Libras, acessibilidade e cerveja artesanal

Professor Marcos Oliveira idealizador do projeto, com o exemplar feito pela Cervejaria Avós (SP). Fonte: Arquivo Marcos Oliveira

Lançado em junho deste ano, o projeto Experiência dos Sentidos tem como objetivo contribuir para acessibilidade em Libras das pessoas Surdas ao universo cervejeiro. A ação foi criada pelo professor Marcos Oliveira e reúne, até o momento, cerca de 30 cervejarias artesanais. Parte do valor arrecadado com a venda das cervejas que integram esse projeto será utilizada para financiar estudos de pessoas Surdas. “Sou professor com formação em Letras, mas optei em continuar atuando como Tradutor/Intérprete de Libras no ensino superior, de forma efetiva, na Universidade Federal de Uberlândia-MG. Minha relação com a comunidade Surda é desde muito cedo pois, tenho um primo Surdo fluente em Libras. Por mais de 18 anos trabalhei em um projeto voluntário diretamente com a comunidade Surda”, explicou Marcos.  “O projeto Experiência dos Sentidos surgiu da ideia de divulgar a Língua de Sinais e a Cultura Surda no contexto cervejeiro e, também, criar fundos que serão revertidos em bolsas de estudos para alunos Surdos em escolas cervejeiras profissionalizantes”, complementou o professor.

Marcos e a Língua de Sinais. Fonte: Arquivo Marcos Oliveira

As cervejas em latas e garrafas que participam do projeto Experiência dos Sentidos utilizam um rótulo em comum, que foi criado pelo designer Leonardo Carvalho. A arte representa em Libras os quatro insumos utilizados na produção de cerveja: Água, Malte, Levedura e Lúpulo. Além disso, cada recipiente traz um QRCode que direciona para um vídeo com informações em Libras sobre a cerveja. Marcos explica que este projeto contempla apenas cervejarias artesanais “Queremos chegar às grandes cervejarias de outra forma, isto é, demonstrando que há um enorme público de consumidores que ainda não são inseridos linguisticamente por estas corporações. Defendo que o direito linguístico, ou seja, o pleno usufruto da Língua Brasileira de Sinais, seja respeitado em qualquer contexto social”.

NEIPA criada pela Cervejaria Spartacus (MG) para o projeto Experiência dos Sentidos.

Em Salvador, pode-se encontrar rótulos do projeto Experiência dos Sentidos nas lojas especializadas Vitrine da Cerveja e Cerveja Salvador. Cervejarias interessadas em participar do projeto podem entrar em contato pelo e-mail interlibras@icloud.com. “Nossa meta é dar oportunidades para que a comunidade Surda possa, quem sabe, ter no futuro, outro campo de trabalho, onde Surdos possam ter seus próprios estabelecimentos, suas cervejarias e educação de qualidade e acessível na área cervejeira”, finalizou Marcos.

Sour Ale criada pela cervejaria Vintage (RS) para o projeto Experiência dos Sentidos.

 

O sabor que veio do sul: Em tempos de liberdade restrita, beba Freedom

#DiárioDaQuarentena #Covid-19

Liberdade é um desejo hipodérmico do ser humano e também um direito garantido por lei no Brasil. Infelizmente, nas últimas semanas, a nossa liberdade tem sofrido restrições por conta da pandemia da COVID-19. Para amenizar um pouco meu isolamento social, resolvi escrever sobre uma das minhas cervejas preferidas e que traz “liberdade” no nome: Freedom, que significa liberdade em inglês.

A Freedom é uma American India Pale Ale produzida pela cervejaria gaúcha Vintage Craft Beer, situada em Porto Alegre – RS.  Por outro lado, o nome da cerveja faz uma referência ao rock. “Aqui na empresa só toca rock and roll; e dos mais antigos, como Creedence, Johnny Cash e o maior guitarrista de todos os tempos: Jimi Hendrix. No caso da nossa cerveja, Freedom é uma homenagem à música que Jimi Hendrix escreveu e gravou poucos meses antes de morrer”, explicou Eduardo, cervejeiro da Vintage.

Growler com Freedom, American IPA da Vintage Craft Beer.

Esta cerveja chama atenção por diversos aspectos. Primeiro, pela facilidade com pode ser encontrada em Salvador; segundo, pelo seu preço, bem em conta em comparação à outras cervejas que veem de longe. Por exemplo, a lata de 473ml custa entre 25-28 reais nas lojas online Cerveja Salvador e Vitrine da Cerveja, que também vende o litro do chope Freedom por 45 reais. (Nota: não custa lembrar que ambos os estabelecimentos estão operando com delivery de cerveja e chopp nestes dias de quarentena!). “É a cerveja mais vendida da loja. Posso te dizer que é nossa torneira fixa”, disse o diretor comercial da Vitrine da Cerveja, Claiton Santos, lembrando que, certa vez ,a Freedom foi embarrilada na terça-feira, em Porto Alegre, e no sábado as/os clientes já estavam provando a cerveja, na loja, em Salvador. “Ficamos muitos felizes em saber que a cerva tem boa aceitação aí em Salvador. O fato do chope chegar sempre fresco é também mérito da loja, pois sempre que um lote está ficando pronto ela já compra em boa quantidade”, disse Eduardo. Já diretor comercial da loja Cerveja Salvador, Alex Pires, destacou a presteza no atendimento do pessoal da cervejaria Vintage. “Eles foram muito atenciosos com a gente e entregaram o pedido com agilidade considerável. A Vintage foi destaque do nosso Clube, em março, com a Freedom integrando a seleção de rótulos do mês passado”, destacou Alex.

Lata com Freedom da Vintage Craft Beer

O terceiro aspecto que a Freedom se destaca , claro, reside na qualidade da cerveja. A prova foi feita de duas formas: primeiro degustamos a cerveja na lata para, em seguida, partir para o chope servido em growler. Em linhas gerais, a Freedom entrega aquilo que se espera de uma boa American IPA: aroma floral, bem lupulada, amarga e seca. A cerveja em lata, além do aroma floral, apresentou também notas cítricas, que não ficaram tão perceptíveis no chope. “Após o envase, as nossas latas ficam armazenadas na câmara fria até a hora do envio para o cliente, visando garantir maior frescor. Isto pode ter ocorrido porque aumentamos um pouco mais a carbonatação da cerva antes do envase, o que pode resultar em uma percepção mais ácida ou cítrica da bebida”, revelou Eduardo.

Além do aroma floral e cítrico, nas duas situações a Freedom apresentou coloração de cobre e um visual bem límpido. Na boca, uma sensação macia, corpo médio, além do amargor intenso (IBU 62) e equilibrado, combinado ao final seco característico do estilo American IPA. Teor alcoólico moderado (6,2% ABV) e, no retrogosto, além de permanecer o tradicional amargor proporcionado pelos lúpulos americanos, pode-se perceber também algumas notas florais. “Utilizamos os lúpulos Comumbus, Citra, Cascade e El Dorado. A técnica que seguimos foi a late hopping, adição tardia, isto é, toda a lupulagem foi feita nos 30 minutos finais da fervura – 30min , 20 min, 10 min , 5 min”, finalizou Eduardo.