Trapistinha do Sertão

A “Cerveja do Mês” de novembro escolhida pelo Lupulado é um dos rótulos mais interessantes produzidos no Vale do São Francisco. A Padim Cicerista é uma criação da Maribondo Sam, cervejaria artesanal localizada em Petrolina, que foi inspirada nas famosas cervejas Trapistas. “A receita foi elaborada em 2017 e a nossa intenção era de fato se aproximar o máximo possível das Trappistes Roquefort 8, que é uma das nossas preferidas. A ideia da Padim Cicerista veio exatamente por conta da impossibilidade de usar o nome Trapista; assim, criamos Cicerista para fazer uma referência ao Padre Cícero, um ícone no nordeste brasileiro”, disse o cervejeiro da Maribondo Sam Waldner Maribondo.

Padim Cicerista da Maribondo Sam (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Como é sabido, a origem do nome Trapista remonta ao ano de 1662; a expressão surgiu no mosteiro cisterciense de Nôtre-Dame de La Trappe, na França, pela mão de Armand-Jean Le Bouthillier de Rancé, fundador da Ordem Trappista ou Ordem Cisterciense. Estas cervejas, essencialmente, passam por um rígido processo de produção e controle nos mosteiros da ordem trapista. Em 1997, a International Trappist Association (ITA) foi criada para supervisionar a produção dessas cervejas; atualmente, apenas onze mosteiros no mundo, sendo seis deles localizados na Bélgica, podem produzir cervejas consideradas trapistas.

“As cervejas Trapistas são produzidas pela Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO). Podem ser brassadas apenas pelos Monges Trapistas, como se fossem uma ‘Denominação de Origem Controlada’, para fazer analogia à classificação dos vinhos. Por isso rotulamos nossa Padim Cicerista como sendo Cerveja de Abadia em vez de Trapista, pois é produzida fora das dependências de um mosteiro pertencente à OCSO. Na descrição informamos que é uma cerveja no tipo Trappist apenas para facilitar a identificação do público, visto que esta classificação é mais conhecida que a outra.”, destacou Felipe Zoby, outro cervejeiro na Maribondo Sam.

Os segredos da Padim

A análise sensorial da Padim Cicerista foi realizada em dois momentos distintos. No primeiro, provamos apenas a cerveja. No segundo, feito alguns dias depois, harmonizamos a Padim Cicerista com carne de Bode e um mix de queijos artesanais da Serra da Canastra, composto por quatro estilos: prato, parmesão, roquefort e reino. Logo após degustar a cerveja, provamos a trapista Orval para fazer uma comparação entre a cerveja da Abadia feita no semiárido brasileiro e uma clássica trapista belga.

Harmonização da Padim Cicerista com mix de queijos. (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Nesta análise, a Padim Cicerista apresentou corpo marrom opaco, espuma fina e aroma caramelado, tostado e frutado, dotado de frutas secas como passas e ameixa, além de sabor suavemente adocicado proveniente da adição de Candy Sugar. A cerveja é classificada como estilo Belgian Dark Strong Ale e possui IBU 30 e ABV 8%. “Na primeira receita, tentamos fazer nosso próprio Candy Sugar, caramelizando açúcar lentamente. Hoje, compramos Candy Sugar belga (açúcar de beterraba em forma de cristais)”, afirmou Zoby.

Harmonização da Orval com mix de queijo e carne de bode. (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

O final doce e o aroma frutado, somados ao baixo amargor de 30 IBU, fazem da Padim uma excelente pedida para regiões de clima quente como o semiárido. A carne de bode acrescentou mais um toque sertanejo ao paladar, enquanto os queijos remeteram à harmonização clássica com cervejas trapistas.

Copo com a Padim Cicerista (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

Logos após terminar a garrafa da Padim, passamos à prova da Orval, uma das trapistas mais famosas. Esta Orval apresentou o tradicional sabor seco, diferente da Padim Cicerista, e a carbonatação que lhe é peculiar, bem acima da cerveja sertaneja. Por outro lado, a coloração marrom opaco da Orval e a espuma formada por bolhas, mesmo que mais densa, criou uma relação de proximidade com a Padim. “Já dizia a velha máxima: Toda Cerveja Trapista é de Abadia, mas nem toda cerveja de Abadia é Trapista”, enfatizou Zoby. “É importante esclarecer que Abadia ou Trapista não são estilos de cerveja, mas uma denominação de acordo com a tradição cervejeira oriunda dos monastérios. A Orval, uma das melhores Trapista do mundo, é do estilo Belgian Specialty Ale, enquanto a Padim é do estilo Belgian Dark Strong Ale. Nossas referências são a Trappistes Rochefort 8 e a Chimay Blue“,finalizou.

Copo com a Orval (Foto: Luiz Adolfo Andrade)

A Maribondo Sam é uma das cervejas confirmadas para II Festival de Cerveja Artesanal do Vale do São Francisco. A Padim Cicerista, no entanto, não estará disponível no evento. Elas podem ser adquiridas sob encomenda através de direct message pelo Instagram da Maribondo Sam.

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