Saiu a lista: As melhores cervejas que provei em 2022

IPA da cervejaria Triora.

Sempre depois de cada ano, com de costume, publico aqui no Blog Lupulado minha lista com as dez melhores cervejas que provei nos últimos 12 meses. Sigo basicamente quatro premissas: (1) o rótulo pode ter sido lançado em outro período, mas a minha primeira degustação deve ter acontecido no ano corrente; (2) só considero cervejas com MAPA, (3) procuro não repetir cervejarias na lista final dos 10 melhores rótulos e (4) se a cerveja trouxe algum tipo de inovação para o estilo.

Dois Malucos numa viagem, colar de Captain Brew e Undertap.

Desde o primeiro semestre de 2022, a maioria dos eventos ligados à cultura da cerveja voltou a acontecer; além disso,  bares e taproom estão funcionando sem as restrições.  O ano passado marcou também meu mergulho no mundo das Russian Imperial Stout – inclusive, a melhor cerveja de 2022, na minha opinião, foi uma RIS. Claro que já degustei este estilo em tempos anteriores. Porém, foi no ano passado que comecei a me interessar pelos processos que envolvem a produção das RIS.

I don’t know what to say to you: RIS da Hankzbier, a melhor cerveja de 2022, na minha opinião.

Quanto aos lúpulos, continuei um fiel apreciador do Strata. Entretanto, o ano passado me apresentou surpresas, como os lúpulos Eclipse e o Ahhhroma. Mais uma vez, foi muito difícil escolher apenas 10 rótulos; só para ter uma parâmetro,  segundo meu relatório anual do Untapdd, em 2022 realizei 1555 check-in em cervejas de 92 estilos, de um total de 167 cervejarias!

Faith over Fear, da Spartacus.

Começo minha lista dos 10 melhores rótulos de 2022 com uma das primeiras cervejas que provei no ano: A IPA da Triora, uma simpática cervejaria que conheci em Uberlândia-MG. Ainda tocado pelo Triângulo Mineiro, outra breja que integra na minha lista Top10 de 2020 é a Double NEIPA Dois Malucos Numa Viagem, colab entre outra cervejaria de Uberlândia, a Captain Brew, e a cervejaria Undertap, de Santo André – SP; a sua receita contém os lúpulos da Eslováquia Styrian Kolibri e Styrian Cardinal e Patagonia Red, da Argentina.

Cottom Clouds, da Stormy.

Seguindo minha seleção, outra menção vai para Faith of Fear, Double Hazy IPA da Spartacus Brewing, de Juiz de Fora-MG, que apresenta um belíssimo trabalho com o lúpulo Loral em um blend com El Dorado. A cerveja considerada por mim a melhor de 2022 é a  I don’t know what to say to you, também de Juiz de Fora, produzida pela Hankzbier, uma Russian Imperial Stout diferente de tudo que já provei, com incrível textura de biscoito.

 

Midnight Class, da Croma.

Outro rótulo da minha seleção vem dos “bs” que fazemos com amigos e amigas aqui em Salvador: Midnight Class, da Croma (São Paulo-SP), uma RIS envelhecida em barril de cachaça com um toque incrível de melaço. De um clube de cerveja que assino aqui na Bahia, a Vitrine da Cerveja, veio outra integrante da lista: Cidade Verde, colaborativa entre Cervejaria Dogma (São Paulo – SP) e a Banda Cidade Verde; trata-se de uma Hazy IPA feita com blend dos lúpulos Strata e Citra.

Outra integrante da minha lista top10 é cerveja Diverzilla, um Double NE IPA da cervejaria Escafandrista (Piracicaba-SP) feita com blend dos lúpulos Mosaic Incógnito, Citra Cryo, Riwaka e Eclipse, além do Phantasm, um pó de uva da Nova Zelândia, que foi usado em algumas brassagens no ano passado. Seguindo na minha seleção, outra cerveja que escolhi é a Cotton Clouds, da Stormy Brewing (Campinas – SP), que utilizou o novíssimo lúpulo Ahhhroma em um blend com o Strata e o Idaho7.

 

Diverzilla, da Cervejaria Escafandrista.

Para fechar minha lista das melhores de 2022, escolho duas cervejas de Lauro de Freitas – BA, que provei na Pilsner Fest em maio do ano passado e me impressionaram bastante. A primeira é Obscurum, uma Russian Imperial Stout da Mindu Bier, que tem a proposta de ser uma “RIS raiz”, isto é, sem adjuntos, com as tradicionais notas de torrado e o álcool aparecendo bem. A segunda é a BR Ale, da Cervejaria 2 de julho, uma cerveja bem leve e fácil de beber, que é feita com insumos 100% nacionais.

Obscurum, da MInduBier

Esta á minha lista das 10 melhores cervejas provadas em 2022! Encerro este post desejando à seguidores e seguidores um Feliz 2023, repleto de muita saúde e cerveja boa!

BR Ale da Cervejaria 2 de Julho.

Lupulado no Mondial de La Biére Rio 2019.

Mais de 100 expositores, dentre eles cervejarias do Brasil e do exterior, participam da sétima edição do Mondial de La Bière, um dos maiores eventos cervejeiros do Brasil que acontece anualmente desde 2013. No total,  cerca de 1.080 cervejas de diversos estilos estão disponíveis para degustação. Dentre elas, 396 rótulos disputaram o MBeer Contest Brazil,  uma famosa competição interna feita a partir de uma avaliação às cegas.  Em 2019, a abertura do evento foi no último dia 04 e os trabalhos se estendem até hoje (08), ou seja, ainda dá tempo para visitar! As entradas custam R$50 (meia), R$ 100 (inteira), R$ 55 (com um quilo de alimento não perecível) e podem ser adquiridas na bilheteria a partir das 12h . A exemplo da última edição, o evento acontece nos armazéns 2, 3 e 4 no Pier Mauá, zona portuária do Rio.

O Blog Lupulado esteve no Mondial de la Bière Rio na quinta-feira (05). É impossível provar todos os rótulos disponíveis em um único dia, mesmo chegando logo na abertura dos portões, às 16h. Como de praxe, elaborei um roteiro buscando provar os rótulos premiados na edição do MBeer Contest Brazil 2019  além de degustar minhas cervejas preferidas.

A primeira parada foi no stand da Cervejaria Wonderland, que é parte americana, parte brasileira, e foi a grande vencedora do MBeer Brazil Contest  2019. Chegando lá, pude reencontrar a simpática Anna Lewis junto de seu marido, Chad Lewis, e de Pedro Fraga, que juntos integram o time de cervejeiros da Wonderland. Em 2018, a cervejaria foi uma das medalhistas de ouro no Mondial de La Bière Rio, com a Gone Mad; neste ano, a Wonderland faturou a medalha de Platina, o prêmio principal, com a Timeless Porter.

Pedro Fraga, Anna e Chad Lewis: cervejeiros da Wonderland, grande vencedora do MBeer Contest Brazil 2019,

A Timeless é uma cerveja no estilo American Porter, com lactose e caramelo, que sobressai no aroma e na sensação de boca; o retrogosto traz notas de café e chocolate. Possui 6,3% de ABV e 25 IBU, ou seja, amargor leve e o teor alcoólico um pouco maior que as tradicionais English Porter. “Sim o teor alcoólico é um pouco mais elevado que as Porter inglesas, mas não impõe uma percepção grande do álcool. Aliás, este é um dos motivos para classificar a Timeless dentro do estilo American Porter; a outra razão é a presença marcante do caramelo, escapando das características das English Porter”, disse Pedro Fraga.

A grande vencedora do Mondial de La Bière Rio 2019, Timeless Porter, com a medalha de platina

“Quase não inscrevemos a Timeless na competição deste ano, pois notei que nas últimas edições alguns estilos que estavam mais em voga, como a Catharina Sour, foram premiados. Esta medalha de platina traduz o esforço que a gente vem fazendo desde 2014, quando nos conhecemos. Investimos muito em receitas e testes para lançar oficialmente a Cervejaria Wonderland em 2018. Este prêmio representa um estágio a mais que a gente alcançou”, complementou Pedro.

Lucas Schuabb, da Thirsty Hawks exibindo a premiada Ovrebust

A minha segunda parada foi no stand da cervejaria Thirsty Hawks, de Niterói-RJ. O objetivo era provar a Ovrebust, umas das medalhistas de ouro do Mondial de La Bière Rio 2019. Trata-se de uma Juicy IPA razoavelmente alcoólica (6,7% ABV) e médio amargor (40 IBU), feita com uma das leveduras do momento, a Kveik. “A gente fica sempre atento às novas tendências e demandas. Com a receita da Ovrebrust, procuramos inovar no âmbito das New England usando a levedura Kveik, típica da Noruega. Na época dos testes era mais difícil de acha-la, mas aí com o tempo a gente conseguiu encontrar um volume que permitia produzir em larga escala”, disse Lucas Schuabb, um dos cervejeiros da Thirsty Hawks. Lucas revelou um aspecto inusitado: “a gente publicou uma foto da Ovrebust em nossa conta no Instagram. Aí apareceu uma família cervejeira norueguesa com o mesmo nome fazendo contato com a gente, querendo provar a nossa receita. Vamos mandar algumas Ovrebust para eles!”.

Fernando Cabaleiro, cervejeiro na BrewLab.

Outra cervejaria que vistei neste ano foi BrewLab, também de Niterói, que carrega em si um forte caráter experimental; prova disto é a sua série de New England Pale Ale chamada Haze Baze, estilo semelhante porém menos alcoólico e com menos amargor que as NEIPA. “Lançamos uma base para esta cerveja, produzimos 1.500 litros e criamos uma série de rótulos fazendo experimentações com adjuntos – manga, framboesa, côco etc. Foi uma estratégia para conseguir criar 6 cervejas diferentes usando a mesma produção”, revelou o cervejeiro da BrewLab, Fernando Cabaleiro.

Com o amigo Fabrizio Ruiz, cervejeiro da Farra Bier.

Não poderia deixar de visitar o stand da Cervejaria Farra Bier, um das minhas preferidas e que funciona na cidade do Rio de Janeiro. Provei a novidade El Colacho, uma Sour IPA bem alcoólica (8% ABV) e com médio amargor (55 IBU), que traz notas cítricas típicas do estilo Sour. Pude degustar ainda nas torneiras da Farra outras criações do cervejeiro Fabrízio Ruiz, como a NEIPA Holi, um dos meus rótulos preferidos.

Durante esta passagem pelo Mondial de Biére Rio 2019, visitei ainda o stand da cervejaria Overhop, onde experimentei outro rotulo vencedor da medalha de ouro, a Gravioh-la-la, uma Catharina Sour com adição de graviola. Passei ainda pelo stand da Three Monkeys, que também faturou a medalha de ouro com a Sour Ale “I´m Sour Baby”; entretanto, meu desejo foi matar a saudade de dois rótulos que aprecio bastante: a NE APA Galaxy Detox e a Strawberry Milk Way IPA, com lactose e morango.

Outro stand visitado foi o da cervejaria mineira Capa Preta, uma das minhas preferidas, onde provei mais uma vez a deliciosa NE IPA Pina Colada. Este rótulo utiliza a mesma base da Euphoria Juicy, mas só pode ser encontrada nas torneiras da TapRoom da Capa Preta em Belo Horizonte. Por fim, visitei o stand Du Pappi, do meu amigo Luiz Coqueiro, filho do mestre cervejeiro Laert Coqueiro, criador das Gotinhas Du Pappi. Luiz me apresentou seu lançamento: uma versão das gotinhas Du Pappi com aroma de Maracujá.

Infelizmente, como já disse, não deu para provar todos as cervejas em um só dia no Mondial, mas consegui encontrar todos os rótulos que pretendia. A única nota particularmente triste no Mondial de La Biére Rio 2019 foi a ausência de cervejarias do Nordeste do Brasil; ano passado, havia apenas a Ekaut, de Pernambuco, representando as cervejarias nordestinas. Neste ano, não encontrei uma sequer. Que venha o Mondial de La Bière Rio 2020 !

Especial de férias: Workshop celebra cultivo de lúpulo na região serrana do Rio

Conhecida no cenário cervejeiro nacional por abrigar grandes cervejarias industriais, como a Bohemia e a Itaipava, a região serrana do Rio de Janeiro está se destacando também pela oferta de insumos. Além da famosa qualidade da água mineral proveniente de fontes localizadas em cidades como Friburgo, Guapimirin, Petrópolis e Teresópolis, produtores da serra estão cultivando lúpulo. A ampla maioria dos cervejeiros do Brasil costuma importar este insumo de países como Estados Unidos e Inglaterra; no entanto, a partir deste ano espera-se que esse público possa adquirir lúpulos cultivados em território nacional. De olho nesta tendência, cervejeiros fluminenses realizarão nos próximos dias 26 e 27 de janeiro, no Centro Cervejeiro da Serra, na Serra do Capim, em Teresópolis – RJ, o “1o Workshop Nacional de Plantio de Lúpulo”. O evento é estruturado em uma série de apresentações que discutirão aspectos sobre o cultivo do insumo no Brasil, envolvendo temas como “Aspectos agronômicos sobre o cultivo do lúpulo”, “A importância de um bom projeto de irrigação no plantio de lúpulo”, dentre outros (confira a programação completa e perfil dos facilitadores no final da matéria). As inscrições para o evento se esgotaram em poucas horas.

“O cultivo do Lúpulo é bem recente no Brasil. As primeiras mudas foram legalizadas pela MAPA em outubro e novembro de 2018, graças ao trabalho da Tereza Yoshiko (da Lúpulos Ninkasi, o primeiro viveiro autorizado para produção e comercialização de lúpulos no Brasil). É uma cultura nova e a tropicalização da planta está sendo muito boa”, afirmou a cervejeira Ana Pampillón, uma das organizadoras do workshop. Ana atua no ramo de cultivo de lúpulo desde 2018, trabalhando para aproximar o produtor do mercado de cervejas especiais. “A ideia deste workshop surgiu após nossa legalização (como produtores de lúpulo), pois tivemos muita procura de produtores, investidores, cervejarias etc. Resolvemos então realizar um evento para expor nossas ideias de modo mais prático e eficiente, ao lado de estudiosos que pudessem complementar nosso trabalho, e também criar uma rede de relacionamento entre produtores e cervejarias”, complementou.

Alguns lúpulos importados disponíveis no Lamas, loja especializada no centro do Rio de Janeiro. Foto: Luiz Adolfo Andrade

Como é sabido, o cultivo de lúpulo se relaciona à regiões com baixa temperatura e incidência solar propícia, como a Alemanha, Inglaterra, dentre outras. Ao ser indagada sobre quais tipos de lúpulo podem ser cultivados no Brasil, Ana Pampillón foi taxativa: “Por princípio, apenas aqueles legalizados e autorizados pelo MAPA”. Na Lúpulos Ninkasi, por exemplo, a maior produção tem sido de lúpulos Cascade (confira neste video).“O aumento e diversificação na produção de lúpulos certamente irá impactar a produção de cerveja no Brasil, pois teremos o diferencial de trabalharmos mais com lúpulo fresco, aproveitando melhor as caraterísticas físicas e químicas da flor. O clima temperado pode trazer mais colheitas, ao lado do chamado “Terroir”, isto é, o aroma do lúpulo passa a ter características do que está sendo plantado por perto. Por exemplo, em uma fazenda com vocação para goiaba, os lúpulos plantados por lá terão essas notas de goiaba e assim por diante”, concluiu Ana, destacando que já existem cervejarias fazendo de forma experimental cervejas com insumos 100% nacionais. O Lupulado apurou que a Cervejaria Búzios prepara para fevereiro deste ano a brassagem das duas primeiras cervejas que serão totalmente produzidas com insumos do Brasil: a “Brasilian Pale Ale” e a “8 horas Session IPA”, a ser feita com lúpulo fresco colhido em até oito horas antes da adição.

SÁBADO (26/01)

8:00h às 9:00h – Credenciamento no Centro Cervejeiro da Serra (Serra do Capim, Teresópolis-RJ)

9:00h às 9:30h – Abertura e apresentação do workshop. (Ana Cláudia Pampillón)

9:30h   às   10:10h -A formação da Associação dos produtores de lúpulo do Brasil (APROLÚPULO). (Alexander Cruz)

10:20h às 11:00h – Principais cultivares. (Max Raffaele)

11:10h às 11:50h – Aspectos agronômicos sobre o cultivo do lúpulo. (Pablo Sotomayor)

12:00h às   12:40h – Viveiro, mudas e propagação de mudas. (Teresa Yoshiko)

12:50h às 14:50h – Almoço

15:00h às 15:30h – A importância de um bom projeto de irrigação no plantio de lúpulo. (José Hilário Cordeiro Neto)

15:40h às 16:40h – O panorama setorial cervejeiro no Brasil e perspectivas para o mercado de lúpulo. (Eduardo Fernandes Marcusso)

16:50h às 17:30h – Do Campo ao Copo – geração de valor do produto final. (Diego Gomes)

17:40h às 18:00h- Encerramento (Ana Cláudia Pampillón)

18:00h – Beer Break -Degustação na Micro

21:00h – Jantar harmonizado na fazenda com o Chef Gustavo Fonseca e o sommelier José Padilha

DOMINGO (27/01)

8:00h – Café da manhã especial

9:00h – Visita técnica na plantação de lúpulo (fazenda)

11:00h – Visita técnica no Viveiro do lúpulos Ninkasi

13:00h – Todos liberados

FACILITADORES:

EDUARDO FERNANDES MARCUSSO

Formado em Geografia pela UNESP/Campus Rio Claro, Mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela UFSCar/Campus Sorocaba e Doutorando em Geografia pela UnB, com a tese intitulada de “Os Territórios da Cerveja”, é Sommelier de cervejas pelo Instituto da Cerveja e servidor público federal do MAPA, atuando na Coordenação Geral de Vinhos e Bebidas, tendo publicados diversos estudos sobre cerveja pelo ministério e na área acadêmica.

PABLO SOTOMAYOR

Cultiva lúpulos em uma área de aproximadamente 300 metros quadrados no quintal de sua casa em Brasília.O cultivo é orgânico e certificado pelo sistema participativo – OPAC Cerrado e vêm obtendo bons resultados de produtividade de qualidade. Algumas plantas chegam a produzir até 500g de lúpulo seco por colheita, e algumas já foram colhidas três vezes num período de 11 meses.Análises físico químicas realizadas em universidades apontam para um produto de qualidade, com homogeneidade na maturação das flores, alta concentração de ácidos alfa e de óleos essenciais. Em 2019 ampliará o cultivo para uma área de 4 mil metros quadrados.

ALEXANDER CREUZ

Formado em administração de empresas, pós graduado em marketing e finanças, técnico em agronegócio, produtor de lúpulos em Lages/SC (Lúpulos Serrana). Atual presidente de Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (APROLÚPULO)

MAX RAFFAELE

Formado na Universidade da Florida em engenharia civil e também em Biologia.Formado na Mercer College , Nova Jersey em agrimensura (topógrafo).Proprietário e presidente há 24anos da empresa A-1 Land Surveys (A1LS.com) nos EUA.Técnico em Cultivo de Lúpulo pela Universidade de Minnesota State. Técnico em Criação e Cultivo de Lúpulo no Gorst Valley Farms. Proprietário da empresa Hops Brasil com produção de Lúpulo na Lupulandia, Penha, SP. Sócio de HopSP com duas produções de lúpulo em São José de Rio Preto e Guzolandia (SP)

DIEGO GOMES

Engenheiro apaixonado pela indústria de transformação, pós graduado em gestão empresarial, defensor do crescimento da participação do setor secundário no PIB e no desenvolvimento da educação, Diego é mestre cervejeiro e malteiro formado pela Doemens Akademie na Alemanha. Iniciou sua jornada em cervejaria em janeiro 2002 atuando desde estagiário de manutenção a diretor industrial do Grupo Petrópolis. Atualmente é responsável pelo planejamento da estratégia das áreas de transformação do GP, liderando os executivos envolvidos pela construção da filosofia do “campo” ao “copo” dentro do Grupo Petrópolis.

TERESA YOSHIKO

Técnica em agropecuária formada pela UFF, atua há 26 anos na área agrícola. Proprietária do viveiro Ninkasi que tem capacidade de propagação de 10.000 mudas de lúpulo mensais, e o primeiro viveiro com certificado de registro para o cultivo de lúpulo no Brasil.

JOSÉ HILÁRIO CORDEIRO NETO

Técnico Agrícola formado pela Escola Técnica Federal de Rio Pomba em 2002. Curso de projetos e equipamento para irrigação Rain Bird em 2007.Trabalha com Irrigação desde 2004. (IRRIGAR SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO)

JOSÉ PADILHA

Sommelier de cervejas pela Doemens Akademie e Mestre em Estilos pelo Siebel Institute. Consultor de cervejarias, docente da Escola Superior de Cerveja e Malte, expert em cerveja da rede Zona Sul, apresentador da coluna Carta de Cerveja da Band News, head sommelier do The Beer Planet e jurado de concursos nacionais e internacionais.

GUSTAVO FONSECA

Carioca, cozinheiro com 12 anos de experiência, já trabalhou com chefs como Alex Atala, no premiado D.O.M..Formou-se em gastronomia em Buenos Aires, período em que trabalhou com cozinheiros de todo o mundo, adquirindo e trocando experiências com grandes profissionais.Hoje se dedica a seu trabalho autoral em menus degustação para eventos e restaurantes, além de produção e conteúdo de gastronomia para fotografia e televisão, como o “Perto do Fogo”, do chef Felipe Bronze para o canal GNT.

ANA CLÁUDIA PAMPILLÓN

Sommelier de cervejas pelo Instituto da Cerveja (ICB), cervejeira artesanal, turismóloga e coordenadora da Rota Cervejeira RJ. Atuante no mercado de cultivo do lúpulo desde o início de 2018 com o objetivo de aproximar o produtor de lúpulo ao mercado de cervejas especiais.

Trapistinha do Sertão

A “Cerveja do Mês” de novembro escolhida pelo Lupulado é um dos rótulos mais interessantes produzidos no Vale do São Francisco. A Padim Cicerista é uma criação da Maribondo Sam, cervejaria artesanal localizada em Petrolina, que foi inspirada nas famosas cervejas Trapistas. “A receita foi elaborada em 2017 e a nossa intenção era de fato se aproximar o máximo possível das Trappistes Roquefort 8, que é uma das nossas preferidas. A ideia da Padim Cicerista veio exatamente por conta da impossibilidade de usar o nome Trapista; assim, criamos Cicerista para fazer uma referência ao Padre Cícero, um ícone no nordeste brasileiro”, disse o cervejeiro da Maribondo Sam Waldner Maribondo.

Padim Cicerista da Maribondo Sam (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Como é sabido, a origem do nome Trapista remonta ao ano de 1662; a expressão surgiu no mosteiro cisterciense de Nôtre-Dame de La Trappe, na França, pela mão de Armand-Jean Le Bouthillier de Rancé, fundador da Ordem Trappista ou Ordem Cisterciense. Estas cervejas, essencialmente, passam por um rígido processo de produção e controle nos mosteiros da ordem trapista. Em 1997, a International Trappist Association (ITA) foi criada para supervisionar a produção dessas cervejas; atualmente, apenas onze mosteiros no mundo, sendo seis deles localizados na Bélgica, podem produzir cervejas consideradas trapistas.

“As cervejas Trapistas são produzidas pela Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO). Podem ser brassadas apenas pelos Monges Trapistas, como se fossem uma ‘Denominação de Origem Controlada’, para fazer analogia à classificação dos vinhos. Por isso rotulamos nossa Padim Cicerista como sendo Cerveja de Abadia em vez de Trapista, pois é produzida fora das dependências de um mosteiro pertencente à OCSO. Na descrição informamos que é uma cerveja no tipo Trappist apenas para facilitar a identificação do público, visto que esta classificação é mais conhecida que a outra.”, destacou Felipe Zoby, outro cervejeiro na Maribondo Sam.

Os segredos da Padim

A análise sensorial da Padim Cicerista foi realizada em dois momentos distintos. No primeiro, provamos apenas a cerveja. No segundo, feito alguns dias depois, harmonizamos a Padim Cicerista com carne de Bode e um mix de queijos artesanais da Serra da Canastra, composto por quatro estilos: prato, parmesão, roquefort e reino. Logo após degustar a cerveja, provamos a trapista Orval para fazer uma comparação entre a cerveja da Abadia feita no semiárido brasileiro e uma clássica trapista belga.

Harmonização da Padim Cicerista com mix de queijos. (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Nesta análise, a Padim Cicerista apresentou corpo marrom opaco, espuma fina e aroma caramelado, tostado e frutado, dotado de frutas secas como passas e ameixa, além de sabor suavemente adocicado proveniente da adição de Candy Sugar. A cerveja é classificada como estilo Belgian Dark Strong Ale e possui IBU 30 e ABV 8%. “Na primeira receita, tentamos fazer nosso próprio Candy Sugar, caramelizando açúcar lentamente. Hoje, compramos Candy Sugar belga (açúcar de beterraba em forma de cristais)”, afirmou Zoby.

Harmonização da Orval com mix de queijo e carne de bode. (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

O final doce e o aroma frutado, somados ao baixo amargor de 30 IBU, fazem da Padim uma excelente pedida para regiões de clima quente como o semiárido. A carne de bode acrescentou mais um toque sertanejo ao paladar, enquanto os queijos remeteram à harmonização clássica com cervejas trapistas.

Copo com a Padim Cicerista (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Logos após terminar a garrafa da Padim, passamos à prova da Orval, uma das trapistas mais famosas. Esta Orval apresentou o tradicional sabor seco, diferente da Padim Cicerista, e a carbonatação que lhe é peculiar, bem acima da cerveja sertaneja. Por outro lado, a coloração marrom opaco da Orval e a espuma formada por bolhas, mesmo que mais densa, criou uma relação de proximidade com a Padim. “Já dizia a velha máxima: Toda Cerveja Trapista é de Abadia, mas nem toda cerveja de Abadia é Trapista”, enfatizou Zoby. “É importante esclarecer que Abadia ou Trapista não são estilos de cerveja, mas uma denominação de acordo com a tradição cervejeira oriunda dos monastérios. A Orval, uma das melhores Trapista do mundo, é do estilo Belgian Specialty Ale, enquanto a Padim é do estilo Belgian Dark Strong Ale. Nossas referências são a Trappistes Rochefort 8 e a Chimay Blue“,finalizou.

Copo com a Orval (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

A Maribondo Sam é uma das cervejas confirmadas para II Festival de Cerveja Artesanal do Vale do São Francisco. A Padim Cicerista, no entanto, não estará disponível no evento. Elas podem ser adquiridas sob encomenda através de direct message pelo Instagram da Maribondo Sam.

Alpha Bier Festival

Aconteceu na última sexta-feira (26) a 2a Edição do Alpha Bier Festival sediado no condomínio Terras Alphaville em Petrolina – PE. Realizado pelo segundo ano seguido e com sua terceira edição em planejamento, este festival vem contribuir para o crescimento do cenário cervejeiro da região, que já conta com eventos tradicionais como o Oktober Fest da Haus Bier, o Festival de Cervejeiros do Vale do São Francisco, dentre outros.

Moradores do AlphaVille em Petrolina e convidados prestigiam evento

Moradores do AlphaVille em Petrolina e convidados prestigiam a segunda edição do Alpha Bier Festival.

Neste ano, o Alpha Bier Festival reuniu associados do condomínio, seus familiares, convidados, mestres cervejeiros e apreciadores de cerveja artesanal.  Para harmonização, a hamburgueria 961 ofereceu cinco opções de burgers e o som ficou por contra da atração local “Temir e Banda”. A Vintage Tattoo e Barber Shop disponibilizou aos presentes serviço gratuito de barbearia além de realizar agendamento de outros, por exemplo de tatuador. “É o primeiro condomínio na região a fazer um festival assim. Um dos objetivos é familiarizar o público, neste caso os associados do Alphaville e convidados, com a cultura da cerveja artesanal”, disse o cervejeiro da Maribondo Sam Felipe Zoby.

Os cervejeiros da Maribondo Sam Felipe Zoby e Wal Maribondo (esq.).

Três cervejarias do Vale do São Francisco estiveram presentes, cada uma disponibilizando rótulos na torneira e em garrafa. A Na Tora HmB apresentou a witbier Chacrett (torneira) e a Demônia (garrafa). A cervejaria Doutorado do Chopp levou em garrafa seus quatro rótulos tradicionais – Weiss, Session, APA e IPA – sendo que o primeiro e o último também estavam disponíveis na torneira.

Da direita para esquerda: Lucyo e Rodrigo (Doutorado do Chopp), Ricardo (Du Pappi) e Caio.

A Maribondo Sam disponibilizou nas torneiras os estilos blonde ale “Alpha Blonde” e weiss com gengibre; na garrafa, ofereceu as cervejas Maribondo APA e IPA, além da trappist Padim Cicerista. “Procuramos mesclar a oferta trazendo estilos como IPA e APA, para satisfazer um público mais exigente, e outros mais leves, procurando atender justamente a parcela que não tem tanto hábito de consumir cerveja artesanal, mas aprecia regularmente as opções industriais servidas na maioria dos bares da região. Desta maneira, realizar um festival dentro de um condomínio é também uma forma de estimular os cervejeiros da região a produzir visando o público ainda sem tanto conhecimento da cultura cervejeira”, complementou Zoby.

Rômulo (dir.), cervejeiro na Apache Beer, ajuda o público na escolha dos rótulos.

Para o publicitário do Terras Alphaville, Yuri Leite, a segunda edição do Alpha Bier Festival é mais um evento dentre outros que ocorrem regularmente no condomínio. “Percebi que vários dos nossos associados eram cervejeiros; houve portanto o interesse mútuo de realizar o nosso próprio festival. A rede Alphaville no Brasil tem a preocupação de criar eventos voltados para o bem-estar de nossos associados”, destacou Leite.

Chapa quente: Hambúrgueres fazem harmonização com as cervejas artesanais

A associada Rosângela Jacó disse que o festival é muito interessante para complementar o lazer do morador. “Aqui já temos outros eventos, mas uma situação como esta é muito legal pois estimula uma interação entre os moradores”, destacou Rosângela. Para outro associado, Luiz Roma, “um evento como este, além de contribuir para nosso bem-estar, fortalece o sentido de comunidade, de companheirismo, algo que tem sido perdido hoje em dia”.

Os organizadores do Alpha Bier Festival informaram que entre 250 e 300 pessoas compareceram ao evento, consumindo cerca de 250 litros de cerveja. A terceira edição do Festival, ainda sem data oficial, deverá acontecer no primeiro semestre de 2019.

Mondial de La Bière 2018

Na semana passada aconteceu no Rio de Janeiro a sexta edição do Mondial de La Bière, considerado o maior evento cervejeiro do Brasil. Entre os dias 05 e 09 de setembro, o complexo de armazéns do Pier Mauá, na zona portuária da capital fluminense, recebeu mais de 160 cervejarias do Brasil e do exterior, como a famosa Goose Island, que disponibilizaram cerca de 1.500 rótulos de diferentes estilos. O Mondial de la Bière é um festival internacional de cervejas artesanais que começou há 25 edições no Canadá. No Brasil, o evento acontece no Rio de Janeiro desde 2013 e foi realizado pela primeira vez em São Paulo neste ano.

Visual no interior do Pier Mauá, no primeiro dia do Mondial de La Bière.Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Fila para entrar no quarto dia do festival. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Além das cervejas servidas em torneiras e garrafas, 25 food truck ofereceram opções para harmonização e cerca de 30 bandas foram encarregadas de fazer som em dois palcos montados no evento. A organização divulgou no site oficial do Mondial que a expectativa de público girava em torno de sessenta mil pessoas durante o evento; entretanto o número oficial ainda não foi divulgado pelos organizadores. Em alguns dias o público foi maior, por exemplo no sábado (08), quando os ingressos esgotaram na semana anterior ao festival.

Armazém 4 no primeiro dia do Mondial de la Bière. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Stand da cervejaria Antuérpia (MG) no Armazém 3: Grande vencedora do evento. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Stand da cervejaria Overhop de Angra dos Reis (RJ) no Armazém 3. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

O jornalista carioca Rafael Fernandes, 41, que esteve em quatro das seis edições do Mondial de La Bière no Rio, destacou: “de modo geral, o evento é muito bom, os expositores são muito atenciosos e sempre solícitos para explicar os rótulos e estilos; o problema é que eles não costumam dar provas das cervejas; poderiam até aumentar um pouco o preço da cerveja, mas servir uma prova para ajudar na escolha do que beber”.

Cerveja Névoa, New England Pale Ale da cervejaria Antuérpia – MG. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Rafael percebeu ainda melhorias no serviço médico e nas disposição de banheiros, especialmente os masculinos, o que considera ser importante especialmente em um festival de cervejas. Por outro lado, ele acredita que o Mondial está deixando de ser um evento cervejeiro para tornar-se algo mais cosmopolita. “Antes, por exemplo, tocavam música alemã; hoje toca só música pop. Acho legal, mas um evento assim poderia usar características e coisas mais típicas do universo cervejeiro ”, concluiu.

Torneiras características do stand da Overhop (RJ). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Beer truck da cervejaria CapaPreta (MG) no Armazém 3 do Mondial de La Bière. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Disputa entre cervejarias

Um dos momentos mais aguardados do Mondial da La Bière é o MBeer Contest Brazil, competição para indicar a melhor cerveja do evento (medalha de platina) e outras cervejas que se destacaram das demais (medalha de outro). Neste ano, 376 rótulos concorreram às medalhas, sendo avaliados previamente por uma comissão de 11 jurados. A principal novidade no concurso de 2018 foi anunciar os vencedores ao final do primeiro dia do evento, permitindo que o público soubesse desses rótulos logo de início.

A grande vencedora desta edição do evento foi a Nikita Cherry Hickey, uma Imperial Stout da Cervejaria Antuérpia (MG). João Cléber, cervejeiro na Antuérpia, contou um pouco mais sobre o rótulo premiado.

Na tabela a seguir, confira as outras 12 cervejas premiadas com medalha de ouro na sexta edição do Mondial de lá Bière. Um fato que chama atenção é a presença do estilo Catharina Sour, com quatro rótulos, entre os medalhistas de ouro. A estes, acrescenta-se outros rótulos na linha sour, isto é, cervejas com um paladar mais azedo (ácido), que muitas vezes trazem adição de frutas cítricas e apresentam como característica principal o uso de leveduras selvagens, aquelas que se encontram livres pelo ambiente,  por exemplo as Brettanomyces.

Rótulo Cervejaria Estilo
Treta Cervejaria Suburbana Berliner Weiss
Roter Brauhof Roter Sour Ale Sour Ale
Gravioh lala Overhop Catharina Sour
Aternum Overhop Americam Imperial Stout
Catharina Sour Goiaba Mistura Clássica Catharina Sour
Gone Mad Wonderland Brewery American IPA
Brewer’s Cut Dádiva American Sour
Guanabara Wood Aged Colorado Imperiam Russian Stout
Saboya Cerveja Matisse Catharina Sour
Thirsty Harks Farm Brewery Wood Gin Barrel Aged Ginga de La boe Sour Ale
Regina Sour Framboesa Bodebrown Berliner Weiss
Cacau IPA Wood Age Bodebrown American IPA
#2anos Farra Bier Catharina Sour

A cervejeira Anna Lewis , da medalhista de ouro Wonderland Brewery, participou pela primeira vez como expositora do Mondial de La Bière. Anna nasceu na Sibéria e foi morar no Estados Unidos, onde casou-se com Chad Lewis que também é sócio da Wonderland. Conheceram um cervejeiro carioca, Pedro Fraga, que apresentou-lhes o mercado brasileiro. “Nos inspiramos muito na cultura cervejeira norte americana e procuramos utilizar este conhecimento nas receitas que desenvolvemos. Pedro é uma ótima pessoa, tornou-se nosso parceiro na Wonderland. Ele deu um toque especial nas nossas receitas, tornando-as ainda mais interessantes”, disse Anna, que mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro em abril.

Anna Lewis cervejeira na Wonderlan Brewery (RJ). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

A cerveja premiada da Wonderland, Gone Mad, é uma American IPA com 4 tipos de lúpulos, que segundo Lewis pode criar uma harmonização especial com ostras e frutos do mar, além de harmonizar tradicionalmente com burgers.

Gone Mad, cerveja medalha de ouro da Wonderland Brewery (RJ).Foto: Luiz Adolfo Andrade.

O nordeste do Brasil foi representado na sexta edição do Mondial de La Bière pela cervejaria pernambucana Ekäut. Além das sua cervejas tradicionais como a Munich Helles e a American IPA, a cervejaria brindou o público com dois lançamentos: a Sour de Cajá e a Ris Bolo de Rolo.

Davidson Dias, cervejeiro na Ekaut (PE). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

“As cervejarias nordestinas estão fazendo sucesso e a gente precisa se inserir no mercado do sul e sudeste; o nordeste está se tornando referência em como fazer cerveja e precisamos mostrar isso aqui”, disse o cervejeiro da Ekäut Davison Dias, que participa do Mondial pelo segundo ano consecutivo.

Alguns goles com Ruiz

“O nosso foco é fazer uma experiência maneira para todos que estão na Farra, seja consumidor, seja colaborador, seja fornecedor. E assim a gente vai levando”. Esta frase pertence ao cervejeiro da Farra Bier, Fabrizio Ruiz, e foi usada para ilustrar o astral percebido no staff da cervejaria durante os trabalhos no Mondial de La Bière. Publicitário com MBA em Finanças, Investimento e Risco pela FGV, Fabrizio tem 38 anos e trocou a rotina de quase duas décadas trabalhando em um banco pela vida como empreendedor e cervejeiro na Farra Bier. A cervejaria foi outra medalhista de ouro na sexta edição do Mondial de Lá Bière com a Catharina Sour #2. “Meus colaboradores precisam se sentir felizes, acordar de manhã e sair felizes para um dia de trabalho. Quem está ali tem que estar feliz com que está fazendo; na Farra tudo é com muito amor e paixão. O objetivo maior não é reduzir custos de produção nem ganhar mercado”, disse o cervejeiro. Partindo desta premissa, Ruiz concedeu entrevista ao Lupulado após experimentarmos alguns de seus rótulos.

Fabrizio Ruiz, cervejeiro e fundador da Farra Bier (RJ), exibe a premiada #2anos. Foto: Luiz Adolfo Andrade

Lupulado: Quantas edições do Mondial de La Biére a Farra Bier já participou?

Fabrizio Ruiz: A primeira vez que participamos foi em 2016, tínhamos um mês de fundação e apenas um rótulo, a “All in IPA”. Não tínhamos stand no evento, éramos uma apenas uma torneira dentro do stand de uma cervejaria parceira. Na edição de 2017, fomos com stand próprio e 6 torneiras. Ganhamos nossa primeira medalha de ouro. Em 2018, dobramos o tamanho de nosso stand e número de 12 torneiras. Faturamos a nossa segunda medalha de ouro.

Lupulado: Qual a razão do nome Farra bier?

Fabrizio Ruiz: Farra tem tudo a ver com cerveja, amigos, momentos… e é isso que proporcionamos! Não vendemos cerveja, proporcionamos uma experiência: Isso é Farra!

Carta de cervejas da Farra Bier no Mondial de la Bière. No copo, a Pool Party, outro excelente rótulo da Farra Bier. Foto: Luiz Adolfo Andrade

 

Lupulado: Seu foco é o mercado cervejeiro do Rio de Janeiro ou pretende comercializar os rótulos da Farra em outros estados, especialmente os do Nordeste?

Fabrizio Ruiz: Não há um foco no mercado do Rio. Estamos trabalhando pra ampliar nossa distribuição. Nossa cervejaria tem 2 anos e aos poucos estamos aplicando nossa capilaridade. O nordeste é uma das regiões que pretendemos focar e 2019 será possível encontrar Farra por lá.

Lupulado: Pode comentar um pouco sobre sua cerveja premiada, a #2anos?

Fabrizio Ruiz: A #2anos é uma Catharina Sour com tangerina e adição de brettanomyces, envelhecida em barril de carvalho, que foi utilizado em outro momento para maturação de vinho Chardonnay. O resultado é uma cerveja seca, frisante, bem refrescante, ácida, com notas de tangerina, abacaxi, uva verde, remetendo muito ao vinho branco e à champanhe.

Fábrica da Farra Bier em Guapimirim – RJ. Fonte: Fabrizio Ruiz.

Lupulado: O que você acha de associações como as ACerVa? Você considera importante que os cervejeiros se associem a estes coletivos?

Fabrizio Ruiz: Tenho cinco anos de filiação à AcervA Carioca. É muito importante ser associado quando o cervejeiro produz cerveja caseira, mas perde um pouco de relevância quando se passa a ser cervejaria comercial. Contribui para o fortalecimento da cultura cervejeira sim, mas pra defesa do setor não até porque não é o objetivo desse coletivo. Por isso, aqui no Rio fundamos em 2017 a AMACERVA, cujo objetivo é defender e melhorar a cena artesanal Carioca. Os associados são as cervejarias.

Lupulado: Na sua opinião, qual maior obstáculo para quem produz cerveja no Brasil?

Fabrizio Ruiz: Sem dúvida são os impostos. A maioria dos produtos é importada e a carga tributária deixa esses itens muito caros. Além disso, existem impostos após a produção, o que encarece o produto final, dificultando a penetração no mercado local. Fora do Estado, ainda incidem outros impostos, como ICMS-ST, que majora significativamente o valor da nota, praticamente inviabilizando a venda.

Lupulado: Como você enxerga o embate entre cervejarias industriais x cervejarias artesanais? Depois de cervejaria artesanal ser o ramo que mais cresceu no Brasil em 2015, segundo o SEBRAE, você acha que a indústria retomou a força em função de exigências por parte da Anvisa, como as certidões?

Fabrizio Ruiz: Na verdade, acho que estes termos (industrial e artesanal) não fazem mais tanto sentido uma vez que, para ser vendida em lojas, toda cerveja tem que ser industrial; aqui no Rio não há venda de cerveja que não seja produzida em uma fábrica certificada pelo MAPA. A diferença entre cervejarias artesanal e industrial, no meu ponto de vista, está no volume e no resultado final do produto. Particularmente acho que são produtos pra nichos diferentes de mercado e irão coexistir sempre, como em qualquer lugar do mundo. Cabe ao consumidor escolher o que cabe ao seu paladar e no bolso.

Lupulado: Para finalizar, você poderia comentar brevemente sobre sua história profissional; por que decidiu abrir mão do cargo de analista sênior em um banco público para empreender no ramo de cervejas artesanais?

Fabrizio Ruiz: Passei no concurso do banco com 19 anos e trabalhei lá por quase duas décadas. Consegui estruturar a minha saída pra tocar algo que me apaixona, que me motiva, que faz sentido para minha vida. É uma questão de perfil: Sempre gostei de empreender. Sou tomador de risco, não gosto de rotinas e tenho disposição pra enfrentar as adversidades do mundo empresarial. Hoje sou sócio da Farra Bier; produzindo cerveja, participo direta e indiretamente de momentos felizes das pessoas e isso é muito gratificante para mim. Aproveito pra deixar um recado para os leitores do Lupulado: A plenitude da vida está em ela fazer sentido, não importa o que você faça.