmeras burocracias para registros e liberação de alvarás e a oscilação cambial.

Diante disso, ainda existem poucos fornecedores, custos elevados de equipamentos principalmente comparado a países como EUA e países Europeus onde o fomento dos negócios no segmento recebem uma atenção muito maior. Sem dúvida, a lista é grande.

O resumo desta história é o mesmo para quase todas as cervejarias, trocando apenas alguns personagens. Enfrentar e superar tudo isso é digno de ser chamado de Sadomasoquista, pois apenas gostando de uma dose extra de sofrimento para escolher esse mercado para investir.

É exatamente esse o nome da cerveja, ou melhor das cervejas, que a Cervejaria Heilige produz para celebrar os 10 anos, e sua trajetória de crescimento no mercado Craft. São 3 cervejas: uma ácida, uma picante e uma extremamente carbonatada. Separadas elas são ótimas, e lembram a parte boa de quem faz o que gosta com dedicação e capricho. Juntas elas são um desafio sensorial ao paladar, pois a soma das sensações provocadas pelas 3 causam desconforto. A proposta é realmente essa – Incomodar.

São dez anos de historia da Cervejaria Heilige, de luta constante para levar ao publico um produto de qualidade que justifique passar por todos esses perrengues de quem empreende no Brasil, e a Cervejaria Heilige não quer deixar passar esse momento sem levantar essa bandeira. Não tem romantismo no universo da cerveja. Tem muito esforço e tem historias para contar, e por querer seguir em frente é que esse lançamento vem para desconcertar, tirar do lugar e levantar a discussão.

Com tudo isso a Heilige fez muito nesses 10 anos! Imagina aonde nós, e todas as marcas de cerveja especial, que compõe o mercado nacional de cerveja, vamos chegar se esse cenário for melhor? Seguimos. Vida longa a cerveja especial, vida longa para todos nós para ver o que vem por ai!

QUARENTENA PRODUTIVA: CERVEJARIA MINDUBIER APRESENTA MAIS UM LANÇAMENTO EM JULHO

#diáriodaquarentena atualizado em 23/07 às 20:11

A cervejaria soteropolitana MinduBier lançou ontem a OatBurst, uma NEIPA que carrega em si característica marcante: alta carga de aveia. O próprio nome é uma síntese do inglês “Oatmeal Burst”, que em português pode ser traduzido como “explosão de aveia”.  Este é o terceiro lançamento da MinduBier em menos de um mês; poucos dias atrás, a cervejaria lançou a colab Espelho d’Água e a Klooster, uma Belgium com amendoim. Nestes dias difíceis, a cervejaria sinaliza de forma criativa que é possível prosperar durante a crise provocada pela COVID-19. “O segredo é a estratégia. O público está sedento por novidades; então passamos a focar em lançamentos, porém com lotes únicos”, destacou o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins .

A OatBurst é mais um rótulo adicionado ao portfólio de sazonais da cervejaria; diferente da MinduHaze e da MindCloudy, outras NEIPAS produzidas recentemente pela Mindu a partir da mesma base, a OatBurst seguiu outra linha. “Alterei a base de maltes. Também utilizei uma carga de aveia muito maior que a convencional, além da base com os lúpulos Citra, Mosaic e El Dorado”, disse Gustavo.

Visual turvo da OatBurst

De fato, as altas cargas de aveia e lúpulo protagonizam este lançamento da MinduBier. O aroma é extremamente cítrico e frutado, carregado de notas de maracujá e abacaxi. A cor da cerveja é bem amarelada e sem resíduos, além da turbidez típica em decorrência  da grande adição de aveia (40%). Na hora do gole, a aveia também confere à cerveja um corpo macio e sedoso, acompanhando de um amargor (40 IBU) que escamoteia seu considerável teor alcoólico  (6,6% ABV).  Frente às outras NEIPAs do portfolio da MinduBier, podemos dizer que, na boca, a OatBurst apresenta menos suculência (juicyness) porém entrega amargor mais equilibrado, além de ser um pouco mais resinosa.

“Esta receita faz parte do nosso processo de ciganagem com a cervejaria Dádiva, em Várzea Paulista – SP. O (cervejeiro da Dádiva) Victor Marinho é um parceiro importante, que nos ajuda supervisionando e fazendo adaptações na receita, o que complementa a experiência da ciganagem. Nós mandamos a receita original,  conversamos sobre detalhes sensoriais; em cima dos comentários do Victor, fechamos um piloto”, finalizou Gustavo. A parceria com a Dádiva ajuda também na distribuição da OatBurst, que está disponível em todo Brasil para entregas ou retiradas em lojas. Em Salvador (com envio para toda a Bahia), a cerveja pode ser encontrada tanto em lata quanto chopp nas lojas Cerveja Salvador, Kombita, Vitrine da Cerveja, Chopp Shopdentre outras que estão operando via delivery ou retirada; pode-se ainda pedir diretamente pelos canais de vendas da Cervejaria MinduBier (whastapp: 71 99708 9440).

 

De olho na Mito: Cervejaria combina sua produção à crítica e ação social

#diáriodaquarentena

Junto do Novo Corona Vírus, outro personagem bastante comentado durante esta quarentena é o Presidente da República, Jair Bolsonaro. Sempre muito criticado por suas declarações, seja ignorando os números da doença ou ofendendo diretamente jornalistas e veículos de comunicação, a fama de Bolsonaro extrapolou as fronteiras do Brasil e repercutiu no exterior. Diversas matérias sobre o mau comportamento do Presidente circularam no noticiário internacional ao longo da semana – veja algumas aqui.

Em março deste ano, conheci no Rio de Janeiro a Cervejaria Mito e seus rótulos que fazem sátira com situações políticas, como Golden Shower, Embaixada do Papai, que leva lúpulos americanos, e Comitiva Presidencial, feita com pó de lúpulo em referencia ao episódio de 2019 envolvendo transporte de cocaína em avião da FAB. “A Mito não é uma cervejaria política, nós somos uma cervejaria social. O Bolsonaro é uma figura que consegue ser contra tudo que a gente defende, por isso acaba sendo um tema muito forte em nossas cervejas. A cervejaria não foi feita para ser exclusivamente contra ele; um dia Bolsonaro vai sair, mas esta velha política vai continuar”, explicou o cervejeiro da Mito, Bruno Mesquita. “O pessoal tende a estranhar o nome Mito num primeiro momento, mas depois a galera entende e acaba achando legal. Sobretudo pelo trabalho de ‘formiguinha’ que a gente faz com essas ações, que acabam validando nosso trabalho. A gente critica Bolsonaro, o Sérgio Moro, mas ao mesmo tempo estamos fazendo a nossa parte com atividades sociais; as pessoas reconhecem isto e passam a ver a Cervejaria Mito como um canal que promove boas ações. Isto tem feito a gente se conectar com outras marcas, que nos procuram com ideias para executar”, complementou.

Alguns dos rótulos da Cervejaria Mito.

O conceito de “cerveja social” proposto pela Mito pode ser ilustrado considerando as campanhas realizadas pela cervejaria. Por exemplo, acontece hoje, no Bar do Raoni, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, o lançamento da “Desmorona”, uma Red Ale que brinca com a atual situação do Ministério da Justiça. Porém, em virtude do isolamento social, o consumo será no sistema delivery ou take away. Nos dois casos, quem doar 1 kg de alimento ganha 50% de desconto na compra de um litro da Desmorona. Estes alimentos serão doados junto com material de limpeza arrecadado em outro projeto da Mito, envolvendo o segundo lote da cerveja Isolamento Social, feita em colab com a cervejaria Soul Tere, de Teresópolis – RJ. “A gente realizou outras ações também. No Natal do ano passado, lançamos a Christmas 2019; cada garrafa vinha com uma carta escrita por uma criança da comunidade Jardim Gramacho. Distribuímos essas garrafas e a galera aderiu aos pedidos das crianças. A gente foi entregar mais de mil doações na comunidade. Outra ação foi em outubro do ano passado, um evento com cerveja Embaixada do Papai, no Bar Urbanito, no Rio; quem levasse um livro ganhava 50% de desconto na compra de um hambúrguer. Os livros arrecadados foram doados para a biblioteca da Favela da Maré. Em eventos evolvendo harmonizações, os jantares eram feitos por refugiados e metade do valor arrecado com o jantar ia para esses cozinheiros; foi uma forma que encontramos para protestar em detrimento aos políticos contrários às outras culturas, que defendem construção de muros etc.  ”, contou Bruno.

A mito surgiu no Rio de Janeiro em 2014. A origem do nome é uma referência à temas da Mitologia, que serviam de inspiração para criar as cervejas. “Depois disso o projeto ficou em stand by por algum tempo, pois comecei a estudar para entender o comportamento do mercado de cerveja artesanal. Em outubro de 2018, Flávio Bolsonaro lançou uma cerveja chamada Mito e muita gente veio procurar o produto nas páginas da nossa cervejaria. Por compartilhar de valores diferentes do Presidente, eu postei uma piada, que viralizou: ‘Se eu fosse fazer uma cerveja para Bolsonaro, seria uma Golden Shower para harmonizar com a merda que vocês têm na cabeça. Não vendo cerveja de fascista’”, disse Bruno. “Foi aí que eu vi a oportunidade de lançar uma cerveja que compartilhasse estes valores; se a gente de alguma de forma conseguisse associar a venda das nossas cervejas à ações comunitárias, com compromisso social, com selo de sustentabilidade, trabalhar em defesa dos animais… assim nasceu o nosso conceito de cerveja social”, explicou.

 

 

A Golden Shower é um pilsen de cor dourada, espuma persistente e bem límpida. O rótulo é um tanto chamativo, com desenho de uma figura híbrida entre um homem e uma laranja. O aroma traz notas de pão e centeio muito bem equilibradas, com elemento especial: Uma pegada cítrica, que lembra laranja. A cerveja tem baixo amargor e uma sensação de boca bem leve (IBU 16 e ABV 4,9%). “Sim a cor dourada é para fazer exatamente esta brincadeira com o episódio do Golden Shower. Nós queríamos fazer uma pilsen mais cítrica, mas não associar diretamente à laranja; muita gente me pergunta sobre isso também. Nossa intenção era fazer uma pilsen mais lupulada, diferente das outras Pilsen tradicionais. Acabou dando certo”, disse Bruno. “De fato, no rótulo da cerveja é realmente a figura do Queiroz. Falando nisso, cadê ele hein?”, brincou o cervejeiro

A Mito é uma cervejaria cigana, que produz a maior parte das suas cervejas em parceria com a cervejaria Soul Tere. Nos dias de quarentena, as cervejas da Mito podem ser compradas via delivery ou take away de locais onde acontecem as ações sociais, como o Boteco do Raoni, lojas especializadas como Beer Underground e Bros’ Beer, que envia para todo Brasil. Para um futuro próximo, Bruno planeja novas ações envolvendo a Cervejaria Mito. “Quero muito fazer uma Baltic Porter, mas ainda não tenho o projeto fechado. Posso lançar dentro de 2 ou 3 meses, até lá vou pensando melhor no conceito”, revelou o cervejeiro. “E que fique bem claro: Não somos uma cervejaria sobre o Bolsonaro, mas sobre valores. Então podemos ampliar nosso foco para todo este movimento relacionado à extrema direita, que está se espalhando pelo mundo. Não queremos apenas ‘encher linguiça’; queremos fazer boas cervejas com boas ações sociais por trás”, finalizou.

 

O sabor que veio do sul: Em tempos de liberdade restrita, beba Freedom

#DiárioDaQuarentena #Covid-19

Liberdade é um desejo hipodérmico do ser humano e também um direito garantido por lei no Brasil. Infelizmente, nas últimas semanas, a nossa liberdade tem sofrido restrições por conta da pandemia da COVID-19. Para amenizar um pouco meu isolamento social, resolvi escrever sobre uma das minhas cervejas preferidas e que traz “liberdade” no nome: Freedom, que significa liberdade em inglês.

A Freedom é uma American India Pale Ale produzida pela cervejaria gaúcha Vintage Craft Beer, situada em Porto Alegre – RS.  Por outro lado, o nome da cerveja faz uma referência ao rock. “Aqui na empresa só toca rock and roll; e dos mais antigos, como Creedence, Johnny Cash e o maior guitarrista de todos os tempos: Jimi Hendrix. No caso da nossa cerveja, Freedom é uma homenagem à música que Jimi Hendrix escreveu e gravou poucos meses antes de morrer”, explicou Eduardo, cervejeiro da Vintage.

Growler com Freedom, American IPA da Vintage Craft Beer.

Esta cerveja chama atenção por diversos aspectos. Primeiro, pela facilidade com pode ser encontrada em Salvador; segundo, pelo seu preço, bem em conta em comparação à outras cervejas que veem de longe. Por exemplo, a lata de 473ml custa entre 25-28 reais nas lojas online Cerveja Salvador e Vitrine da Cerveja, que também vende o litro do chope Freedom por 45 reais. (Nota: não custa lembrar que ambos os estabelecimentos estão operando com delivery de cerveja e chopp nestes dias de quarentena!). “É a cerveja mais vendida da loja. Posso te dizer que é nossa torneira fixa”, disse o diretor comercial da Vitrine da Cerveja, Claiton Santos, lembrando que, certa vez ,a Freedom foi embarrilada na terça-feira, em Porto Alegre, e no sábado as/os clientes já estavam provando a cerveja, na loja, em Salvador. “Ficamos muitos felizes em saber que a cerva tem boa aceitação aí em Salvador. O fato do chope chegar sempre fresco é também mérito da loja, pois sempre que um lote está ficando pronto ela já compra em boa quantidade”, disse Eduardo. Já diretor comercial da loja Cerveja Salvador, Alex Pires, destacou a presteza no atendimento do pessoal da cervejaria Vintage. “Eles foram muito atenciosos com a gente e entregaram o pedido com agilidade considerável. A Vintage foi destaque do nosso Clube, em março, com a Freedom integrando a seleção de rótulos do mês passado”, destacou Alex.

Lata com Freedom da Vintage Craft Beer

O terceiro aspecto que a Freedom se destaca , claro, reside na qualidade da cerveja. A prova foi feita de duas formas: primeiro degustamos a cerveja na lata para, em seguida, partir para o chope servido em growler. Em linhas gerais, a Freedom entrega aquilo que se espera de uma boa American IPA: aroma floral, bem lupulada, amarga e seca. A cerveja em lata, além do aroma floral, apresentou também notas cítricas, que não ficaram tão perceptíveis no chope. “Após o envase, as nossas latas ficam armazenadas na câmara fria até a hora do envio para o cliente, visando garantir maior frescor. Isto pode ter ocorrido porque aumentamos um pouco mais a carbonatação da cerva antes do envase, o que pode resultar em uma percepção mais ácida ou cítrica da bebida”, revelou Eduardo.

Além do aroma floral e cítrico, nas duas situações a Freedom apresentou coloração de cobre e um visual bem límpido. Na boca, uma sensação macia, corpo médio, além do amargor intenso (IBU 62) e equilibrado, combinado ao final seco característico do estilo American IPA. Teor alcoólico moderado (6,2% ABV) e, no retrogosto, além de permanecer o tradicional amargor proporcionado pelos lúpulos americanos, pode-se perceber também algumas notas florais. “Utilizamos os lúpulos Comumbus, Citra, Cascade e El Dorado. A técnica que seguimos foi a late hopping, adição tardia, isto é, toda a lupulagem foi feita nos 30 minutos finais da fervura – 30min , 20 min, 10 min , 5 min”, finalizou Eduardo.

DIÁRIO DA QUARENTENA: DEGUSTAÇÃO DE CERVEJAS COM KVEIK

Nestes dias de quarenta, o Blog Lupulado irá publicar uma série de resenhas sobre as cervejas que degustamos durante o período de confinamento. A primeira matéria aborda rótulos que utilizam a levedura Kveik. O número de marcas no Brasil, que optaram por usar este insumo, cresceu vertiginosamente nos últimos dois anos.

 

Desafio lançado na quarentena: Sequencia de cervejas com levedura Kveik

Historicamente, Kveik é uma das muitas terminologias adotadas da Noruega para se referir às leveduras, dentre elas as cultivadas em  pequenas fazendas onde cervejas são produzidas de forma artesanal, as chamadas Norwegian Farmhouse Brewery. Com o passar dos anos, Kveik passou a ser o nome usado para designar as leveduras provenientes dessas fazendas, carregando em si traços culturais heterogêneos e relacionados às comunidades.  A heterogeneidade pode ser percebida considerando que a Kveik possui diversas linhagens, normalmente conectadas pelo nome à família ou fazenda que a produziu; é o caso da “Voss Kveik”, usada na produção da Nibelungo, rótulo da cervejaria Motim que já foi tópico aqui no Blog Lupulado. .A sua relação cultural com as comunidades emerge deste aspecto, pois a Kveik é um produto de agricultura familiar e os segredos de cultivo, armazenamento e uso eram passados de geração para geração. Existem registros datados de 1621 documentando que, na Noruega, a Kveik era armazenada em anéis de madeira, chamados Kveikstokkers, capazes de conservar a levedura por até um ano.

Outro fator cultural importante na Noruega e alguns países vizinhos (exceto a Dinamarca), que estimula a produção caseira  e familiar de cerveja, é o rigor no comércio de bebidas no país. Nos supermercados e cervejarias, só é permitido venda de rótulos com até 4,6% de ABV; caso a pessoa deseje uma cerveja mais forte, deve comprar nas taprooms ou nas lojas do governo chamadas Vinmonopolet, onde a política de vendas é extremamente rigorosa e controlada. Desta forma, as cervejarias norueguesas costumam vender também insumos para produção de cerveja, além produtos temáticos; portanto é comum encontrar clientes nesses locais em busca de lúpulos, maltes, leveduras etc.

Sede da cervejaria Lervig em Stavanger, Noruega.

Atualmente, a Kveik pode ser encontrada tranquilamente no Brasil. O cervejeiro da Motim, Salo Maldonado, disse anteriormente em entrevista ao Blog Lupulado que “hoje em dia é fácil adquirir nas lojas de insumos e fornecedores. Os dois maiores fornecedores de leveduras líquidas estão com pelo menos uma linhagem de Kveik em produção”. Para o gerente de vendas da Bahia Malte, Alan Reis, “a oferta das Kveik no Brasil tem melhorado bastante nos dias atuais; na Bahia Malte trabalhamos com duas cepas, a Hornidal e a Voss, que estão sempre disponíveis por aqui na loja”.

Degustando Staerk Bayer, um dark lager com 9,5% de ABV e 32 IBU na Taproom da Cervejaria Mack Bryggeri em Tromsø, Noruega.

“As Kveik representam certa facilidade para os cervejeiros, porque não precisam de um controle tão especifico de temperatura, o que  permite diversificar os ambientes de fermentação. Por exemplo, a sala da sua casa pode se tornar um ambiente de fermentação, já que o range de temperatura dela é mais alto… o tempo de atenuação desta levedura na cerveja é bem mais rápido também. Aqui na Bahia Malte, a gente já soube de casos de cervejas que atenuaram em 2 dias, fazendo o tempo de produção diminuir e permitindo que os cervejeiros produzam mais levas em intervalos menores”, complementou Alan.

Tiago Lima, cervejeiro da Bionica HomeBrew, exibindo duas novas criações.

Recentemente, cervejeiro da Biônica HomeBrew, Tiago Lima, usou este insumo disponível na Bahia Malte em algumas de suas receitas, todas feitas em casa.. “Ao todo fiz seis cervejas usando Kveik, dentre elas uma IPA combinando lúpulos citra e mosaic com a Kveik; duas stouts com a mesma base, sendo uma com essência de côco; fiz também a Supreme, umas das mais pedidas, em que usei café da Chapada Diamantina. Fiz também um experimento com duas APAs, uma mais seca, frutada e a outra mais amarga, cítrica”, disse Tiago. “Fermentei todas essas cervejas na mesma temperatura, 26 graus. Para mim, esta levedura é a melhor em eficiência alcoólica; a cerveja também fica sem off-flavor, ou pelo menos os off ficam bem menos perceptíveis. Algumas cervejas ficam mais secas que o esperado, porém este é um fator que pode ser corrigido e não chega a ser um aspecto negativo”, concluiu.

Abrindo latas e garrafas com Kveik

As cervejas abaixo foram escolhidas a partir do estoque que eu tenho em casa, considerando apenas um parâmetro: O uso da levedura Kveik . Alguns dos rótulos a seguir podem ser encontrados em lojas online, como a Vitrine da Cerveja (Salvador), Cerveja Salvador (toda Bahia), BeerMind (todo Brasil),  Beer Underground (RJ), MotimHideout (RJ), além da própria Bahia Malte(Salvador); estes e outros estabelecimentos dedicados à cerveja artesanal estão fazendo entregas em domicílio durante a quarentena provocada pela COVID-19. Os dois copos foram escolhidos para homenagear duas cervejarias que visitei na Noruega: Lervig, que fica na cidade de Stavanger, e Mack Mikrobryggeri, localizada em Tromsø.

Nibelungo, Collab entre as cervejarias Motim e Cevaderia

Iniciei a sequencia provando a Supreme, da Biônica HomeBrew; Brown Ale com coloração escura,  bem maltada e leve (6,1%ABV); amargor médio (33 IBU) e com notas de café da Chapada Diamantina bem presentes tanto no aroma quanto no gole. A segunda cerveja da foi outra bem leve, a NE APA Nibelungo (5,6ABV e 35 IBU), collab das cervejaria Motim e Cevaderia, que foi tópico aqui no Blog Lupulado.

Supreme, da cervejaria baiana Bionica Homebrew

A terceira cerveja foi a Ovrebust (6,7 ABV e 40 IBU), uma kveik IPA da cervejaria Thirsty Hawks, que também apareceu no Blog Lupulado durante nossa cobertura do Mondial de La Biere Rio – 2019; vencedora da medalha de ouro naquela edição, a Ovrebust apresentou sua tradicional coloração turva, além de resíduos de aveia; cerveja bem sucada, cremosa, corpo aveludado, aroma trazendo notas de melão, laranja e abacaxi.

Ovrebust, que ganhou medalha de ouro no Mondial de Lá Biere no Rio de Janeiro de 2019.

A Avrake, Kveik Juicy IPA também feita pela Thirsty Hawks, foi a quarta cerveja que provamos. Apresentou aquele aroma proeminente de lúpulo Mosaic, com adição de citra e denali; bem cremosa, cor turva, corpo sedoso, amargor acentuado (45 IBU), cremosa, suculenta com gosto de Maracujá e Toranja, boa drinkability além da aveia sobrando no retrogosto. (6,5 ABV).

Avrake da Thirsty Hawkins

O quinto rótulo da sequencia foi o que mais surpreendeu:  a cerveja Fuça, uma Kveik Juice Rye IPA, da cervejaria Latido Ale House. Como o nome atesta, esta cerveja levou malte de centeio, além da adição de dois lúpulos, loral e ekuanot, em duplo dry-hop. No aroma, notas de laranja e tangerina, com maior presença da primeira, cor turva e amargor acentuado (50 IBU). O aspecto mais interessante desta cerveja foi a sensação de boca, viscosa e licorosa (7% ABV).

Grata surpresa: Fuça, uma criação da cervejaria latido (RJ)

Referências:

http://www.milkthefunk.com/wiki/Kveik

 

 

Bossa Nova Haze: Novo tesouro de Jacobina

O município de Jacobina, situado na Chapada Diamantina, Bahia, ganhou fama nacional como “a Cidade do Ouro” por conta das minas descobertas na região, nos idos do século XVIII. Anos mais tarde, a exploração do ouro cessou e o ecoturismo passou a atrair a atenção de pessoas interessadas em conhecer cachoeiras, lagos e serras que circundam a cidade. Atualmente, outro tipo de tesouro foi descoberto nas ruas de Jacobina: a Cerveja Artesanal.

Bossa Nova Haze: Espuma cremosa, amarga e resfrescante

No último Festival de Cerveja Artesanal do Vale do São Francisco, realizado em Petrolina em novembro do ano passado, a cervejaria jacobinense HopDevils fez sucesso entre os presentes com sua NEIPA. Em fevereiro deste ano, a HopDevils lançou a Bossa Nova Haze, produzida a partir da base criada para aquela cerveja que encantou o público no Festival. “Sim, as receitas são muito próximas. A base de maltes é a mesma e ambas são fermentadas com levedura Vermont. A diferença fica por conta do lúpulo Mosaic Cryo usado na Haze IPA, que me pareceu ser mais dank e resinoso que o Mosaic em pellet”, disse o cervejeiro da HopDevils, Pedro Varjão. “Na Haze foi utilizado um único dry-hopping, ao fim da fermentação, o que resultou num aroma mais “cru” de lúpulo, sem tanta ação de biotransformação”, complementou.

Predro Varjão exibe a Bossa Nova Haze

A história da cervejaria HopDevils remonta a 2014, em um lugar distante de Jacobina. Naquele ano, três amigos universitários, na cidade de Campinas- SP, decidiram começar a fazer cerveja por conta própria. “Éramos estudantes, com pouco dinheiro e apreciadores do estilo IPA. Decidimos então nos aventurar na produção de nossas próprias cervejas. Os amigos foram se formando na universidade e eu acabei assumindo a produção sozinho. Regressei à minha Terra Natal, que é Jacobina, e continuei no homebrew sempre buscando aperfeiçoar os detalhes das receitas. Hoje tenho um grande parceiro, Rafael Filho, com quem tenho desenhado planos para expansão e abertura de um negócio cervejeiro maior”, explicou Pedro.

A Bossa Nova Haze apresenta espuma bem cremosa e aroma frutado, remetendo a frutas como pêssego e abacaxi. Outra característica peculiar do estilo Haze IPA que a cerveja traz é a sua coloração, turva e parda. Na sensação de boca, um corpo viscoso e licoroso, como pede uma boa Haze IPA, com o álcool bem perceptível no retrogosto, apesar do teor alcóolico médio (6,8 ABV). Possui amargor alto (60 IBU) provocado uma total carga de 20 g/l de lúpulos Citra e Mosaic Cryo. “Adicionamos esses lúpulos nos estágios de first wort hopping (amargor), whirpool (aroma) e TDH. Utilizamos também a levedura clássica Vermont Ale”, explicou Pedro. A cerveja Bossa Nova Haze pode ser encontrada na Wine House Jacobina ou via direct no instragram da cervejaria HopDevils.

Nibelungo: Uma cerveja inspirada na cultura nórdica

As cervejarias cariocas Motim e Cevaderia lançaram novo rótulo no mercado: a Nibelungo. Esta cerveja segue o estilo New England American Pale Ale (NE APA) e tem como característica marcante o uso da levedura Voss Kveik. O nome é referência ao “Anel de Nibelungo”, um item mágico que, segundo a mitologia nórdica, era capaz de conferir grande poder a quem o usasse. Recentemente, tem crescido no Brasil o número de cervejas feitas com leveduras do tipo Kveik, que são utilizadas há muitos anos por cervejeiros de países como a Noruega, Finlândia, dentre outros do norte da Europa, e atualmente podem ser encotradas com certa facilidade por aqui. “Hoje em dia é fácil adquirir nas lojas de insumos e fornecedores. Os dois maiores fornecedores de leveduras líquidas estão com pelo menos uma linhagem de Kveik em produção. No nosso caso, decidimos usar Voss Kveik para mencionar a origem da linhagem, como forma de homenagear e agradecer aos produtores locais do norte da Europa, que disponibilizaram a levedura para exploração e eventual comercialização. Fizemos referência ao Anel de Nibelungo porque, tradicionalmente, os fazendeiros usavam anéis de madeira com a levedura seca para iniciar suas fermentações. É uma homenagem nossa à cultura nórdica também”, disse o cervejeiro da Motim, Salo Maldonado.

Nibelungo degustada na Tap Room da Motim

“Esta cerveja é resultado de um experimento dividido em duas partes. A primeira explorou o Kveik como uma levedura capaz de bio transformação quando entra  em contato com lúpulo na fase de fermentação, daí seu uso em uma NE APA. Na segunda faze, exploramos seu uso para uma fermentação mista; colocamos a Nibelungo em um barril para ver se instalaria uma fermentação com leveduras selvagens e como seria essa interação”, complementou Salo.

A Nibelungo apresenta a turbidez características do estilo NE APA e uma espuma bem cremosa. O aroma bastante cítrico com notas de abacaxi, laranja e maracujá, que podem ser percebidas também na hora do gole. “Estas notas cítricas e de frutas foram provenientes do lúpulo e da levedura. A Voss Kveik costuma apresentar esse éster de laranja, que foi complementado pela combinação dos lúpulos”, revelou o cervejeiro. O amargor médio (IBU 35) e o teor alcoólico relativamente baixo (ABV 5,4) fazem da Nibelungo uma cerveja perfeita para dias quentes, podendo ser apreciada por longos períodos. Seu corpo médio provoca uma sedosa sensação de boca. “Usamos os lúpulos Columbus (somente fervura), Mosaic e El Dorado. Estes dois foram utilizados no whirpool, após o final da fervura, e no Dry-Hopping, quando usamos uma carga de 14g/l, que eu considero alta”, finalizou.

Inicialmente, a Nibelungo surgiu como rótulo sazonal, mas pode ser que ela venha a entrar na linha de produção das cervejarias Motim e Cevaderia. Ela está sendo distribuída para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio, pode ser encontrada a Tap Room da Motim (Copacabana) e em lojas especializadas, como Beer Underground (Centro) Beer Mind (Barra da Tijuca), dentre outras que também fazem fazem venda online e podem enviar para demais regiões do Brasil.