UM MANIFESTO EM FORMA DE CERVEJA

#diáriodaquarentena

A Cervejaria Heilige, de Santa Cruz do Sul – RS, lançou o kit de cervejas SadoMasoQuista para celebrar 10 anos de sua criação. Este projeto apresenta uma face inusitada com nuances de um manifesto, um estilo textual que busca relatar/alertar para problemas e situações correntes (veja o texto completo do manifesto da Heilige no final do post).

De forma criativa, a Heilige procurou elencar nos textos que compõem o manifesto parte dos problemas típicos do processo de fazer cerveja no país, como a incidência de impostos e taxas praticados no meio cervejeiro, que causam aumento de até 60% no preço final do produto, além do alto custo logístico e da burocracia; tudo isto causa desconforto em quem produz cerveja no Brasil, que passa ser concebido de forma irônica como Sadomasoquista. O kit é formado por três cervejas, que são embrulhadas em papel de seda com parte do texto do manifesto da Heilige. Cada rótulo segue um estilo diferente: a SADO é uma Brut Ipa, a MASO é Russian Imperial Stout e a QUISTA é uma Berliner Weiss. Na Bahia, este kit está disponível para Salvador e todo o estado no site Cerveja Salvador.

“Este projeto nasceu em uma manhã de domingo, em novembro de 2019, quando eu participava de um curso de Off-Flavor, em Porto Alegre, junto com um dos fundadores da Heilige, Rodrigo Yung, o cervejeiro Paulo Sarvacinski e a Aline Viecinski, que responde pelo laboratório da fábrica. Comentávamos, na ocasião, que existe muito romantismo quando se pensa em fazer cerveja, mas que por trás também existe um universo de trabalho meio que desconhecido do público. Foi quando surgiu a ideia de comemorar os 10 anos da Cervejaria Heilige para além do lançamento de uma cerveja, mas lançar um manifesto ao mercado cervejeiro. Passamos muita coisa pra chegar até aqui e sabemos que tem mais gente que passa por isto também. Foi nossa maneira de levantar a bandeira e falar ‘estamos juntos’, mesmo nestes tempos de pandemia”, explicou a Sommelière da cervejaria Heilige e uma das idealizadoras do projeto, Juliane Rosa.”A ideia é justamente causar um desafio sensorial que proporcione certa inquietação, fazendo referência aos prazeres e aos incômodos de produzir cerveja no Brasil”, complementou Juliane.

A prova das cervejas começou com um desafio: escolher a ordem dos rótulos para degustação. Normalmente, inicia-se pelo estilo mais leve, seguindo para os mais extremos; porém, a opção feita foi provar seguindo a ordem criada pelos nomes Sado+Maso+Quista. “Esta é a nossa primeira provocação: decidir a ordem para degustação.  A lógica que costumamos seguir é escolher primeiro o estilo mais leve, mas aí propomos uma ordem pelo nome do kit, que não segue esta sequencia ”, disse Juliane. “Nosso cervejeiro Paulo Sarvacinski teve total liberdade de escolha para os estilos. Como se trata de cervejas comemorativas, com edição limitada, a pessoa pode escolher à vontade a sequencia que sentiu mais vontade de fazer”, destacou a Sommelière.

SADO apresentou visual límpido, cor acobreada, espuma cremosa e carbonatação com bolhas finas que fazem referência aos espumantes, como sugere este estilo uma Brut IPA . O aroma entregou em primeiro plano a uva verde, seguidas de notas herbais e de frutas tropicais como abacaxi e maracujá  Muito refrescante, na boca apresentou baixo amargor (28 IBU), corpo médio e teor alcoólico moderado (5,3 ABV).

A MASO apresentou o tradicional visual escuro, fosco, típico do estilo Russian Imperial Stout; baixa formação de espuma e aroma com notas de coco e café torrado. Mesmo licorosa (ABV 11%), com corpo alto e moderadamente amarga (40 IBU), trata-se de uma cerveja bem fácil de beber, que trouxe para a boca notas de madeira, coco e castanha, além de retrogosto adocicado.

Por fim, a Berliner Weiss QUISTA apresentou aromas cítricos, especialmente limão, coloração amarela, espuma cremosa e alta carbonatação. Na boca, proporcionou uma experiência de corpo baixo e muita acidez, com pouco álcool (ABV 3,3%) e amargor (4 IBU).

“Em vez de 4-pack ou 6-pack, pensamos em um kit composto por três cervejas, pois a ideia era ter uma ácida, uma picante e uma extremamente carbonatada. Separadas elas são ótimas e lembram a parte boa do processo, da pessoa faz o que gosta (produzir cerveja) com dedicação e capricho. Juntas, elas impõem um desafio sensorial ao paladar, pois a soma das sensações provocadas por elas causa desconforto, isto é, o cérebro entende o resultado desta operação como uma sensação de incômodo. A proposta é realmente essa – incomodar”, finalizou Juliane.

Confira o texto do manifesto na integra, que vem escrito nas embalagens das cervejas do kit SadoMasoQuista: 

Criar uma marca do zero em qualquer seguimento no Brasil é uma tarefa árdua. As oscilações da economia no mercado brasileiro tornam a tarefa de empreender um desafio enorme.

Em 2015, por meio da pesquisa de Demografia das Empresas o IBGE apresentou que 60% das empresas com pouco mais de 5 anos fecham suas portas. Segundo o instituto das 733,6 mil empresas abertas em 2010, somente 277,2 mil – 37,8% do total sobreviveram até 2015.

Em Janeiro de 2019, o Boa Vista divulgou uma pesquisa apontando que em 2018, 96,5% das empresas do país que entraram em processo de falência eram Pequenas Empresas. Pequenas Empresas que nunca poderão ser grandes, pois acabaram antes.

O cenário da produção de cerveja no Brasil é ainda mais dramático no que concerne os desafios de crescimento. A carga tributária é responsável por até 60% do preço final do produto.
Impostos que incidem sobre a cerveja:

PIS – tabelado por litro/garrafa
Cofins – tabelado por litro/garrafa
IPI – tabelado por litro/garrafa
ICMS – percentual que varia de estado para estado
ICMS-ST (Substituição Tributária) – percentual que varia de estado para estado
Ampara – Fundo de Proteção e Amparo social do RS
IPRJ – imposto de renda para pessoas jurídicas
CSSL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

O ICMS-ST, a chamada Substituição Tributária, no preço de venda, faz com que o mesmo produto tenha tabelas diferentes para cada um dos estados aonde a empresa comercializa a cerveja. Misturando isso a um universo competitivo, em que as grandes redes tem lojas e centros de entregas em vários estados diferentes torna-se uma engenharia e tanto fazer a conta fechar positiva, e ainda permitir a venda para o consumidor.

Seja por Pauta ou Margem de Valor Agregado (MVA) o empresario tem como o maior corrente de mercado as taxas de impostos. Isso acontece pois o produtor é forçado a pagar a tributação pela cadeia inteira, muitos desses impostos são pagos antes mesmo do produto sair da fábrica, ou seja, bem antes da empresa receber pela venda.

Além do vergonhoso custo tributário, não podemos menosprezar o alto custo logístico, intensificado pelas estradas em más condições; além das inúmeras burocracias para registros e liberação de alvarás e a oscilação cambial.

Diante disso, ainda existem poucos fornecedores, custos elevados de equipamentos principalmente comparado a países como EUA e países Europeus onde o fomento dos negócios no segmento recebem uma atenção muito maior. Sem dúvida, a lista é grande.

O resumo desta história é o mesmo para quase todas as cervejarias, trocando apenas alguns personagens. Enfrentar e superar tudo isso é digno de ser chamado de Sadomasoquista, pois apenas gostando de uma dose extra de sofrimento para escolher esse mercado para investir.

É exatamente esse o nome da cerveja, ou melhor das cervejas, que a Cervejaria Heilige produz para celebrar os 10 anos, e sua trajetória de crescimento no mercado Craft. São 3 cervejas: uma ácida, uma picante e uma extremamente carbonatada. Separadas elas são ótimas, e lembram a parte boa de quem faz o que gosta com dedicação e capricho. Juntas elas são um desafio sensorial ao paladar, pois a soma das sensações provocadas pelas 3 causam desconforto. A proposta é realmente essa – Incomodar.

São dez anos de historia da Cervejaria Heilige, de luta constante para levar ao publico um produto de qualidade que justifique passar por todos esses perrengues de quem empreende no Brasil, e a Cervejaria Heilige não quer deixar passar esse momento sem levantar essa bandeira. Não tem romantismo no universo da cerveja. Tem muito esforço e tem historias para contar, e por querer seguir em frente é que esse lançamento vem para desconcertar, tirar do lugar e levantar a discussão.

Com tudo isso a Heilige fez muito nesses 10 anos! Imagina aonde nós, e todas as marcas de cerveja especial, que compõe o mercado nacional de cerveja, vamos chegar se esse cenário for melhor? Seguimos. Vida longa a cerveja especial, vida longa para todos nós para ver o que vem por ai!

ALL TOGETHER: UMA VISÃO DO BRASIL 4 MESES DEPOIS

#DiárioDaQuarentena

Um projeto que vem se destacando no meio cervejeiro durante a quarentena provocada pela Covid19 é o All Together – “Todos Juntos”, em português. Esta ação foi idealizada pela cervejaria norte-americana Other Half para ajudar profissionas que foram afetados pelo fechamento e/ou redução das atividades em bares, taprooms e demais estabelecimentos no ramo. No final de março, a Other Half compartilhou pela internet receita e rótulo da All Togther; qualquer pessoa pode baixar e fazer sua cerveja seguindo essas informações, porém deve se comprometer em reverter parte do lucro em prol de bartenders, garçonetes, garçons, sommeliers, cervejeiros/as, músicos, musicistas e demais colaboradores/as que tiveram trabalho e renda reduzidos em face da pandemia.

Apesar do reconhecido sucesso do All Together, é incerto precisar em níveis mundial e nacional quantas cervejarias efetivamente aderiram à empreitada. O site do projeto mostra em sua interface um mapa com a localização de 855 cervejarias participantes espalhadas por 53 países diferentes; 16 delas funcionam no Brasil. Entretanto, quem segue a atividade das cervejarias brasileiras sabe que existe uma discrepância entre estas informações e a oferta nacional de rótulos “All Together”. EverBrew (Santos-SP), Dogma (São Paulo), BrewLab (Rio de Janeiro) Trilha (São Paulo), e Koala San Brew (Belo Horizonte) são exemplos de cervejarias conhecidas que engajaram no projeto All Together, porém não figuram no mapa; se buscarmos por cervejarias caseiras este número tende a crescer, comprovando que é uma missão difícil contabilizar todas as participantes.

Na tentativa de dirimir esta questão, o Blog Lupulado usou a ferramenta disponível no site do projeto All Togetter para entrar em contato com os organizadores. Fomos atendidos de forma bem amável e solícita por Amy Burns, membro da Stout Collective, estúdio especializado na produção de conteúdo para cervejarias que é parceiro da Other Half neste projeto, criando o design do rótulo da All Together. “É impossível, para nós, rastrear com precisão todas as cervejarias; certamente, sempre existem outras que estão participando. Nós listamos apenas aquelas que se inscrevem através do website do nosso projeto; colocamos todas informações conforme solicitado pela cervejaria”, disse Amy. “Por outro lado, é uma noticia muito boa saber que existe esta adesão ao nosso projeto no Brasil e esperamos que esteja realmente ajudando as pessoas afetadas pela pandemia. Muito obrigada pela parceria e suporte das cervejarias brasileiras! Somos realmente agradecidos! O projeto decolou no mundo todo e isto é ótimo de ver”, complementou.

Mapa no site do projeto All Together, com a localização das cervejarias no Brasil.

No estado da Bahia, apenas a cervejaria cigana MinduBier (Salvador) aparece no mapa acima; entretanto, o Blog apurou que, além da Mindu, a cervejaria caseira HopDevils HomeBrewing (Jacobina) está com o lançamento engatilhado da sua All Together. “Nós fizemos a inscrição e o mapa da All Together já se encontra atualizado com a nossa participação. A cerveja foi envasada ontem; acredito que na semana que vem a All Together da Mindu já estará disponível”, disse o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins. Já o cervejeiro da HopDevils HomeBrewing, Pedro Dourado, revelou que sua All Together estará pronta em 20 dias.

Primeira mão: All Together da MindBier pronta para lançamento.

Provando All Together

O Blog Lupulado fez a prova de quatro cervejas nacionais All Together, que estão disponíveis em Salvador. Duas delas figuram no mapa: a produzida pela Locals, Only (São Carlos-SP) e a colab feita por Japas (São Paulo) e Narcose (Capão da Canoa-RS); já as outras duas não aparecem, lançadas respectivamente por EverBrew e Octopus (Rio de Janeiro). Especialmente no aspecto visual e aroma, fica nítido que estas cervejas são bem parecidas em função do estilo comum (NE IPA) e logicamente por partirem da mesma receita. Porém, o trabalho  seminal dos cervejeiros da Other Half dá margem para criatividade das cervejarias parceiras. “Criamos uma receita mais simples, que utiliza uma base de maltes de custo relativamente baixo e lúpulos mais disponíveis pelo mundo; na verdade são duas receitas, que podem ser utilizadas respectivamente na brassagem de cervejas West Coast IPA e New England IPA”, explicou o cervejeiro Sam Richardson, que fundou a Other Half junto dos colegas Matt Monahan e Andrew Burman, no Brooklin, Nova York, em 2014. Alguns registros que encontramos de outras All Together pelo mundo sinalizam brechas para criatividade de cervejeiros/as parceiros na hora de executar a receita, fugindo um pouco das características desses estilos; são os casos, por exemplo, da Session IPA da Lervig (Noruega) e da Imperial IPA da Modist Brewing Company (Estados Unidos), que é o segundo rotulo desta cervejaria feito dentro da proposta All Together.

Joílson, colaborador na Vitrine da Cerveja, exibe a lata da All Togerther Jappas/Narcose

A colaborativa feita pela Japas e Narcose apresenta aroma carregado de notas cítricas, com proeminência do Maracujá. Cor dourada, visual límpido, sem resíduos e boa formação de espuma. Na boca, sabor marcante do maracujá, baixo amargor (IBU N/A) e um pouco licorosa apesar do teor alcoólico não ser tão alto (ABV 6%). “A Jappas e a Narcose nos orientaram a reverter parte do valor arrecadado com a venda desta cerveja para meus colaboradores aqui da loja; é o que vamos fazer”, disse o diretor comercial da Vitrine da Cerveja, Claiton Santos.

All Together da Jappas e Narcose.

Já a All Together da Locals, Only mostra cor e formação de espuma bem semelhantes à cerveja da Japas e Narcose, porém com resíduos visíveis de aveia. O aroma também é cítrico, mas sem a proeminência do maracujá. Baixo amargor (IBU N/A), corpo macio e menos licorosidade apesar de levemente mais alcoólica que a Jappas/Narcose (ABV 6,2%). Disponível na Vitrine da Cerveja, em Salvador.

All Together da Locals, Only.

A cerveja da Everbrew traz aroma de frutas tropicais, como abacaxi e melão, espuma cremosa, cor amarela e a turbidez típica das NE IPAs. Corpo sedoso, teor alcoólico ligeiramente mais elevado que as anteriores (ABV 6,5) e amargor mais acentuado (IBU 60%); entrega uma combinação muito bem equilibrada entre suculência (juicyness) e amargor. Em sua conta no site de redes sociais Untapdd, a cervejaria EverBrew anunciou que irá reverter parte do valor arrecadado em prol dos músicos que tocam na casa. Também encontrada na Vitrine da Cerveja.

Growler com All Together da Everbrew.

Por fim, a All Together da cervejaria Octopus também apresenta no aroma o perfil cítrico, com notas de melão bem presentes e também um toque gramíneo, traduzindo uma das marcas da interferênciai novadora na receita original; este procedimento é sinalizado pela própria cervejaria Octopus. Na parte visual, apresenta espuma cremosa e a turbidez característica dos estilos NE IPA, porém mais acentuada que nos casos anteriores. Na boca, entrega notas de melão, um corpo sedoso e amargor moderado, com leves notas picantes e condimentadas, revelando mais traços da criatividade da Octopus na elaboração da sua All Together. Disponível no site Cerveja Salvador.

All Together da cervejaria Octopus.

 

QUARENTENA PRODUTIVA: CERVEJARIA MINDUBIER APRESENTA MAIS UM LANÇAMENTO EM JULHO

#diáriodaquarentena atualizado em 23/07 às 20:11

A cervejaria soteropolitana MinduBier lançou ontem a OatBurst, uma NEIPA que carrega em si característica marcante: alta carga de aveia. O próprio nome é uma síntese do inglês “Oatmeal Burst”, que em português pode ser traduzido como “explosão de aveia”.  Este é o terceiro lançamento da MinduBier em menos de um mês; poucos dias atrás, a cervejaria lançou a colab Espelho d’Água e a Klooster, uma Belgium com amendoim. Nestes dias difíceis, a cervejaria sinaliza de forma criativa que é possível prosperar durante a crise provocada pela COVID-19. “O segredo é a estratégia. O público está sedento por novidades; então passamos a focar em lançamentos, porém com lotes únicos”, destacou o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins .

A OatBurst é mais um rótulo adicionado ao portfólio de sazonais da cervejaria; diferente da MinduHaze e da MindCloudy, outras NEIPAS produzidas recentemente pela Mindu a partir da mesma base, a OatBurst seguiu outra linha. “Alterei a base de maltes. Também utilizei uma carga de aveia muito maior que a convencional, além da base com os lúpulos Citra, Mosaic e El Dorado”, disse Gustavo.

Visual turvo da OatBurst

De fato, as altas cargas de aveia e lúpulo protagonizam este lançamento da MinduBier. O aroma é extremamente cítrico e frutado, carregado de notas de maracujá e abacaxi. A cor da cerveja é bem amarelada e sem resíduos, além da turbidez típica em decorrência  da grande adição de aveia (40%). Na hora do gole, a aveia também confere à cerveja um corpo macio e sedoso, acompanhando de um amargor (40 IBU) que escamoteia seu considerável teor alcoólico  (6,6% ABV).  Frente às outras NEIPAs do portfolio da MinduBier, podemos dizer que, na boca, a OatBurst apresenta menos suculência (juicyness) porém entrega amargor mais equilibrado, além de ser um pouco mais resinosa.

“Esta receita faz parte do nosso processo de ciganagem com a cervejaria Dádiva, em Várzea Paulista – SP. O (cervejeiro da Dádiva) Victor Marinho é um parceiro importante, que nos ajuda supervisionando e fazendo adaptações na receita, o que complementa a experiência da ciganagem. Nós mandamos a receita original,  conversamos sobre detalhes sensoriais; em cima dos comentários do Victor, fechamos um piloto”, finalizou Gustavo. A parceria com a Dádiva ajuda também na distribuição da OatBurst, que está disponível em todo Brasil para entregas ou retiradas em lojas. Em Salvador (com envio para toda a Bahia), a cerveja pode ser encontrada tanto em lata quanto chopp nas lojas Cerveja Salvador, Kombita, Vitrine da Cerveja, Chopp Shopdentre outras que estão operando via delivery ou retirada; pode-se ainda pedir diretamente pelos canais de vendas da Cervejaria MinduBier (whastapp: 71 99708 9440).

 

Espelho d’água: Cervejarias se unem para ajudar cooperativa na Bahia

#diáriodaquarentena

Dez cervejarias se uniram para fazer uma boa ação durante a quarentena provocada pela COVID19. Dádiva, Japas, Mafiosa, Augustinus, Quatro Graus, Treze, Cathedral, Orchid, Mindubier e 4Islands (Holanda) lançaram a colab Espelho D’Água, uma American Pale Ale criada para ajudar a Cooperativa Repescar, coletivo formado por pescadoras (es) e catadoras (es) de mariscos que foi bastante afetada pelo fechamento de bares e restaurantes.

Colab Espelho D’Água

A Cooperativa Repescar foi fundada em 2005 no município de Vera Cruz, que fica na borda leste da ilha de Itaparica, distante cerca de 5 km de Salvador. Sua principal fonte de renda vem do fornecimento de peixes e mariscos para estabelecimentos comerciais, como bares e restaurantes; com a suspensão de grande parte das atividades nestes locais, as finanças da Repescar foram profundamente afetadas. Para amenizar esta situação, um percentual do que for arrecadado com a venda da Espelho D’Água será repassado para a cooperativa. “Ficamos muito felizes com o apoio dado por essas cervejarias. A gente vai reverter este valor em cestas básicas, que serão doadas para cerca de 400 famílias de trabalhadores assistidas pela Repescar”, disse o assessor técnico de gestão da Cooperativa Repescar, José Carlos Bezerra, o Zeca.

Pessoal da Cooperativa Repescar durante mais um dia de trabalho em Vera Cruz. Fonte: arquivo pessoal José Carlos Bezerra (Zeca).

Apoiar causas sociais não é algo novo no meio cervejeiro. Durante esta pandemia, por exemplo, o Blog Lupulado destacou o trabalho feito pela cervejaria Mito no Rio de Janeiro. No ano passado, a loja Vitrine da Cerveja, em Salvador, promoveu o evento Chopp Solidário como forma de arrecadar donativos para o Asilo São Lázaro; naquela época, o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins, destacou o potencial do meio cervejeiro para ajudar nas causas sociais, o que ficou comprovado novamente agora com o projeto da Espelho D’ Água. “Desde o início da pandemia estamos tentando viabilizar um projeto para ajudar o meio. Aí encontramos na Dádiva o apoio necessário. Juntaram todas as cervejarias da Distribuidora e bolamos esse rótulo. A escolha em ajudar a Cooperativa Repescar também nos deixou muito felizes, pois foi sugestão da Mindu, após conversa com (chef) Fabrício Lemos, do (Restaurante) Origem. A sugestão da Mindu foi aceita por todas as cervejarias e o rótulo foi pensado justamente para dar apoio à cooperativa”, disse Gustavo.

Alta qualidade: Parte do pescado fornecido pela Cooperativa Repescar. Fonte: José Carlos Bezerra (Zeca).

A Espelho D’Água é uma cerveja leve (5,2% ABV) e bastante aromática, com notas cítricas e de frutas tropicais. Boa formação de espuma, visual límpido e cor dourada. Corpo médio, amargor acentuado (50 IBU) e bem equilibrado com o aroma, com notas de menta no retrogosto. “Ela harmoniza com todos os mariscos; especialmente aratu, ostra e siri caem muito bem com esta cerveja”, recomendou Zeca. Em Salvador, a Espelho D’Água pode ser encontrada em latas e em chopp, nas lojas Cerveja Salvador, Vitrine da Cerveja, Casa Olec, além do canal de vendas da MinduBier.

A cooperativa Repescar está atendendo diretamente clientes interessados em peixes e mariscos através de seu perfil no Instagram; os pedidos também podem ser feitos pelo Goomer. Além das cervejarias, a Repescar está recebendo apoio de outros parceiros, como a ONG Humana Brasil, e também doações, que podem ser feitas através da conta:  Cooperativa de Pescadores e Marisqueiros de Vera Cruz – Banco do Brasil, Agência 3.921-7, Conta: 21.117-6, CNPJ:07.738.722/0001-97

Cooperada em ação na Ilha de Itaparica – BA. Fonte: Arquivo pessoal José Carlos Bezerra (Zeca).

Cooperadas exibindo resultado do trabalho. Fonte: Arquivo pessoal José Carlos Bezerra (Zeca).

 

Quarentena Defumada: Rauchbier feirense chega em Salvador

#diáriodaquarentena

Feira de Santa é o segundo município do Estado da Bahia e a maior cidade do interior do Nordeste. Possui no comércio sua principal atividade econômica e ocupa posição geográfica estratégica, situada no cruzamento das rodovias BR 116 e 101. Em 1919, recebeu de Ruy Barbosa a alcunha de “Princesa do Sertão” justamente por conta da sua localização privilegiada. No comércio de Feira de Santana, o ramo de cervejas artesanais parece bem desenvolvido, dispondo de tudo que se espera encontrar – clientela, lojas especializadas, mercadoria diversificada e, claro, cervejarias. Neste cenário, a Cervejaria Dragórnia desponta com proposta bem original, fundamentada em elementos medievais, que apresenta no seu portfólio  um estilo de cerveja pouco comum Brasil: uma Rauchbier, chamada Dragornia Bamberg Marzen Rauchbier, que carrega em si as características clássicas das cervejas defumadas alemãs.

“A Dragornia nasceu 2013, mas não era exatamente uma cervejaria. Nós éramos três amigos que se uniram para fazer Hidromel e um evento chamado ‘Banquete dos Três Reinos’, que era uma evolução do Jantar Medieval anual que acontecia em Feira de Santana. Nesta época éramos chamados de ‘Taberna Dovahkin’ e lançamos um rótulo de Hidromel especial chamado ‘Dragornia’, mesmo nome que batizamos nosso motoclube. A gente sempre quis fazer cerveja, mas não imaginávamos que viraria um negócio grande, nem nada”, disse o sommelier da Dragornia, Carlos Henrique Kruschewsky.  “Nós adoramos carne de porco e nos nossos jantares medievais a gente fazia um porco inteiro no rolete. Para harmonizar, Rauchbier foi meu estilo favorito por bastante tempo, porém era difícil de encontrar. Foi aí que decidi produzir e comecei um estudo até chegar nesta receita”, revelou.

Companheiros do motoclube Dragornia: Carlos Henrique (esq.), Diego, Renato (sócio da cervejaria), Jordan e Dalmo (Fonte: Carlos Henrique Kruschewsky).

A Dragornia Bamberg Marzen Rauchbier, via de regra, entregou no primeiro plano o aroma de bacon típico do estilo; espuma cremosa, visual clássico na cor âmbar e opaca; notas defumadas no sabor e leve tosta no retrogosto, além 5,3 % de ABV e 28 IBU. “A gente não queria uma Rauchbier carregada demais no bacon. Então optamos por um grist de maltes que nos desse bacon, claro, mas que remetesse também aos embutidos defumados como peito de peru, por exemplo. Todo o processo de “tosta” que você sentiu na cerveja tem a ver com esse grist de maltes que usamos”, revelou Carlos. “A gente queria que nossa Rauchbier seguisse à risca tudo que a Escola Alemã de Cervejas pede; então usamos um blend de lúpulos de origem alemã seguindo a Lei de Pureza de 1516“, complementou o sommelier.

Além da Rauchbier, o portfolio da Cervejaria Dragornia conta com outros três rótulos: uma Weizenbier, uma Imperial IPA e uma America Red Ale, que é seu carro-chefe. As cervejas foram produzidas nas instalações da Cervejaria Berenice, em Lauro de Freitas. Neste ano, os sócios da Cervejaria Dragornia planejavam lançar a própria fábrica e brewpub, em Feira de Santana. Entretanto, veio a crise deflgrada com a COVID19. “O lançamento da nossa fábrica, com todas as certificações necessárias, seria no final de março; tem a forma de um castelo e nós não imaginávamos algo diferente. O lançamento do nosso Brewpub aconteceria ainda neste semestre; a gente planejava lançar também outros três rótulos – um irish Extra Stout, uma APA e uma cerveja que chamamos de Ponta da Ostra. Porém, toda esta situação envolvendo a pandemia nos obrigou a adiar um pouco nossos planos”, lamentou o sommelier

Castelo em Feira de Santana onde será a fábrica e brewpub da Cervejaria Dragornia. (Fonte: Carlos Henrique Kruschewsky).

“Cada rótulo da Dragornia conta uma história, que cinco ou seis anos atrás a gente escrevia para compor os nossos jantares medievais.  Criamos um reino de fantasia com sua própria mitologia. Cada cerveja é associada a uma cidade no universo que criamos – a Rauchbier, por exemplo, é feita na cidade de Laguna – a sua lenda é contada no rótulo…escrevemos um livro de fantasia medieval e uso tudo que ele oferece pra criar nossas cervejas”, finalizou.

Mapa criado pelos socios da Dragornia, base do universo de fantasia medieval que serve de inspiração para criação das cervejas.

Os rótulos da Cervejaria Dragornia, incluindo a Rauchbier, estão disponíveis em Salvador na Barca Viking, que durante a pandemia está atendendo via delivery através do WhatsApp 71 99194-8648.

A Prova da Start: Confira o lançamento da MinduBier

#diáriodaquarentena

O isolamento social criado para combater a COVID19 está colocando à prova as emoções humanas, muitas vezes modificando nosso comportamento em casa e a forma como percebemos o mundo. No início de março, pouco antes de iniciar este confinamento, a cervejaria cigana de Salvador, MinduBier, preparava uma novidade para adicionar ao seu portfólio de cervejas sazonais. Ao contrário dos outros estilos produzidos recentemente pela cervejaria (MinduHaze, MinduCloudy; Power Shot, dentre outros), o plano seria lançar uma cerveja de iniciação, uma lager bem leve e suave, para agradar sobretudo iniciantes. Com o avanço da doença, o anúncio ficou para depois.

Após assimilar essa mudança, há duas semanas a MinduBier lançou pela internet a MinduStart. “O nome vem do sentido de iniciação mesmo, de começo. Normalmente, quando uma pessoa começa a beber cerveja, inicia com estilos mais leves. Fizemos uma releitura de um estilo de iniciação, com a personalidade que merece”, explicou o cervejeiro da MinduBier, Gustavo Martins. “A MinduStart estava com planejamento para ser lançada em vários locais … infelizmente, ficou pronta uma semana antes de iniciar o isolamento social. Então decidi fazer a venda pela internet. Hoje ela é uma cerveja exclusiva do canal de vendas da MinduBier ”, complementou.

O visual da MinduStart é semelhante ao de outras cervejas lager mais conhecidas, como a Heineken, apresentando cor amarela clara, espuma bem persistente, límpida e sem resíduos. No aroma, notas de pão e centeio; na boca, uma sensação bem leve (5,2% ABV), porém com um pouco mais de corpo frente às lager comuns e um delicado amargor, que é percebido no final (IBU 10). “Usei Malte Pilsen e um pouco de CaraPils. Na lupulagem, utilizei apenas lúpulo para amargor, pois a minha ideia foi justamente destacar o corpo da cerveja”, acrescentou Gustavo. O resultado foi uma cerveja bem equilibrada, sem qualquer off-favor, por exemplo, aqueles típicos de cervejas lager, como diacetil, mofo, metálico e o lightstruck, que tornou-se um case clássico da Heineken.

Foi impossível não fazer uma comparação da MinduStart com a german pilsen MinduPils, outra cerveja leve do portfólio da MinduBier. “A MinduPils tem uma característica forte de lúpulos nobres alemães e é um pouco mais amarga. A receita da MinduPils, por utilizar lúpulos nobres em maior quantidade, acaba se tornando mais cara. A ideia da MinduStart foi produzir uma cerveja leve e refrescante, porém a um preço mais baixo”, destacou Gustavo.


Quem quiser provar a MinduStart basta chamar pelo Whatsapp (71) 99708-9440 ou acessar este link. Toda semana, a MinduBier tem feito promoções para compra de cervejas pela internet, como desconto progressivo, brindes etc. A MinduStart está disponível em chope, sendo envasada por sistema de contrapressão no dia da entrega; deste modo, a cerveja chega sempre bem fresca e com mais durabilidade.

O sabor que veio do sul: Em tempos de liberdade restrita, beba Freedom

#DiárioDaQuarentena #Covid-19

Liberdade é um desejo hipodérmico do ser humano e também um direito garantido por lei no Brasil. Infelizmente, nas últimas semanas, a nossa liberdade tem sofrido restrições por conta da pandemia da COVID-19. Para amenizar um pouco meu isolamento social, resolvi escrever sobre uma das minhas cervejas preferidas e que traz “liberdade” no nome: Freedom, que significa liberdade em inglês.

A Freedom é uma American India Pale Ale produzida pela cervejaria gaúcha Vintage Craft Beer, situada em Porto Alegre – RS.  Por outro lado, o nome da cerveja faz uma referência ao rock. “Aqui na empresa só toca rock and roll; e dos mais antigos, como Creedence, Johnny Cash e o maior guitarrista de todos os tempos: Jimi Hendrix. No caso da nossa cerveja, Freedom é uma homenagem à música que Jimi Hendrix escreveu e gravou poucos meses antes de morrer”, explicou Eduardo, cervejeiro da Vintage.

Growler com Freedom, American IPA da Vintage Craft Beer.

Esta cerveja chama atenção por diversos aspectos. Primeiro, pela facilidade com pode ser encontrada em Salvador; segundo, pelo seu preço, bem em conta em comparação à outras cervejas que veem de longe. Por exemplo, a lata de 473ml custa entre 25-28 reais nas lojas online Cerveja Salvador e Vitrine da Cerveja, que também vende o litro do chope Freedom por 45 reais. (Nota: não custa lembrar que ambos os estabelecimentos estão operando com delivery de cerveja e chopp nestes dias de quarentena!). “É a cerveja mais vendida da loja. Posso te dizer que é nossa torneira fixa”, disse o diretor comercial da Vitrine da Cerveja, Claiton Santos, lembrando que, certa vez ,a Freedom foi embarrilada na terça-feira, em Porto Alegre, e no sábado as/os clientes já estavam provando a cerveja, na loja, em Salvador. “Ficamos muitos felizes em saber que a cerva tem boa aceitação aí em Salvador. O fato do chope chegar sempre fresco é também mérito da loja, pois sempre que um lote está ficando pronto ela já compra em boa quantidade”, disse Eduardo. Já diretor comercial da loja Cerveja Salvador, Alex Pires, destacou a presteza no atendimento do pessoal da cervejaria Vintage. “Eles foram muito atenciosos com a gente e entregaram o pedido com agilidade considerável. A Vintage foi destaque do nosso Clube, em março, com a Freedom integrando a seleção de rótulos do mês passado”, destacou Alex.

Lata com Freedom da Vintage Craft Beer

O terceiro aspecto que a Freedom se destaca , claro, reside na qualidade da cerveja. A prova foi feita de duas formas: primeiro degustamos a cerveja na lata para, em seguida, partir para o chope servido em growler. Em linhas gerais, a Freedom entrega aquilo que se espera de uma boa American IPA: aroma floral, bem lupulada, amarga e seca. A cerveja em lata, além do aroma floral, apresentou também notas cítricas, que não ficaram tão perceptíveis no chope. “Após o envase, as nossas latas ficam armazenadas na câmara fria até a hora do envio para o cliente, visando garantir maior frescor. Isto pode ter ocorrido porque aumentamos um pouco mais a carbonatação da cerva antes do envase, o que pode resultar em uma percepção mais ácida ou cítrica da bebida”, revelou Eduardo.

Além do aroma floral e cítrico, nas duas situações a Freedom apresentou coloração de cobre e um visual bem límpido. Na boca, uma sensação macia, corpo médio, além do amargor intenso (IBU 62) e equilibrado, combinado ao final seco característico do estilo American IPA. Teor alcoólico moderado (6,2% ABV) e, no retrogosto, além de permanecer o tradicional amargor proporcionado pelos lúpulos americanos, pode-se perceber também algumas notas florais. “Utilizamos os lúpulos Comumbus, Citra, Cascade e El Dorado. A técnica que seguimos foi a late hopping, adição tardia, isto é, toda a lupulagem foi feita nos 30 minutos finais da fervura – 30min , 20 min, 10 min , 5 min”, finalizou Eduardo.

DIÁRIO DA QUARENTENA: DEGUSTAÇÃO DE CERVEJAS COM KVEIK

Nestes dias de quarenta, o Blog Lupulado irá publicar uma série de resenhas sobre as cervejas que degustamos durante o período de confinamento. A primeira matéria aborda rótulos que utilizam a levedura Kveik. O número de marcas no Brasil, que optaram por usar este insumo, cresceu vertiginosamente nos últimos dois anos.

 

Desafio lançado na quarentena: Sequencia de cervejas com levedura Kveik

Historicamente, Kveik é uma das muitas terminologias adotadas da Noruega para se referir às leveduras, dentre elas as cultivadas em  pequenas fazendas onde cervejas são produzidas de forma artesanal, as chamadas Norwegian Farmhouse Brewery. Com o passar dos anos, Kveik passou a ser o nome usado para designar as leveduras provenientes dessas fazendas, carregando em si traços culturais heterogêneos e relacionados às comunidades.  A heterogeneidade pode ser percebida considerando que a Kveik possui diversas linhagens, normalmente conectadas pelo nome à família ou fazenda que a produziu; é o caso da “Voss Kveik”, usada na produção da Nibelungo, rótulo da cervejaria Motim que já foi tópico aqui no Blog Lupulado. .A sua relação cultural com as comunidades emerge deste aspecto, pois a Kveik é um produto de agricultura familiar e os segredos de cultivo, armazenamento e uso eram passados de geração para geração. Existem registros datados de 1621 documentando que, na Noruega, a Kveik era armazenada em anéis de madeira, chamados Kveikstokkers, capazes de conservar a levedura por até um ano.

Outro fator cultural importante na Noruega e alguns países vizinhos (exceto a Dinamarca), que estimula a produção caseira  e familiar de cerveja, é o rigor no comércio de bebidas no país. Nos supermercados e cervejarias, só é permitido venda de rótulos com até 4,6% de ABV; caso a pessoa deseje uma cerveja mais forte, deve comprar nas taprooms ou nas lojas do governo chamadas Vinmonopolet, onde a política de vendas é extremamente rigorosa e controlada. Desta forma, as cervejarias norueguesas costumam vender também insumos para produção de cerveja, além produtos temáticos; portanto é comum encontrar clientes nesses locais em busca de lúpulos, maltes, leveduras etc.

Sede da cervejaria Lervig em Stavanger, Noruega.

Atualmente, a Kveik pode ser encontrada tranquilamente no Brasil. O cervejeiro da Motim, Salo Maldonado, disse anteriormente em entrevista ao Blog Lupulado que “hoje em dia é fácil adquirir nas lojas de insumos e fornecedores. Os dois maiores fornecedores de leveduras líquidas estão com pelo menos uma linhagem de Kveik em produção”. Para o gerente de vendas da Bahia Malte, Alan Reis, “a oferta das Kveik no Brasil tem melhorado bastante nos dias atuais; na Bahia Malte trabalhamos com duas cepas, a Hornidal e a Voss, que estão sempre disponíveis por aqui na loja”.

Degustando Staerk Bayer, um dark lager com 9,5% de ABV e 32 IBU na Taproom da Cervejaria Mack Bryggeri em Tromsø, Noruega.

“As Kveik representam certa facilidade para os cervejeiros, porque não precisam de um controle tão especifico de temperatura, o que  permite diversificar os ambientes de fermentação. Por exemplo, a sala da sua casa pode se tornar um ambiente de fermentação, já que o range de temperatura dela é mais alto… o tempo de atenuação desta levedura na cerveja é bem mais rápido também. Aqui na Bahia Malte, a gente já soube de casos de cervejas que atenuaram em 2 dias, fazendo o tempo de produção diminuir e permitindo que os cervejeiros produzam mais levas em intervalos menores”, complementou Alan.

Tiago Lima, cervejeiro da Bionica HomeBrew, exibindo duas novas criações.

Recentemente, cervejeiro da Biônica HomeBrew, Tiago Lima, usou este insumo disponível na Bahia Malte em algumas de suas receitas, todas feitas em casa.. “Ao todo fiz seis cervejas usando Kveik, dentre elas uma IPA combinando lúpulos citra e mosaic com a Kveik; duas stouts com a mesma base, sendo uma com essência de côco; fiz também a Supreme, umas das mais pedidas, em que usei café da Chapada Diamantina. Fiz também um experimento com duas APAs, uma mais seca, frutada e a outra mais amarga, cítrica”, disse Tiago. “Fermentei todas essas cervejas na mesma temperatura, 26 graus. Para mim, esta levedura é a melhor em eficiência alcoólica; a cerveja também fica sem off-flavor, ou pelo menos os off ficam bem menos perceptíveis. Algumas cervejas ficam mais secas que o esperado, porém este é um fator que pode ser corrigido e não chega a ser um aspecto negativo”, concluiu.

Abrindo latas e garrafas com Kveik

As cervejas abaixo foram escolhidas a partir do estoque que eu tenho em casa, considerando apenas um parâmetro: O uso da levedura Kveik . Alguns dos rótulos a seguir podem ser encontrados em lojas online, como a Vitrine da Cerveja (Salvador), Cerveja Salvador (toda Bahia), BeerMind (todo Brasil),  Beer Underground (RJ), MotimHideout (RJ), além da própria Bahia Malte(Salvador); estes e outros estabelecimentos dedicados à cerveja artesanal estão fazendo entregas em domicílio durante a quarentena provocada pela COVID-19. Os dois copos foram escolhidos para homenagear duas cervejarias que visitei na Noruega: Lervig, que fica na cidade de Stavanger, e Mack Mikrobryggeri, localizada em Tromsø.

Nibelungo, Collab entre as cervejarias Motim e Cevaderia

Iniciei a sequencia provando a Supreme, da Biônica HomeBrew; Brown Ale com coloração escura,  bem maltada e leve (6,1%ABV); amargor médio (33 IBU) e com notas de café da Chapada Diamantina bem presentes tanto no aroma quanto no gole. A segunda cerveja da foi outra bem leve, a NE APA Nibelungo (5,6ABV e 35 IBU), collab das cervejaria Motim e Cevaderia, que foi tópico aqui no Blog Lupulado.

Supreme, da cervejaria baiana Bionica Homebrew

A terceira cerveja foi a Ovrebust (6,7 ABV e 40 IBU), uma kveik IPA da cervejaria Thirsty Hawks, que também apareceu no Blog Lupulado durante nossa cobertura do Mondial de La Biere Rio – 2019; vencedora da medalha de ouro naquela edição, a Ovrebust apresentou sua tradicional coloração turva, além de resíduos de aveia; cerveja bem sucada, cremosa, corpo aveludado, aroma trazendo notas de melão, laranja e abacaxi.

Ovrebust, que ganhou medalha de ouro no Mondial de Lá Biere no Rio de Janeiro de 2019.

A Avrake, Kveik Juicy IPA também feita pela Thirsty Hawks, foi a quarta cerveja que provamos. Apresentou aquele aroma proeminente de lúpulo Mosaic, com adição de citra e denali; bem cremosa, cor turva, corpo sedoso, amargor acentuado (45 IBU), cremosa, suculenta com gosto de Maracujá e Toranja, boa drinkability além da aveia sobrando no retrogosto. (6,5 ABV).

Avrake da Thirsty Hawkins

O quinto rótulo da sequencia foi o que mais surpreendeu:  a cerveja Fuça, uma Kveik Juice Rye IPA, da cervejaria Latido Ale House. Como o nome atesta, esta cerveja levou malte de centeio, além da adição de dois lúpulos, loral e ekuanot, em duplo dry-hop. No aroma, notas de laranja e tangerina, com maior presença da primeira, cor turva e amargor acentuado (50 IBU). O aspecto mais interessante desta cerveja foi a sensação de boca, viscosa e licorosa (7% ABV).

Grata surpresa: Fuça, uma criação da cervejaria latido (RJ)

Referências:

http://www.milkthefunk.com/wiki/Kveik

 

 

UTILIDADE PÚBLICA: Preparamos uma lista de delivery em Salvador para lupular sua missão de isolamento social

Última atualização: 26/03, às 09:07

Nestes tempos de quarentena por conta do novo corona vírus, o Blog Lupulado publica uma lista de lojas que fazem entrega em domicílio, o chamado delivery, de insumos e cerveja artesanal, na cidade de Salvador (algumas atendem Lauro de Freitas também). Este conteúdo estará em constante atualização, no intuito de facilitar a vida de seguidores e seguidoras, listando serviços úteis para produzir e beber cerveja artesanal em casa, contribuindo para que oatual momento de isolamento social, que é importante para o combater o surto do COVID-19, seja o menos difícil possível. Outra intenção com esta lista é estimular que pessoas comprem dos pequenos estabelecimentos voltados para nichos específicos como o mercado de cerveja artesanal; trata-se também de uma forma de contribuir para a economia local, ameaçada com a crise provocada pelo corona vírus.

Delivery de cerveja artesanal: Ajudando a manter a harmonia nos tempos de isolamento social

Existem quatro tipos de embalagem que chopes e cervejas artesanais são normalmente vendidos e entregues: growlers, garrafas, latas (que inclui também os crowlers), barril (neste caso é preciso ter equipamento como chopeira e cilindro de CO2). Abaixo segue a lista de lojas e serviços de entrega de insumos e cerveja artesanal. Alguns oferecem facilidades e promoções como descontos, entrega grátis, growlers descartáveis etc.

Loja

O que vai encontrar

Telefone/Whatsapp

Bahia Malte

Latas, garrafas, chope e insumos

(71) 3043-6359

Cerveja Salvador

Latas, chope e garrafas

(71) 99970-4327

Cervejaria Híbrida

Chope

(71) 98512-0466

Vitrine da Cerveja

Chope, latas e garrafas

(71) 2137-0669/ (71) 99235-4990 ou pelo site  Cerveja Salvador

Casa OLEC

Latas, garrafas, chope e insumos

(71) 98182-8183

Kombita

 Chope

Pedidos pelo site Cerveja Salvador

Chopp Shop

Chope

Pedidos pelo site Cerveja Salvador

Cervejaria Calundu Chope e garrafas (71) 98878-3020 / (71) 99105-8469 (71)/ 99609-1716
Choperia Salvador Chope (71) 99112-9794 ou(71) 99994-6362

Cervejaria 2 de Julho

Garrrafas

(71) 98867-4181

Cervejaria Proa

Chope

(71) 992266850

Cervejaria Mascarenhas

Chope e cerveja

(71) 988765475/ (71) 99701 4280/ (71) 99155 9206

Cervejaria MinduBier

Cerveja

(71) 99708 9440

 

Prestigie também as cervejas produzidas na Bahia.

Bossa Nova Haze: Novo tesouro de Jacobina

O município de Jacobina, situado na Chapada Diamantina, Bahia, ganhou fama nacional como “a Cidade do Ouro” por conta das minas descobertas na região, nos idos do século XVIII. Anos mais tarde, a exploração do ouro cessou e o ecoturismo passou a atrair a atenção de pessoas interessadas em conhecer cachoeiras, lagos e serras que circundam a cidade. Atualmente, outro tipo de tesouro foi descoberto nas ruas de Jacobina: a Cerveja Artesanal.

Bossa Nova Haze: Espuma cremosa, amarga e resfrescante

No último Festival de Cerveja Artesanal do Vale do São Francisco, realizado em Petrolina em novembro do ano passado, a cervejaria jacobinense HopDevils fez sucesso entre os presentes com sua NEIPA. Em fevereiro deste ano, a HopDevils lançou a Bossa Nova Haze, produzida a partir da base criada para aquela cerveja que encantou o público no Festival. “Sim, as receitas são muito próximas. A base de maltes é a mesma e ambas são fermentadas com levedura Vermont. A diferença fica por conta do lúpulo Mosaic Cryo usado na Haze IPA, que me pareceu ser mais dank e resinoso que o Mosaic em pellet”, disse o cervejeiro da HopDevils, Pedro Varjão. “Na Haze foi utilizado um único dry-hopping, ao fim da fermentação, o que resultou num aroma mais “cru” de lúpulo, sem tanta ação de biotransformação”, complementou.

Predro Varjão exibe a Bossa Nova Haze

A história da cervejaria HopDevils remonta a 2014, em um lugar distante de Jacobina. Naquele ano, três amigos universitários, na cidade de Campinas- SP, decidiram começar a fazer cerveja por conta própria. “Éramos estudantes, com pouco dinheiro e apreciadores do estilo IPA. Decidimos então nos aventurar na produção de nossas próprias cervejas. Os amigos foram se formando na universidade e eu acabei assumindo a produção sozinho. Regressei à minha Terra Natal, que é Jacobina, e continuei no homebrew sempre buscando aperfeiçoar os detalhes das receitas. Hoje tenho um grande parceiro, Rafael Filho, com quem tenho desenhado planos para expansão e abertura de um negócio cervejeiro maior”, explicou Pedro.

A Bossa Nova Haze apresenta espuma bem cremosa e aroma frutado, remetendo a frutas como pêssego e abacaxi. Outra característica peculiar do estilo Haze IPA que a cerveja traz é a sua coloração, turva e parda. Na sensação de boca, um corpo viscoso e licoroso, como pede uma boa Haze IPA, com o álcool bem perceptível no retrogosto, apesar do teor alcóolico médio (6,8 ABV). Possui amargor alto (60 IBU) provocado uma total carga de 20 g/l de lúpulos Citra e Mosaic Cryo. “Adicionamos esses lúpulos nos estágios de first wort hopping (amargor), whirpool (aroma) e TDH. Utilizamos também a levedura clássica Vermont Ale”, explicou Pedro. A cerveja Bossa Nova Haze pode ser encontrada na Wine House Jacobina ou via direct no instragram da cervejaria HopDevils.