Adeus ano velho: Meu top-10 de cervejas em 2021

Ao final de cada ano, como de praxe, publico aqui no Blog Lupulado uma lista com as dez melhores cervejas que provei nos últimos 12 meses. Um dos critérios de escolha permanece imperativo: O rótulo pode até ter sido lançado em outro período, mas a minha primeira degustação deve ter acontecido no ano em questão (confira outros critérios de 2020, que segui para eleição em 2021) . No meu ponto de vista, o ano de 2021 foi pior que 2020 em face do agravamento da Pandemia da Covid-19 e do negacionismo de parte dos nossos governantes. Por exemplo, a partir de março do ano passado os números de casos e mortes causados pela doença aumentaram vertiginosamente, chegando à picos de 5 mil mortes diárias no Brasil. O resultado foi aumentar o isolamento social em 2021. Na prática só voltei a circular pela cidade a partir de agosto do ano passado, quando tomei a segunda dose da vacina. Em setembro fiz minha primeira viagem depois de meses. Os bares foram obrigados novamente a suspender suas atividades presenciais de março a junho de 2020 e os eventos de cerveja artesanal em Salvador só foram retomados a partir de dezembro passado.

No Mercy: Colab entre Dogma e Spartacus, para mim a melhor cerveja que provei em 2021.

Portanto, da mesma forma que em 2020, no ano passado eu bebi predominantemente em casa, usando os serviços de delivery dos PDVs. Eu acabei também bebendo mais: Segundo meu relatório anual do untapdd, foram 1460 check-ins em 2021. Por outro lado, variei pouco nos estilos e provei menos rótulos, uma vez que o consumo por growlers e latas não ajuda muito neste processo, ao contrário das torneiras, bootle- sharing (BS) e tasting menu, formas que tradicionalmente prefiro consumir cerveja artesanal nos bares e tap room.  Na minha lista de preferências em 2021, aparecem mais rótulos com lúpulos que resenhei recentemente aqui no Blog, como o Strata e o Zappa. Entretanto, preciso destacar outras strains que me agradaram bastante em 2021 e que eu não me recordava de ter experimentado em outros anos, como Talus, Lotus e Denali. A seguir, apresento minha lista dos 10 melhores rótulos que provei em 2021.

Ippadicted: Outra grande cerveja de 2021, que no rótulo estampa o rosto do blogueireiro referenciado nesta colar.

Começo destacando duas cervejas colaborativas da Dogma (São Paulo-SP). A primeira delas é a No Mercy, uma Double Hazy IPA feita em colab com a Cervejaria Spartacus (Juiz de Fora-MG), que apresenta perfil cítrico e resinoso, com um retrogosto sensacional de morango, utilizando um blend dos lúpulos Strata, Idaho Gem, El Dorado e Mosaic. A segunda é a Hazy IPA Ipaddicted, feita pela Dogma em colab com a cervejaria francesa La Superbe em referência ao blogueiro homônimo à cerveja. Traz um blend dos lúpulos Mosaic, Strata e Zappa, resultando em um perfil cítrico, com o dank do segundo lúpulo bem combinado às notas herbais do terceiro.

Com a Juicy IPA Breeze Blocks, cervejaria Everbrew (Santos-SP) apresenta um trabalho interessante combinando os lúpulos Strata e Nelson Sauvin, que proporciona um corpo sedoso e perfil dank, com notas de maracujá, pêra e uvas. Outra cerveja que se destacou no meu paladar em 2021 foi o Single Hop de Zappa da série Hop Attack, da cervejaria Satélite (São Paulo – SP).

Seguindo nesta linha de cervejas lupuladas, a cervejaria Tábuas (Campinas-SP) lançou a New England IPA Pétala, com um blend dos lúpulos Strata e Bravo, proporcionando um corpo aveludado com notas marcantes de maracujá e morango.

A cervejaria Spartacus (Juiz de Fora – MG) também nos brindou com a belíssima Hope, uma cerveja de visual turvo com muito maracujá e abacaxi no aroma e no sabor, fruto de combinação dos lúpulos Citra e Galaxy. O nome deste rótulo, por sua vez, estimula minha crença de que dias melhores virão em 2022.

Os rótulos das cervejarias baianas também marcam presença na minha lista de melhores de 2021. O grande destaque, para mim, foi a West Coast IPA Boonville, da cervejaria 3 Barcaças (Ilhéus-BA); uma WC bem raiz, cítrica e sequinha, com teor alcoólico moderado.

Outra cerveja que teve destaque no meu ano foi a NE APA da MinduBier (Salvador-BA), feita com os lúpulos Zappa, Comet e Centennial de Moxee, que integrou o projeto Brewing Love Project (confira a resenha dela aqui).

Um dos meus destaques de 2021 veio do exterior: Urban Fog, uma Hazy IPA colaborativa entre as cervejarias Mikkeller (Dinamarca) e Brewdog (Escócia), que proporciona notas frutadas bem marcantes, especialmente de toranja.

Por fim, já no apagar das luzes, nos últimos dias de dezembro eu provei The World is Changing, da Carioca Brewing (Rio de Janeiro-RJ), que definitivamente ganhou seu lugar fechando meu Top-10 de 2021. Uma NE IPA com blend dos lúpulos Strata, Lótus e Denale, que proporciona um perfil frutado, com presença marcante de morango e amargor bem agradável.

Este foi meu Top-10 de 2021! Como já disse, foi uma escolha difícil! Quais cervejas você incluiria nesta lista? Que o ano de 2022 seja melhor para todos nós!

De olho na Mito: Cervejaria combina sua produção à crítica e ação social

#diáriodaquarentena

Junto do Novo Corona Vírus, outro personagem bastante comentado durante esta quarentena é o Presidente da República, Jair Bolsonaro. Sempre muito criticado por suas declarações, seja ignorando os números da doença ou ofendendo diretamente jornalistas e veículos de comunicação, a fama de Bolsonaro extrapolou as fronteiras do Brasil e repercutiu no exterior. Diversas matérias sobre o mau comportamento do Presidente circularam no noticiário internacional ao longo da semana – veja algumas aqui.

Em março deste ano, conheci no Rio de Janeiro a Cervejaria Mito e seus rótulos que fazem sátira com situações políticas, como Golden Shower, Embaixada do Papai, que leva lúpulos americanos, e Comitiva Presidencial, feita com pó de lúpulo em referencia ao episódio de 2019 envolvendo transporte de cocaína em avião da FAB. “A Mito não é uma cervejaria política, nós somos uma cervejaria social. O Bolsonaro é uma figura que consegue ser contra tudo que a gente defende, por isso acaba sendo um tema muito forte em nossas cervejas. A cervejaria não foi feita para ser exclusivamente contra ele; um dia Bolsonaro vai sair, mas esta velha política vai continuar”, explicou o cervejeiro da Mito, Bruno Mesquita. “O pessoal tende a estranhar o nome Mito num primeiro momento, mas depois a galera entende e acaba achando legal. Sobretudo pelo trabalho de ‘formiguinha’ que a gente faz com essas ações, que acabam validando nosso trabalho. A gente critica Bolsonaro, o Sérgio Moro, mas ao mesmo tempo estamos fazendo a nossa parte com atividades sociais; as pessoas reconhecem isto e passam a ver a Cervejaria Mito como um canal que promove boas ações. Isto tem feito a gente se conectar com outras marcas, que nos procuram com ideias para executar”, complementou.

Alguns dos rótulos da Cervejaria Mito.

O conceito de “cerveja social” proposto pela Mito pode ser ilustrado considerando as campanhas realizadas pela cervejaria. Por exemplo, acontece hoje, no Bar do Raoni, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, o lançamento da “Desmorona”, uma Red Ale que brinca com a atual situação do Ministério da Justiça. Porém, em virtude do isolamento social, o consumo será no sistema delivery ou take away. Nos dois casos, quem doar 1 kg de alimento ganha 50% de desconto na compra de um litro da Desmorona. Estes alimentos serão doados junto com material de limpeza arrecadado em outro projeto da Mito, envolvendo o segundo lote da cerveja Isolamento Social, feita em colab com a cervejaria Soul Tere, de Teresópolis – RJ. “A gente realizou outras ações também. No Natal do ano passado, lançamos a Christmas 2019; cada garrafa vinha com uma carta escrita por uma criança da comunidade Jardim Gramacho. Distribuímos essas garrafas e a galera aderiu aos pedidos das crianças. A gente foi entregar mais de mil doações na comunidade. Outra ação foi em outubro do ano passado, um evento com cerveja Embaixada do Papai, no Bar Urbanito, no Rio; quem levasse um livro ganhava 50% de desconto na compra de um hambúrguer. Os livros arrecadados foram doados para a biblioteca da Favela da Maré. Em eventos evolvendo harmonizações, os jantares eram feitos por refugiados e metade do valor arrecado com o jantar ia para esses cozinheiros; foi uma forma que encontramos para protestar em detrimento aos políticos contrários às outras culturas, que defendem construção de muros etc.  ”, contou Bruno.

A mito surgiu no Rio de Janeiro em 2014. A origem do nome é uma referência à temas da Mitologia, que serviam de inspiração para criar as cervejas. “Depois disso o projeto ficou em stand by por algum tempo, pois comecei a estudar para entender o comportamento do mercado de cerveja artesanal. Em outubro de 2018, Flávio Bolsonaro lançou uma cerveja chamada Mito e muita gente veio procurar o produto nas páginas da nossa cervejaria. Por compartilhar de valores diferentes do Presidente, eu postei uma piada, que viralizou: ‘Se eu fosse fazer uma cerveja para Bolsonaro, seria uma Golden Shower para harmonizar com a merda que vocês têm na cabeça. Não vendo cerveja de fascista’”, disse Bruno. “Foi aí que eu vi a oportunidade de lançar uma cerveja que compartilhasse estes valores; se a gente de alguma de forma conseguisse associar a venda das nossas cervejas à ações comunitárias, com compromisso social, com selo de sustentabilidade, trabalhar em defesa dos animais… assim nasceu o nosso conceito de cerveja social”, explicou.

 

 

A Golden Shower é um pilsen de cor dourada, espuma persistente e bem límpida. O rótulo é um tanto chamativo, com desenho de uma figura híbrida entre um homem e uma laranja. O aroma traz notas de pão e centeio muito bem equilibradas, com elemento especial: Uma pegada cítrica, que lembra laranja. A cerveja tem baixo amargor e uma sensação de boca bem leve (IBU 16 e ABV 4,9%). “Sim a cor dourada é para fazer exatamente esta brincadeira com o episódio do Golden Shower. Nós queríamos fazer uma pilsen mais cítrica, mas não associar diretamente à laranja; muita gente me pergunta sobre isso também. Nossa intenção era fazer uma pilsen mais lupulada, diferente das outras Pilsen tradicionais. Acabou dando certo”, disse Bruno. “De fato, no rótulo da cerveja é realmente a figura do Queiroz. Falando nisso, cadê ele hein?”, brincou o cervejeiro

A Mito é uma cervejaria cigana, que produz a maior parte das suas cervejas em parceria com a cervejaria Soul Tere. Nos dias de quarentena, as cervejas da Mito podem ser compradas via delivery ou take away de locais onde acontecem as ações sociais, como o Boteco do Raoni, lojas especializadas como Beer Underground e Bros’ Beer, que envia para todo Brasil. Para um futuro próximo, Bruno planeja novas ações envolvendo a Cervejaria Mito. “Quero muito fazer uma Baltic Porter, mas ainda não tenho o projeto fechado. Posso lançar dentro de 2 ou 3 meses, até lá vou pensando melhor no conceito”, revelou o cervejeiro. “E que fique bem claro: Não somos uma cervejaria sobre o Bolsonaro, mas sobre valores. Então podemos ampliar nosso foco para todo este movimento relacionado à extrema direita, que está se espalhando pelo mundo. Não queremos apenas ‘encher linguiça’; queremos fazer boas cervejas com boas ações sociais por trás”, finalizou.

 

Nibelungo: Uma cerveja inspirada na cultura nórdica

As cervejarias cariocas Motim e Cevaderia lançaram novo rótulo no mercado: a Nibelungo. Esta cerveja segue o estilo New England American Pale Ale (NE APA) e tem como característica marcante o uso da levedura Voss Kveik. O nome é referência ao “Anel de Nibelungo”, um item mágico que, segundo a mitologia nórdica, era capaz de conferir grande poder a quem o usasse. Recentemente, tem crescido no Brasil o número de cervejas feitas com leveduras do tipo Kveik, que são utilizadas há muitos anos por cervejeiros de países como a Noruega, Finlândia, dentre outros do norte da Europa, e atualmente podem ser encotradas com certa facilidade por aqui. “Hoje em dia é fácil adquirir nas lojas de insumos e fornecedores. Os dois maiores fornecedores de leveduras líquidas estão com pelo menos uma linhagem de Kveik em produção. No nosso caso, decidimos usar Voss Kveik para mencionar a origem da linhagem, como forma de homenagear e agradecer aos produtores locais do norte da Europa, que disponibilizaram a levedura para exploração e eventual comercialização. Fizemos referência ao Anel de Nibelungo porque, tradicionalmente, os fazendeiros usavam anéis de madeira com a levedura seca para iniciar suas fermentações. É uma homenagem nossa à cultura nórdica também”, disse o cervejeiro da Motim, Salo Maldonado.

Nibelungo degustada na Tap Room da Motim

“Esta cerveja é resultado de um experimento dividido em duas partes. A primeira explorou o Kveik como uma levedura capaz de bio transformação quando entra  em contato com lúpulo na fase de fermentação, daí seu uso em uma NE APA. Na segunda faze, exploramos seu uso para uma fermentação mista; colocamos a Nibelungo em um barril para ver se instalaria uma fermentação com leveduras selvagens e como seria essa interação”, complementou Salo.

A Nibelungo apresenta a turbidez características do estilo NE APA e uma espuma bem cremosa. O aroma bastante cítrico com notas de abacaxi, laranja e maracujá, que podem ser percebidas também na hora do gole. “Estas notas cítricas e de frutas foram provenientes do lúpulo e da levedura. A Voss Kveik costuma apresentar esse éster de laranja, que foi complementado pela combinação dos lúpulos”, revelou o cervejeiro. O amargor médio (IBU 35) e o teor alcoólico relativamente baixo (ABV 5,4) fazem da Nibelungo uma cerveja perfeita para dias quentes, podendo ser apreciada por longos períodos. Seu corpo médio provoca uma sedosa sensação de boca. “Usamos os lúpulos Columbus (somente fervura), Mosaic e El Dorado. Estes dois foram utilizados no whirpool, após o final da fervura, e no Dry-Hopping, quando usamos uma carga de 14g/l, que eu considero alta”, finalizou.

Inicialmente, a Nibelungo surgiu como rótulo sazonal, mas pode ser que ela venha a entrar na linha de produção das cervejarias Motim e Cevaderia. Ela está sendo distribuída para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio, pode ser encontrada a Tap Room da Motim (Copacabana) e em lojas especializadas, como Beer Underground (Centro) Beer Mind (Barra da Tijuca), dentre outras que também fazem fazem venda online e podem enviar para demais regiões do Brasil.

Quatro Graus amplia série Comfort: Confira este lançamento na coluna #PegaVisão

No início de Janeiro, a cervejaria carioca Quatro Graus lançou o terceiro rótulo da sua série Comfort: a Triple Cream IPA. O primeiro rótulo da série foi a Comfort Double IPA; o segundo foi a Comfort Stout, uma RIS com adição de cacau e café.  “Os rótulos da série Comfort têm como premissa básica trazer bons sentimentos, boas lembranças e relaxamento. A proposta consiste em prover cervejas que não são tão potentes como os nossos rótulos mais conhecidos, por exemplo a Black Anthrax, mas que trazem muito sabor, textura e camadas em estilos já tradicionais.”, disse o cervejeiro da Quatro Graus, Marlos Monçores.

Salvador ao fundo e a Comfort Triple Cream IPA

Outro aspecto que chama atenção neste lançamento da Quatro Graus é o estilo, descrito como Triple Cream IPA, que não figura na style guideliness da BJCP. “Mesmo não sendo um estilo reconhecido, algumas cervejarias já usaram essa denominação, principalmente fora do Brasil. Gostamos de batizar nossas cervejas de acordo a sensação que cada uma delas nos traz, algo para além do estilo. Uma triple IPA nem sempre é cremosa e tem corpo aveludado. Esse foi o nosso foco na hora de preparar a receita e por isso colocamos no nome, deixando claro para todos e todas o que queremos de experiência”, explicou Marlos.

Testando a Comfort Triple Cream IPA  

A cerveja emanou aroma intenso, cítrico e frutado, com presença forte de frutas amarelas como melão, abacaxi e manga. Apresentou espuma cremosa e suculenta, além de coloração bem turva em função dos maltes e da adição de aveia. “Exato! Esta receita, especificamente, leva uma adição grande de aveia e isso contribui sim para sua turbidez e cor”, confirmou Monçores.

Visual turvo e a espuma cremosa da Comfort Triple Cream IPA

A Comfort Triple Cream IPA foi produzida com uma carga pesada de 5 lúpulos diferentes (Citra, Simcoe, El Dorado, Amarillo e Mosaic), que proporcionaram uma sensação de boca bem forte e aveludada. A cerveja também é bem alcoólica 10,2%, apesar desta característica não aparecer nos momentos do gole e do retrogosto; pelo contrário, o resultado é de fato uma sensação refrescante e de relaxamento.Um detalhe interessante é a informação relativa ao seu IBU; constava na lata a hastag #IBUisalie, que em inglês significa “IBU é uma mentira”. “De nada vale o IBU sem o contexto dos outros fatores, que interferem na degustação da cerveja. Por exemplo, temos cervejas super maltadas e com características bem doces, com mais de 150 IBU. Tem muita gente que acredita que IBU é a quantidade de amargor da cerveja e, por isso, preferimos dizer que IBU é uma mentira”, finalizou Marlos.

A Comfort Triple Cream IPA da Quatro Graus pode ser encontrada com certa facilidade, em latas, nas lojas online Bro’s Beer, Hop Hunters, Hop Pack Beer Shop e Hoppi;  chopp e lata em lojas físicas, dentre elas Beer Mind, Empório Santa Oliva, Craft Beer, Narreal (Rio de Janeiro) e Vitrine da Cerveja (Salvador).

Lupulado no Mondial de La Biére Rio 2019.

Mais de 100 expositores, dentre eles cervejarias do Brasil e do exterior, participam da sétima edição do Mondial de La Bière, um dos maiores eventos cervejeiros do Brasil que acontece anualmente desde 2013. No total,  cerca de 1.080 cervejas de diversos estilos estão disponíveis para degustação. Dentre elas, 396 rótulos disputaram o MBeer Contest Brazil,  uma famosa competição interna feita a partir de uma avaliação às cegas.  Em 2019, a abertura do evento foi no último dia 04 e os trabalhos se estendem até hoje (08), ou seja, ainda dá tempo para visitar! As entradas custam R$50 (meia), R$ 100 (inteira), R$ 55 (com um quilo de alimento não perecível) e podem ser adquiridas na bilheteria a partir das 12h . A exemplo da última edição, o evento acontece nos armazéns 2, 3 e 4 no Pier Mauá, zona portuária do Rio.

O Blog Lupulado esteve no Mondial de la Bière Rio na quinta-feira (05). É impossível provar todos os rótulos disponíveis em um único dia, mesmo chegando logo na abertura dos portões, às 16h. Como de praxe, elaborei um roteiro buscando provar os rótulos premiados na edição do MBeer Contest Brazil 2019  além de degustar minhas cervejas preferidas.

A primeira parada foi no stand da Cervejaria Wonderland, que é parte americana, parte brasileira, e foi a grande vencedora do MBeer Brazil Contest  2019. Chegando lá, pude reencontrar a simpática Anna Lewis junto de seu marido, Chad Lewis, e de Pedro Fraga, que juntos integram o time de cervejeiros da Wonderland. Em 2018, a cervejaria foi uma das medalhistas de ouro no Mondial de La Bière Rio, com a Gone Mad; neste ano, a Wonderland faturou a medalha de Platina, o prêmio principal, com a Timeless Porter.

Pedro Fraga, Anna e Chad Lewis: cervejeiros da Wonderland, grande vencedora do MBeer Contest Brazil 2019,

A Timeless é uma cerveja no estilo American Porter, com lactose e caramelo, que sobressai no aroma e na sensação de boca; o retrogosto traz notas de café e chocolate. Possui 6,3% de ABV e 25 IBU, ou seja, amargor leve e o teor alcoólico um pouco maior que as tradicionais English Porter. “Sim o teor alcoólico é um pouco mais elevado que as Porter inglesas, mas não impõe uma percepção grande do álcool. Aliás, este é um dos motivos para classificar a Timeless dentro do estilo American Porter; a outra razão é a presença marcante do caramelo, escapando das características das English Porter”, disse Pedro Fraga.

A grande vencedora do Mondial de La Bière Rio 2019, Timeless Porter, com a medalha de platina

“Quase não inscrevemos a Timeless na competição deste ano, pois notei que nas últimas edições alguns estilos que estavam mais em voga, como a Catharina Sour, foram premiados. Esta medalha de platina traduz o esforço que a gente vem fazendo desde 2014, quando nos conhecemos. Investimos muito em receitas e testes para lançar oficialmente a Cervejaria Wonderland em 2018. Este prêmio representa um estágio a mais que a gente alcançou”, complementou Pedro.

Lucas Schuabb, da Thirsty Hawks exibindo a premiada Ovrebust

A minha segunda parada foi no stand da cervejaria Thirsty Hawks, de Niterói-RJ. O objetivo era provar a Ovrebust, umas das medalhistas de ouro do Mondial de La Bière Rio 2019. Trata-se de uma Juicy IPA razoavelmente alcoólica (6,7% ABV) e médio amargor (40 IBU), feita com uma das leveduras do momento, a Kveik. “A gente fica sempre atento às novas tendências e demandas. Com a receita da Ovrebrust, procuramos inovar no âmbito das New England usando a levedura Kveik, típica da Noruega. Na época dos testes era mais difícil de acha-la, mas aí com o tempo a gente conseguiu encontrar um volume que permitia produzir em larga escala”, disse Lucas Schuabb, um dos cervejeiros da Thirsty Hawks. Lucas revelou um aspecto inusitado: “a gente publicou uma foto da Ovrebust em nossa conta no Instagram. Aí apareceu uma família cervejeira norueguesa com o mesmo nome fazendo contato com a gente, querendo provar a nossa receita. Vamos mandar algumas Ovrebust para eles!”.

Fernando Cabaleiro, cervejeiro na BrewLab.

Outra cervejaria que vistei neste ano foi BrewLab, também de Niterói, que carrega em si um forte caráter experimental; prova disto é a sua série de New England Pale Ale chamada Haze Baze, estilo semelhante porém menos alcoólico e com menos amargor que as NEIPA. “Lançamos uma base para esta cerveja, produzimos 1.500 litros e criamos uma série de rótulos fazendo experimentações com adjuntos – manga, framboesa, côco etc. Foi uma estratégia para conseguir criar 6 cervejas diferentes usando a mesma produção”, revelou o cervejeiro da BrewLab, Fernando Cabaleiro.

Com o amigo Fabrizio Ruiz, cervejeiro da Farra Bier.

Não poderia deixar de visitar o stand da Cervejaria Farra Bier, um das minhas preferidas e que funciona na cidade do Rio de Janeiro. Provei a novidade El Colacho, uma Sour IPA bem alcoólica (8% ABV) e com médio amargor (55 IBU), que traz notas cítricas típicas do estilo Sour. Pude degustar ainda nas torneiras da Farra outras criações do cervejeiro Fabrízio Ruiz, como a NEIPA Holi, um dos meus rótulos preferidos.

Durante esta passagem pelo Mondial de Biére Rio 2019, visitei ainda o stand da cervejaria Overhop, onde experimentei outro rotulo vencedor da medalha de ouro, a Gravioh-la-la, uma Catharina Sour com adição de graviola. Passei ainda pelo stand da Three Monkeys, que também faturou a medalha de ouro com a Sour Ale “I´m Sour Baby”; entretanto, meu desejo foi matar a saudade de dois rótulos que aprecio bastante: a NE APA Galaxy Detox e a Strawberry Milk Way IPA, com lactose e morango.

Outro stand visitado foi o da cervejaria mineira Capa Preta, uma das minhas preferidas, onde provei mais uma vez a deliciosa NE IPA Pina Colada. Este rótulo utiliza a mesma base da Euphoria Juicy, mas só pode ser encontrada nas torneiras da TapRoom da Capa Preta em Belo Horizonte. Por fim, visitei o stand Du Pappi, do meu amigo Luiz Coqueiro, filho do mestre cervejeiro Laert Coqueiro, criador das Gotinhas Du Pappi. Luiz me apresentou seu lançamento: uma versão das gotinhas Du Pappi com aroma de Maracujá.

Infelizmente, como já disse, não deu para provar todos as cervejas em um só dia no Mondial, mas consegui encontrar todos os rótulos que pretendia. A única nota particularmente triste no Mondial de La Biére Rio 2019 foi a ausência de cervejarias do Nordeste do Brasil; ano passado, havia apenas a Ekaut, de Pernambuco, representando as cervejarias nordestinas. Neste ano, não encontrei uma sequer. Que venha o Mondial de La Bière Rio 2020 !

Especial de férias: Workshop celebra cultivo de lúpulo na região serrana do Rio

Conhecida no cenário cervejeiro nacional por abrigar grandes cervejarias industriais, como a Bohemia e a Itaipava, a região serrana do Rio de Janeiro está se destacando também pela oferta de insumos. Além da famosa qualidade da água mineral proveniente de fontes localizadas em cidades como Friburgo, Guapimirin, Petrópolis e Teresópolis, produtores da serra estão cultivando lúpulo. A ampla maioria dos cervejeiros do Brasil costuma importar este insumo de países como Estados Unidos e Inglaterra; no entanto, a partir deste ano espera-se que esse público possa adquirir lúpulos cultivados em território nacional. De olho nesta tendência, cervejeiros fluminenses realizarão nos próximos dias 26 e 27 de janeiro, no Centro Cervejeiro da Serra, na Serra do Capim, em Teresópolis – RJ, o “1o Workshop Nacional de Plantio de Lúpulo”. O evento é estruturado em uma série de apresentações que discutirão aspectos sobre o cultivo do insumo no Brasil, envolvendo temas como “Aspectos agronômicos sobre o cultivo do lúpulo”, “A importância de um bom projeto de irrigação no plantio de lúpulo”, dentre outros (confira a programação completa e perfil dos facilitadores no final da matéria). As inscrições para o evento se esgotaram em poucas horas.

“O cultivo do Lúpulo é bem recente no Brasil. As primeiras mudas foram legalizadas pela MAPA em outubro e novembro de 2018, graças ao trabalho da Tereza Yoshiko (da Lúpulos Ninkasi, o primeiro viveiro autorizado para produção e comercialização de lúpulos no Brasil). É uma cultura nova e a tropicalização da planta está sendo muito boa”, afirmou a cervejeira Ana Pampillón, uma das organizadoras do workshop. Ana atua no ramo de cultivo de lúpulo desde 2018, trabalhando para aproximar o produtor do mercado de cervejas especiais. “A ideia deste workshop surgiu após nossa legalização (como produtores de lúpulo), pois tivemos muita procura de produtores, investidores, cervejarias etc. Resolvemos então realizar um evento para expor nossas ideias de modo mais prático e eficiente, ao lado de estudiosos que pudessem complementar nosso trabalho, e também criar uma rede de relacionamento entre produtores e cervejarias”, complementou.

Alguns lúpulos importados disponíveis no Lamas, loja especializada no centro do Rio de Janeiro. Foto: Luiz Adolfo Andrade

Como é sabido, o cultivo de lúpulo se relaciona à regiões com baixa temperatura e incidência solar propícia, como a Alemanha, Inglaterra, dentre outras. Ao ser indagada sobre quais tipos de lúpulo podem ser cultivados no Brasil, Ana Pampillón foi taxativa: “Por princípio, apenas aqueles legalizados e autorizados pelo MAPA”. Na Lúpulos Ninkasi, por exemplo, a maior produção tem sido de lúpulos Cascade (confira neste video).“O aumento e diversificação na produção de lúpulos certamente irá impactar a produção de cerveja no Brasil, pois teremos o diferencial de trabalharmos mais com lúpulo fresco, aproveitando melhor as caraterísticas físicas e químicas da flor. O clima temperado pode trazer mais colheitas, ao lado do chamado “Terroir”, isto é, o aroma do lúpulo passa a ter características do que está sendo plantado por perto. Por exemplo, em uma fazenda com vocação para goiaba, os lúpulos plantados por lá terão essas notas de goiaba e assim por diante”, concluiu Ana, destacando que já existem cervejarias fazendo de forma experimental cervejas com insumos 100% nacionais. O Lupulado apurou que a Cervejaria Búzios prepara para fevereiro deste ano a brassagem das duas primeiras cervejas que serão totalmente produzidas com insumos do Brasil: a “Brasilian Pale Ale” e a “8 horas Session IPA”, a ser feita com lúpulo fresco colhido em até oito horas antes da adição.

SÁBADO (26/01)

8:00h às 9:00h – Credenciamento no Centro Cervejeiro da Serra (Serra do Capim, Teresópolis-RJ)

9:00h às 9:30h – Abertura e apresentação do workshop. (Ana Cláudia Pampillón)

9:30h   às   10:10h -A formação da Associação dos produtores de lúpulo do Brasil (APROLÚPULO). (Alexander Cruz)

10:20h às 11:00h – Principais cultivares. (Max Raffaele)

11:10h às 11:50h – Aspectos agronômicos sobre o cultivo do lúpulo. (Pablo Sotomayor)

12:00h às   12:40h – Viveiro, mudas e propagação de mudas. (Teresa Yoshiko)

12:50h às 14:50h – Almoço

15:00h às 15:30h – A importância de um bom projeto de irrigação no plantio de lúpulo. (José Hilário Cordeiro Neto)

15:40h às 16:40h – O panorama setorial cervejeiro no Brasil e perspectivas para o mercado de lúpulo. (Eduardo Fernandes Marcusso)

16:50h às 17:30h – Do Campo ao Copo – geração de valor do produto final. (Diego Gomes)

17:40h às 18:00h- Encerramento (Ana Cláudia Pampillón)

18:00h – Beer Break -Degustação na Micro

21:00h – Jantar harmonizado na fazenda com o Chef Gustavo Fonseca e o sommelier José Padilha

DOMINGO (27/01)

8:00h – Café da manhã especial

9:00h – Visita técnica na plantação de lúpulo (fazenda)

11:00h – Visita técnica no Viveiro do lúpulos Ninkasi

13:00h – Todos liberados

FACILITADORES:

EDUARDO FERNANDES MARCUSSO

Formado em Geografia pela UNESP/Campus Rio Claro, Mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela UFSCar/Campus Sorocaba e Doutorando em Geografia pela UnB, com a tese intitulada de “Os Territórios da Cerveja”, é Sommelier de cervejas pelo Instituto da Cerveja e servidor público federal do MAPA, atuando na Coordenação Geral de Vinhos e Bebidas, tendo publicados diversos estudos sobre cerveja pelo ministério e na área acadêmica.

PABLO SOTOMAYOR

Cultiva lúpulos em uma área de aproximadamente 300 metros quadrados no quintal de sua casa em Brasília.O cultivo é orgânico e certificado pelo sistema participativo – OPAC Cerrado e vêm obtendo bons resultados de produtividade de qualidade. Algumas plantas chegam a produzir até 500g de lúpulo seco por colheita, e algumas já foram colhidas três vezes num período de 11 meses.Análises físico químicas realizadas em universidades apontam para um produto de qualidade, com homogeneidade na maturação das flores, alta concentração de ácidos alfa e de óleos essenciais. Em 2019 ampliará o cultivo para uma área de 4 mil metros quadrados.

ALEXANDER CREUZ

Formado em administração de empresas, pós graduado em marketing e finanças, técnico em agronegócio, produtor de lúpulos em Lages/SC (Lúpulos Serrana). Atual presidente de Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (APROLÚPULO)

MAX RAFFAELE

Formado na Universidade da Florida em engenharia civil e também em Biologia.Formado na Mercer College , Nova Jersey em agrimensura (topógrafo).Proprietário e presidente há 24anos da empresa A-1 Land Surveys (A1LS.com) nos EUA.Técnico em Cultivo de Lúpulo pela Universidade de Minnesota State. Técnico em Criação e Cultivo de Lúpulo no Gorst Valley Farms. Proprietário da empresa Hops Brasil com produção de Lúpulo na Lupulandia, Penha, SP. Sócio de HopSP com duas produções de lúpulo em São José de Rio Preto e Guzolandia (SP)

DIEGO GOMES

Engenheiro apaixonado pela indústria de transformação, pós graduado em gestão empresarial, defensor do crescimento da participação do setor secundário no PIB e no desenvolvimento da educação, Diego é mestre cervejeiro e malteiro formado pela Doemens Akademie na Alemanha. Iniciou sua jornada em cervejaria em janeiro 2002 atuando desde estagiário de manutenção a diretor industrial do Grupo Petrópolis. Atualmente é responsável pelo planejamento da estratégia das áreas de transformação do GP, liderando os executivos envolvidos pela construção da filosofia do “campo” ao “copo” dentro do Grupo Petrópolis.

TERESA YOSHIKO

Técnica em agropecuária formada pela UFF, atua há 26 anos na área agrícola. Proprietária do viveiro Ninkasi que tem capacidade de propagação de 10.000 mudas de lúpulo mensais, e o primeiro viveiro com certificado de registro para o cultivo de lúpulo no Brasil.

JOSÉ HILÁRIO CORDEIRO NETO

Técnico Agrícola formado pela Escola Técnica Federal de Rio Pomba em 2002. Curso de projetos e equipamento para irrigação Rain Bird em 2007.Trabalha com Irrigação desde 2004. (IRRIGAR SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO)

JOSÉ PADILHA

Sommelier de cervejas pela Doemens Akademie e Mestre em Estilos pelo Siebel Institute. Consultor de cervejarias, docente da Escola Superior de Cerveja e Malte, expert em cerveja da rede Zona Sul, apresentador da coluna Carta de Cerveja da Band News, head sommelier do The Beer Planet e jurado de concursos nacionais e internacionais.

GUSTAVO FONSECA

Carioca, cozinheiro com 12 anos de experiência, já trabalhou com chefs como Alex Atala, no premiado D.O.M..Formou-se em gastronomia em Buenos Aires, período em que trabalhou com cozinheiros de todo o mundo, adquirindo e trocando experiências com grandes profissionais.Hoje se dedica a seu trabalho autoral em menus degustação para eventos e restaurantes, além de produção e conteúdo de gastronomia para fotografia e televisão, como o “Perto do Fogo”, do chef Felipe Bronze para o canal GNT.

ANA CLÁUDIA PAMPILLÓN

Sommelier de cervejas pelo Instituto da Cerveja (ICB), cervejeira artesanal, turismóloga e coordenadora da Rota Cervejeira RJ. Atuante no mercado de cultivo do lúpulo desde o início de 2018 com o objetivo de aproximar o produtor de lúpulo ao mercado de cervejas especiais.

Mondial de La Bière 2018

Na semana passada aconteceu no Rio de Janeiro a sexta edição do Mondial de La Bière, considerado o maior evento cervejeiro do Brasil. Entre os dias 05 e 09 de setembro, o complexo de armazéns do Pier Mauá, na zona portuária da capital fluminense, recebeu mais de 160 cervejarias do Brasil e do exterior, como a famosa Goose Island, que disponibilizaram cerca de 1.500 rótulos de diferentes estilos. O Mondial de la Bière é um festival internacional de cervejas artesanais que começou há 25 edições no Canadá. No Brasil, o evento acontece no Rio de Janeiro desde 2013 e foi realizado pela primeira vez em São Paulo neste ano.

Visual no interior do Pier Mauá, no primeiro dia do Mondial de La Bière.Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Fila para entrar no quarto dia do festival. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Além das cervejas servidas em torneiras e garrafas, 25 food truck ofereceram opções para harmonização e cerca de 30 bandas foram encarregadas de fazer som em dois palcos montados no evento. A organização divulgou no site oficial do Mondial que a expectativa de público girava em torno de sessenta mil pessoas durante o evento; entretanto o número oficial ainda não foi divulgado pelos organizadores. Em alguns dias o público foi maior, por exemplo no sábado (08), quando os ingressos esgotaram na semana anterior ao festival.

Armazém 4 no primeiro dia do Mondial de la Bière. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Stand da cervejaria Antuérpia (MG) no Armazém 3: Grande vencedora do evento. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Stand da cervejaria Overhop de Angra dos Reis (RJ) no Armazém 3. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

O jornalista carioca Rafael Fernandes, 41, que esteve em quatro das seis edições do Mondial de La Bière no Rio, destacou: “de modo geral, o evento é muito bom, os expositores são muito atenciosos e sempre solícitos para explicar os rótulos e estilos; o problema é que eles não costumam dar provas das cervejas; poderiam até aumentar um pouco o preço da cerveja, mas servir uma prova para ajudar na escolha do que beber”.

Cerveja Névoa, New England Pale Ale da cervejaria Antuérpia – MG. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Rafael percebeu ainda melhorias no serviço médico e nas disposição de banheiros, especialmente os masculinos, o que considera ser importante especialmente em um festival de cervejas. Por outro lado, ele acredita que o Mondial está deixando de ser um evento cervejeiro para tornar-se algo mais cosmopolita. “Antes, por exemplo, tocavam música alemã; hoje toca só música pop. Acho legal, mas um evento assim poderia usar características e coisas mais típicas do universo cervejeiro ”, concluiu.

Torneiras características do stand da Overhop (RJ). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Beer truck da cervejaria CapaPreta (MG) no Armazém 3 do Mondial de La Bière. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

Disputa entre cervejarias

Um dos momentos mais aguardados do Mondial da La Bière é o MBeer Contest Brazil, competição para indicar a melhor cerveja do evento (medalha de platina) e outras cervejas que se destacaram das demais (medalha de outro). Neste ano, 376 rótulos concorreram às medalhas, sendo avaliados previamente por uma comissão de 11 jurados. A principal novidade no concurso de 2018 foi anunciar os vencedores ao final do primeiro dia do evento, permitindo que o público soubesse desses rótulos logo de início.

A grande vencedora desta edição do evento foi a Nikita Cherry Hickey, uma Imperial Stout da Cervejaria Antuérpia (MG). João Cléber, cervejeiro na Antuérpia, contou um pouco mais sobre o rótulo premiado.

Na tabela a seguir, confira as outras 12 cervejas premiadas com medalha de ouro na sexta edição do Mondial de lá Bière. Um fato que chama atenção é a presença do estilo Catharina Sour, com quatro rótulos, entre os medalhistas de ouro. A estes, acrescenta-se outros rótulos na linha sour, isto é, cervejas com um paladar mais azedo (ácido), que muitas vezes trazem adição de frutas cítricas e apresentam como característica principal o uso de leveduras selvagens, aquelas que se encontram livres pelo ambiente,  por exemplo as Brettanomyces.

Rótulo Cervejaria Estilo
Treta Cervejaria Suburbana Berliner Weiss
Roter Brauhof Roter Sour Ale Sour Ale
Gravioh lala Overhop Catharina Sour
Aternum Overhop Americam Imperial Stout
Catharina Sour Goiaba Mistura Clássica Catharina Sour
Gone Mad Wonderland Brewery American IPA
Brewer’s Cut Dádiva American Sour
Guanabara Wood Aged Colorado Imperiam Russian Stout
Saboya Cerveja Matisse Catharina Sour
Thirsty Harks Farm Brewery Wood Gin Barrel Aged Ginga de La boe Sour Ale
Regina Sour Framboesa Bodebrown Berliner Weiss
Cacau IPA Wood Age Bodebrown American IPA
#2anos Farra Bier Catharina Sour

A cervejeira Anna Lewis , da medalhista de ouro Wonderland Brewery, participou pela primeira vez como expositora do Mondial de La Bière. Anna nasceu na Sibéria e foi morar no Estados Unidos, onde casou-se com Chad Lewis que também é sócio da Wonderland. Conheceram um cervejeiro carioca, Pedro Fraga, que apresentou-lhes o mercado brasileiro. “Nos inspiramos muito na cultura cervejeira norte americana e procuramos utilizar este conhecimento nas receitas que desenvolvemos. Pedro é uma ótima pessoa, tornou-se nosso parceiro na Wonderland. Ele deu um toque especial nas nossas receitas, tornando-as ainda mais interessantes”, disse Anna, que mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro em abril.

Anna Lewis cervejeira na Wonderlan Brewery (RJ). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

A cerveja premiada da Wonderland, Gone Mad, é uma American IPA com 4 tipos de lúpulos, que segundo Lewis pode criar uma harmonização especial com ostras e frutos do mar, além de harmonizar tradicionalmente com burgers.

Gone Mad, cerveja medalha de ouro da Wonderland Brewery (RJ).Foto: Luiz Adolfo Andrade.

O nordeste do Brasil foi representado na sexta edição do Mondial de La Bière pela cervejaria pernambucana Ekäut. Além das sua cervejas tradicionais como a Munich Helles e a American IPA, a cervejaria brindou o público com dois lançamentos: a Sour de Cajá e a Ris Bolo de Rolo.

Davidson Dias, cervejeiro na Ekaut (PE). Foto: Luiz Adolfo Andrade.

“As cervejarias nordestinas estão fazendo sucesso e a gente precisa se inserir no mercado do sul e sudeste; o nordeste está se tornando referência em como fazer cerveja e precisamos mostrar isso aqui”, disse o cervejeiro da Ekäut Davison Dias, que participa do Mondial pelo segundo ano consecutivo.

Alguns goles com Ruiz

“O nosso foco é fazer uma experiência maneira para todos que estão na Farra, seja consumidor, seja colaborador, seja fornecedor. E assim a gente vai levando”. Esta frase pertence ao cervejeiro da Farra Bier, Fabrizio Ruiz, e foi usada para ilustrar o astral percebido no staff da cervejaria durante os trabalhos no Mondial de La Bière. Publicitário com MBA em Finanças, Investimento e Risco pela FGV, Fabrizio tem 38 anos e trocou a rotina de quase duas décadas trabalhando em um banco pela vida como empreendedor e cervejeiro na Farra Bier. A cervejaria foi outra medalhista de ouro na sexta edição do Mondial de Lá Bière com a Catharina Sour #2. “Meus colaboradores precisam se sentir felizes, acordar de manhã e sair felizes para um dia de trabalho. Quem está ali tem que estar feliz com que está fazendo; na Farra tudo é com muito amor e paixão. O objetivo maior não é reduzir custos de produção nem ganhar mercado”, disse o cervejeiro. Partindo desta premissa, Ruiz concedeu entrevista ao Lupulado após experimentarmos alguns de seus rótulos.

Fabrizio Ruiz, cervejeiro e fundador da Farra Bier (RJ), exibe a premiada #2anos. Foto: Luiz Adolfo Andrade

Lupulado: Quantas edições do Mondial de La Biére a Farra Bier já participou?

Fabrizio Ruiz: A primeira vez que participamos foi em 2016, tínhamos um mês de fundação e apenas um rótulo, a “All in IPA”. Não tínhamos stand no evento, éramos uma apenas uma torneira dentro do stand de uma cervejaria parceira. Na edição de 2017, fomos com stand próprio e 6 torneiras. Ganhamos nossa primeira medalha de ouro. Em 2018, dobramos o tamanho de nosso stand e número de 12 torneiras. Faturamos a nossa segunda medalha de ouro.

Lupulado: Qual a razão do nome Farra bier?

Fabrizio Ruiz: Farra tem tudo a ver com cerveja, amigos, momentos… e é isso que proporcionamos! Não vendemos cerveja, proporcionamos uma experiência: Isso é Farra!

Carta de cervejas da Farra Bier no Mondial de la Bière. No copo, a Pool Party, outro excelente rótulo da Farra Bier. Foto: Luiz Adolfo Andrade

 

Lupulado: Seu foco é o mercado cervejeiro do Rio de Janeiro ou pretende comercializar os rótulos da Farra em outros estados, especialmente os do Nordeste?

Fabrizio Ruiz: Não há um foco no mercado do Rio. Estamos trabalhando pra ampliar nossa distribuição. Nossa cervejaria tem 2 anos e aos poucos estamos aplicando nossa capilaridade. O nordeste é uma das regiões que pretendemos focar e 2019 será possível encontrar Farra por lá.

Lupulado: Pode comentar um pouco sobre sua cerveja premiada, a #2anos?

Fabrizio Ruiz: A #2anos é uma Catharina Sour com tangerina e adição de brettanomyces, envelhecida em barril de carvalho, que foi utilizado em outro momento para maturação de vinho Chardonnay. O resultado é uma cerveja seca, frisante, bem refrescante, ácida, com notas de tangerina, abacaxi, uva verde, remetendo muito ao vinho branco e à champanhe.

Fábrica da Farra Bier em Guapimirim – RJ. Fonte: Fabrizio Ruiz.

Lupulado: O que você acha de associações como as ACerVa? Você considera importante que os cervejeiros se associem a estes coletivos?

Fabrizio Ruiz: Tenho cinco anos de filiação à AcervA Carioca. É muito importante ser associado quando o cervejeiro produz cerveja caseira, mas perde um pouco de relevância quando se passa a ser cervejaria comercial. Contribui para o fortalecimento da cultura cervejeira sim, mas pra defesa do setor não até porque não é o objetivo desse coletivo. Por isso, aqui no Rio fundamos em 2017 a AMACERVA, cujo objetivo é defender e melhorar a cena artesanal Carioca. Os associados são as cervejarias.

Lupulado: Na sua opinião, qual maior obstáculo para quem produz cerveja no Brasil?

Fabrizio Ruiz: Sem dúvida são os impostos. A maioria dos produtos é importada e a carga tributária deixa esses itens muito caros. Além disso, existem impostos após a produção, o que encarece o produto final, dificultando a penetração no mercado local. Fora do Estado, ainda incidem outros impostos, como ICMS-ST, que majora significativamente o valor da nota, praticamente inviabilizando a venda.

Lupulado: Como você enxerga o embate entre cervejarias industriais x cervejarias artesanais? Depois de cervejaria artesanal ser o ramo que mais cresceu no Brasil em 2015, segundo o SEBRAE, você acha que a indústria retomou a força em função de exigências por parte da Anvisa, como as certidões?

Fabrizio Ruiz: Na verdade, acho que estes termos (industrial e artesanal) não fazem mais tanto sentido uma vez que, para ser vendida em lojas, toda cerveja tem que ser industrial; aqui no Rio não há venda de cerveja que não seja produzida em uma fábrica certificada pelo MAPA. A diferença entre cervejarias artesanal e industrial, no meu ponto de vista, está no volume e no resultado final do produto. Particularmente acho que são produtos pra nichos diferentes de mercado e irão coexistir sempre, como em qualquer lugar do mundo. Cabe ao consumidor escolher o que cabe ao seu paladar e no bolso.

Lupulado: Para finalizar, você poderia comentar brevemente sobre sua história profissional; por que decidiu abrir mão do cargo de analista sênior em um banco público para empreender no ramo de cervejas artesanais?

Fabrizio Ruiz: Passei no concurso do banco com 19 anos e trabalhei lá por quase duas décadas. Consegui estruturar a minha saída pra tocar algo que me apaixona, que me motiva, que faz sentido para minha vida. É uma questão de perfil: Sempre gostei de empreender. Sou tomador de risco, não gosto de rotinas e tenho disposição pra enfrentar as adversidades do mundo empresarial. Hoje sou sócio da Farra Bier; produzindo cerveja, participo direta e indiretamente de momentos felizes das pessoas e isso é muito gratificante para mim. Aproveito pra deixar um recado para os leitores do Lupulado: A plenitude da vida está em ela fazer sentido, não importa o que você faça.