Bloco mistura frevo, folia e cerveja artesanal nas ruas de Petrolina

O movimento cervejeiro do Vale do São Francisco ganhará mais uma expansão na próxima semana. No sábado (16/2) acontecerá o primeiro desfile do bloco “Tu Weiss Cair na Minha IPA”, organizado pela Associação dos Cervejeiros Artesanais de Pernambuco (ACervA-PE), núcleo do Sertão. A festa começa às 15h em frente a Cervejaria & Petiscaria Biére, na rua Lucas Roberto de Araújo, próximo ao Condomínio Sol Nascente em Petrolina. O bloco irá realizar o percurso até a pracinha, na mesma rua, onde permacerá por alguns minutos até retornar ao ponto da concentração.  “No total, teremos quase seis horas de som, divididas entre DJ e a apresentação da Orquestra Frevo do Bolinha (veja video abaixo), ambos tocando ritmos como frevo, axé, marchinha e outras canções do carnaval de rua”, disse o cervejeiro Igor Veras Silani, um dos organizadores do evento.

Para matar a sede dos foliões, doze cervejarias artesanais confirmaram presença nas torneiras do bloco: Maribondo Sam, Na Tora, GALK, Buquê de Mandacaru, Puro Is Malte, Quimera, Vale Brewer, Família Sabores, Seu Quincas, Doutorado do Chopp, Haus Bier, além da própria ACervA – PE. O repertório varia desde estilos mais leves, como Weiss e Witbier, aos mais encorpados, como Imperial IPA, Porter e Stout. O bloco funcionará no sistema de “torneiras abertas”, distribuindo mais de 500 litros de chopp para os participantes. “Nosso intuito é sempre difundir o movimento cervejeiro. Desta vez, vamos procurar trazer as origens do frevo e do carnaval de rua de Pernambuco, associadas ao movimento cervejeiro artesanal, que em Petrolina ainda é novo. Este é o primeiro ano que estamos fazendo um bloco temático de cerveja artesanal aqui na cidade.”, explicou Igor, destacando o sentido do nome “Queda 1” usado pelos organizadores para se referir à primeira edição do bloco. “A ideia é que existam outras ‘Quedas’ a partir desta ‘Queda 1,. A depender do resultado desse projeto, quem sabe não repetimos em breve”, complementou o cervejeiro.

 

Os cervejeiros Guilherme (à esquerda), Cecília Vasconcellos, Waldner Maribondo, Vânia Sampaio e Igor Silani reunidos na organização do Bloco.

Um aspecto que chamou a atenção foi a localização no espaço público escolhida para o desfile do bloco. Naquela vizinhança, funciona até hojen a Biére, que há mais de 5 anos foi estabelecido como um dos primeiros redutos dos cervejeiros artesanais do Vale do São Francisco. “Cerca de três anos atrás houve uma festa de carnaval lá que foi bem bacana e sempre tivemos desejo de repetir. Daí pela disponibilidade e amizade que temos com o pessoal da Biére, escolhemos usar aquele espaço novamente para fazer a Queda 1 do ‘Tu Weiss Cair na Minha IPA’”, disse outra organizadora do bloco, a cervejeira Maria Cecília Vasconcellos.

Os ingressos para o bloco “Tu Weiss Cair na Minha IPA” custam R$80,00 e podem ser adquiridos através do link ou em pontos de venda como o Rock Dog., Doutorado do Chopp e na Biére. Para se servir à vontade de chopp artesanal durante o bloco, o folião ganhará camisa, tirante e caneca customizados para o evento.

 

 

Oktober Fest no Vale do São Francisco

A HausBier promoverá a quarta edição do Oktober Fest nos dias 20 e 21 deste mês em Petrolina – PE. Situada no centro da cidade, bem na margem do Rio são Francisco, a conhecida microcervejaria promete uma festa que combinará elementos culturais do sertão, como gastronomia e estilos de cerveja artesanal, à proposta do tradicional evento iniciado em Munique, na Alemanha, há mais de dois séculos atrás.

Projeto do lounge e stands das cervejarias para o Oktober Fest 2018 na HausBier. Fonte: Ubiratan Rios

Na edição de 2018, o cervejeiro poderá encontrar os tradicionais estilos da HausBier, como Pilsen, Lager e Schwarzbier, além da criação mais recente: o chopp American Lager. Paralelamente à esta oferta, outras cervejarias locais também disponibilizarão seus rótulos no evento, dentre elas a NaTora HmB, Maribondo Sam, Quimera, Vale Brewer, e Number´s Beer. Para harmonização, opções regionais e outros pratos recentemente inaugurados no cardápio da casa. “O evento proporcionou uma inovação na cena cervejeira do Vale do São Francisco, trazendo desde 2015 sabores e aromas tradicionais de uma festa alemã para a região. Além disso, ajudamos também no crescimento das cervejarias artesanais locais, que irão oferecer suas cervejas no evento”, disse o cervejeiro da HausBier Ubiratan Rios.

Chopp American Lager: Criação mais recente da Hausbier. Foto: Luiz Adolfo Andrade.

O cervejeiro da Maribondo Sam, Felipe Zoby, destacou que este tipo de evento incentiva o consumo e a produção de cerveja no Vale do São Francisco. “A Oktober Fest só tem a engrandecer o nosso sertão, pois traz para público novos estilos de cerveja ainda pouco difundidos aqui no Vale, ao mesmo tempo em que propaga a tão cultuada festa alemã, regada com bastante comida típica e muita cerveja artesanal”, afirmou. Zoby também enfatizou a parceria de outras cervejarias locais com a HausBier: “A HausBier sempre se manteve parceira e atenta aos anseios dos cervejeiros caseiros, incentivando nossa produção e nos apoiando nesses eventos”. A Maribondo Sam tem um ano de fundação e irá debutar no Oktober Fest 2018 com as cervejas Maribondo American Pale Ale e a Maribondo American India Pale Ale. Outras cervejarias locais, que já foram pauta no Lupulado, também irão participar; é o caso da NaTora HmB, com torneiras da Demônia (Brown IPA) e da Chacrett (Witbier) e da Quimera, trazendo a Camaleoa (APA) e Beer o’ Clock (ESB).

Projeto dos palcos para as atrações do Oktober Fest 2018. Fonte Ubiratan Rios.

A quarta edição do Okctober Fest da HausBier começa às 13 h do próximo sábado (20/10) e se estende até o domingo (21/10). A entrada é gratuita com cobrança de couvert destinada aos artistas da região que irão de apresentar (confira a programação aqui). O publico poderá comprar as cervejas através de fichas vendidas no evento, além de poder adquirir também o copo personalizado. A infraestrutura que está sendo montada na microcervejaria HausBier foi projetada para criar um ambiente agradável e diversificado com stands para as cervejarias, palco para shows, sofás, parque infantil e espaço gourmet.

Como ficará o espaço na HausBier durante o Oktober Fest 2018. Fonte: Ubiratan Rios.

De frente para Frankenstein

A Cerveja do Mês de outubro escolhida pelo Lupulado é a Frankenstein, uma special bitter com erva mate e camomila que carrega em si características interessantes para climas quentes como o do Vale do São Francisco. Elaborada no início deste ano, a receita é criação da Quimera, cervejaria caseira localizada em Petrolina – PE. O cervejeiro da Quimera , Tiago Oliveira, contou que o processo de criação da Frankenstein partiu de um acontecimento inusitado: “Sem querer, um colega cervejeiro moeu de uma vez só os maltes pedidos para duas receitas diferentes. Como não teria o que fazer com estes insumos, ele os ofereceu em nosso network para quem quisesse aproveitar e eu aceitei. No momento em que parei para analisar o material, percebi que eram maltes de receitas bem discrepantes. Assim, precisei pensar numa solução para casar esses maltes misturados em uma receita que fizesse sentido; em seguida, adicionei maltes de finalização para arredondar o sabor, completando com leveduras e lúpulos ingleses”, disse Tiago, justificando que esta é a razão para o nome “Frankenstein”. Semelhante ao personagem icônico da ficção científica, a cerveja surgiu de maneira totalmente experimental, envolvendo aproveitamento de insumos pré-estabelecidos aleatoriamente, por acidente, somado à aplicação de conceitos e ajustes de acordo com as convicções do cervejeiro durante a brassagem.

Tiago revelou alguns dilemas encontrados ao longo do processo de criação da Frankenstein: “O grande desafio foi fazer uma previsão da quantidade de amargor que o mate iria adicionar, para poder compensar nos lúpulos. O cuidado principal não foi nem pela camomila, mas por conta do mate, que costuma dar amargor. Existem receitas, por exemplo, que utilizam mate e outras ervas como forma de aumentar o amargor. A camomila foi mais sutil; porém eu precisei reduzir no amargor dos lúpulos para que o mate, quando entrasse na mistura, não ficasse amargo demais para quantidade de malte que tinha no material que aproveitamos.

Analisando a criação

O primeiro contato do Lupulado com a Frankenstein aconteceu no Encontro de Cervejeiros do Vale do São Francisco, realizado em 28 de julho deste ano em Petrolina – veja cobertura do evento no Lupulado. Na ocasião, experimentamos a cerveja em barril através das torneiras no stand da Quimera. Nesta semana, realizamos análise sensorial provando a cerva engarrafada. Esta versão da Frankeinstein possui corpo levemente opaco e sem resíduos, com 38 de IBU e 4,9% de ABV (a embarrilhada que foi servida no Festival de Julho apresentou 4,5%). Bela coloração puxada para o âmbar, que remete à outras bebidas com as mesmas ervas usadas na cerveja, como chá gelado de mate e o chá de camomila.

A espuma branca se forma gradativamente através bolhas finas, criando colarinho de tamanho médio que que retém satisfatoriamente um aroma bem distribuído entre erva mate e camomila. O paladar também é bastante equilibrado, combinando gosto mais suave ao amargor médio típico das cervejas estilo special bitter, apresentando notas bem perceptíveis que carregam a essência levemente doce da erva mate e da camomila. Segundo Tiago Oliveira, a ideia de acrescentar mate à mistura surgiu como forma de “abrasileirar” a receita. “A gente buscou o que poderia usar de ingrediente extra para deixar a cerveja ainda mais diversa; já tínhamos lúpulos ingleses, alguns americanos, aí acabamos adicionando uma característica nossa. O resultado ficou como nós planejamos: Uma cerveja extremamente refrescante cujo gosto lembra as bebidas com erva mate, como o Tereré do sul do país e os mates gelados do Rio de Janeiro.

Para efeito de comparação entre a Frankenstein na torneira e a engarrafada, a versão experimentada no encontro em julho apresentou um corpo mais claro, carbonatação mais baixa e maior presença no paladar da erva mate do que a camomila. Tiago explicou: “Eu acho que mudou mesmo um pouco na carbonatação. A cerveja de barril, com carbonatação forçada, fica mais aveludada, mais cremosa. Forma-se assim uma espuma mais grossa, que retém mais aroma. Na versão de barril, o aroma vem disfarçado embaixo da espuma. Na hora de engolir, talvez essa discrepância entre sabor e aroma fique mais perceptível; isto justifica o  sabor do mate ser sentido somente no final do gole, porque o aroma estava presente, porém encoberto na espuma. Fora isso, fizemos um pequeno ajuste diminuindo a quantidade do mate na receita original, a partir do feedback no Festival em junho; na segunda leva, usamos um pouco menos de mate para produzir a mesma cerveja”. O resultado final, tanto na garrafa quanto na torneira, revelou uma cerveja com baixo teor alcoólico, saborosa e bem refrescante, ideal para regiões de clima quente.

Stand da Quimera com torneira da Frankenstein,no Encontro de Cervejeiros do Vale do São Francisco.

Como sugestão para harmonização, Tiago recomendou aquilo que geralmente combina com cervejas estilo bitter: carnes assadas e comidas bem temperadas como as culinárias árabe e turca, além pratos com kebab e coelho. Inicialmente, na época do festival, a Frankenstein foi pensada para ser tiragem única. “Mas isto foi o pensamento inicial. Em seguida, produzi outra tiragem em garrafas, das quais eu ainda tenho algumas unidades para oferecer. Se houver demanda, obviamente eu posso replicar a receita e produzir algumas cervejas sob encomenda”, finalizou Tiago.

Texto e fotos: Luiz Adolfo Andrade